sábado, 31 de março de 2012

Judiciário: Após 18 anos professora acusada injustamente ainda não recebeu indenização do Estado de SP

Esse livro relata o abuso da imprensa no caso da escola de base em 1994-Imagem:reprodução

Após 18 anos, a professora Paula Milhin ainda sofre as consequências de uma acusação injusta. Ela e mais três pessoas foram acusadas de abusar sexualmente de alunos da escola onde trabalhavam, a Escola-Base. O caso aconteceu em março de 1994 e até hoje a professora não conseguiu retomar sua rotina. “Tudo mudou, hoje eu poderia estar com outro tipo de vida, a escola foi um sonho que acabou de um jeito que não dá para acabar”, conta Paula, que era uma das sócias do colégio.


O caso começou quando duas mães denunciaram a escola por acreditarem que seus filhos haviam sido abusados sexualmente. O caso ganhou repercussão nacional quando o primeiro delegado que fazia as investigações acusou sem provas os proprietários, durante uma entrevista, o que ocasionou desmoralização dos donos e o fechamento da escola. Da denúncia feita por duas mães de alunos até o fim das investigações foram cerca de quatro meses, segundo tenta se recordar Paula.


A reviravolta


Depois das acusações, tudo ficou fora do controle. “O casamento estava um pouco estremecido. E depois disso acabou de uma vez. Eu perdi praticamente tudo. A gente perde a dignidade, a moral, perde no lado financeiro”, relembra a professora, ainda abalada. Além dela, as filhas [hoje com 27 e 26 anos] também foram afetadas. “Tivemos bastante apoio da escola delas e dos professores, mas os pais das outras crianças não deixavam os filhos brincarem com elas, diziam que eram filhas de marginais e pediam para se afastarem”, relembra.


Quem conhece Paula percebe como a vida dela mudou. A professora engordou cerca de 50 quilos desde que tudo aconteceu. Sem emprego e salário, foi se afundando em dívidas. Chegou a ficar um período sem água em casa e contou com a ajuda de vizinhos e amigos até para tomar banho.
Hoje ela diz que vive para pagar as contas. “Não tenho dinheiro para sair, para me vestir, para nada. Não durmo pensando nisso e choro todos os dias”, contou, em lágrimas. Questionada sobre de onde vem a força para continuar lutando ela diz: “primeiro de Deus e depois da verdade. Quem é realmente inocente luta pela verdade. Hoje posso dizer que são as minhas últimas forças...”.


Justiça


A professora diz que atualmente não sabe como está a situação das outras vítimas. “Tínhamos um pouco de contato, mas depois cada um foi para a sua luta, ficou cada um por si. Fiquei sabendo que a Maria Shimada, que era minha prima, faleceu. Mas não soube mais nada”.
O objetivo de Paula, atualmente, é por fim a esse pesadelo. “O que eu quero e enfatizo muito é que estou precisando dessa indenização, de ajuda para poder vencer. Foi uma injustiça sim, e aí, como fica? Fica por isso mesmo?”, questiona. “Peço uma segunda chance, que nem deveria ser chamada de segunda chance, porque esse erro não é meu. Nenhum dinheiro do mundo vai pagar o que eu passei, mas vai me ajudar a tocar minha vida”, diz. “Eu estou vegetando, a minha vida é de luta, é de chorar, eu choro muito, todos os dias...”

Indenização


Depois que as investigações foram encerradas sem conseguir provar a culpa dos sócios da Escola-Base, as vítimas entraram com ação por danos morais e materiais contra o governo do Estado de São Paulo. A demora em ajuizar a ação - pois o primeiro advogado do caso disse a Paula que “não sabia como lidar com o caso” - atrasou o pagamento de indenização. Depois, com o segundo advogado, o processo também foi interrompido. O defensor morreu vítima de um infarto fulminante, o que a fez perder o prazo para ajuizar a ação.


Em dezembro de 1999, o terceiro advogado, Laércio José Loureiro dos Santos, que representa Paula até hoje, conseguiu que o governador Mário Covas assinasse um decreto renunciando a prescrição e autorizando o pagamento da indenização. Entretanto, o governo Geraldo Alckmin, que assumiu após a morte de Covas, teve um entendimento diferente do decreto e decidiu por não ressarcir as vítimas, segundo informou a assessoria de imprensa do advogado. No mês de dezembro do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou o pagamento da indenização no valor de R$ 250 mil, monetariamente corrigida e acrescida de juros moratórios. Esta é a mesma quantia já definida para os outros três donos da escola e três vítimas do caso.


Agora, a briga de Paula é para receber o valor por meio de débito administrativo, isto é, em dinheiro ou cheque, e não em precatórios, como o Estado propõe. “Com a demora em pagamentos por precatórios, ela pode nem receber este valor em vida”, explica o advogado. Ainda de acordo com Santos, não é comum o Estado fazer esse tipo de pagamento, mas há precedentes. E é isso que Paula espera que aconteça. “Eu quero receber essa indenização e reorganizar minha vida, pagar as minhas contas e ir em frente. Não adianta meu neto receber esse valor. Eu preciso que a justiça seja feita”, conclui Paula. (Band)



Fonte:site voz da Bahia

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