sábado, 7 de abril de 2012

Brasil: Cinco mortos e milhares de desalojados em Teresópolis

O casal que morava nessa casa em Sta.Cecília conseguiu escapar-Foto:reprodução

Quando os moradores de Teresópolis imaginavam ter superado o problema das chuvas de verão, as águas de abril, com uma força descomunal, mergulharam a cidade em mais uma tragédia. Entre a tarde de sexta-feira e o início da madrugada de sábado, a cidade recebeu um volume de chuva equivalente ao esperado para todo o mês. Foram 160 milímetros de chuva em apenas quatro horas, o suficiente para alagar o centro e as áreas mais baixas e causar deslizamentos em encostas. Medidas emergenciais, como as sirenes que avisam sobre a necessidade de evacuação de áreas de risco, ajudaram a evitar uma catástrofe ainda maior. Mas não foram capazes de evitar cinco mortes, um desaparecimento, 15 feridos e mais de 400 desalojados, de acordo com números divulgados pela da Defesa Civil estadual, às 11h deste sábado.


A intensidade e a forma abrupta como a tempestade castigou a cidade dificultou a reação da população. Moradora de uma encosta no Vale da Revolta, Gracieli Aparecida Santos de Resende Dutra, 25 anos, tentou deixar a casa com marido, David Dutra, 29. Os dois foram apanhados pela correnteza vinda da pedra e do alto do morro. Junto com carros, móveis, lama e pedras, os dois foram arrastados sem chance de resistência. “Vimos a morte. Não havia o que fazer. Nossa sorte foi aquela Kombi, que agarrou na curva e não deixou os outros carros passarem por cima de nós”, lembrou Gracieli, ainda traumatizada, na manhã deste sábado.


No Vale da Revolta, assim como em favelas da região, o trabalho é duro no feriado, com casas sendo lavadas, parentes procurando ajudar os mais prejudicados e todos ainda tentando saber a extensão da tragédia. A região atingida é diferente da que foi castigada em janeiro de 2011, quando cerca de mil pessoas morreram na região serrana. O centro, bairros próximos do alto e até o condomínio Granja Comary, que abriga uma sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) amanheceram contando estragos. O lago do condomínio teve as margens tingidas pela lama.


Entre os moradores, a repetição do pesadelo das chuvas deixa a certeza de que esta não é a última tragédia. Fora as sirenes de emergência, pouco existe de concreto para proteger os moradores de novos deslizamentos e mortes. Áreas como o Pimentel, onde morreu Jailson Cunha, 26 anos, são repletos de construções em regiões íngremes. Os montes de pedras, tijolos e areia indicam que aquela é uma região em franca expansão. E mesmo depois da morte do rapaz, até as 10h deste sábado o local ainda não tinha recebido a visita da defesa civil. Moradores contam que Jailson morreu ao tentar desentupir um ralo. A mulher, grávida, e os três filhos do casal estavam em um quarto, e Jailson se preparava para tomar banho. Ao perceber o alagamento na casa, ele foi até os fundos do lote, para desobstruir um entupimento. Nesse momento, desceu a avalanche de lama. A mulher do rapaz foi internada em estado de choque.

No bairro Santa Cecília, duas casas desabaram. Por sorte, as duas estavam vazias no momento da tempestade. Desde janeiro do ano passado, ninguém quer se arriscar, e mesmo sem alerta da defesa civil, todos tentam buscar um lugar seguro quando percebe que o perigo está próximo. Vizinhos dos desabamentos, Alessandro do Couto Pereira, 35 anos, e Edson de Oliveira, de 46, tiraram as famílias da região de Santa Cecília, um bairro íngreme de onde se avista parte do Alto e do centro. “A primeira coisa é garantir a segurança da família. Hoje, vim buscar alguns objetos, mas não temos condição de ficar aqui”, contou Pereira, com bolsas e utensílios que levava para a casa da mãe.


Para conter os efeitos da tempestade que interrompeu o descanso da Semana Santa, Teresópolis recebe apoio do governo do estado e da prefeitura do Rio, que forneceu equipes e máquinas da Comlurb, a companhia de limpeza urbana da capital. Outra tragédia – a da corrupção – fez com que a cidade tenha pouca capacidade de reagir sozinha a esse tipo de desastre. As verbas emergenciais liberadas logo após a catástrofe de janeiro de 2011 estavam escoando para o sumidouro da roubalheira, o que levou o Tribunal de Contas da União a bloquear as contas do município. Projetos de recuperação e a criação de planos de emergência foram sacrificados, ou tiveram que ir à frente praticamente sem recursos.


Para desespero dos moradores e comerciantes, a chuva de agora abrevia o que poderia ser um período de bom faturamento para o comércio e as pousadas da região. Mas, com medo da chuva, assim que foi liberada a rodovia que liga a cidade ao Rio de Janeiro os turistas começaram a bater em retirada. Dona de um restaurante inaugurado na quinta-feira, com três andares, área exclusiva para fondues e duas áreas para reunião de negócios, a empresária Valéria Badini não conseguiu abrir as portas na sexta-feira. No momento em que imaginava receber turistas, quem invadiu o prédio foi a água da rua, empurrada pelo movimento dos carros.


“Acabamos de montar o restaurante. Parte do forro do telhado desabou, tive estragos na câmera frigorífica e danos à parte elétrica. Ao todo perdemos cerca de 15 mil já no segundo dia de funcionamento. É duro, mas temos que limpar tudo para tentar abrir na noite deste sábado. Pelo que sabemos, as pousadas já estão ficando vazias, pois ninguém quer ficar, com medo de uma nova tempestade”, disse Valéria, que também perdeu um carro com a lama que invadiu a rua.


Fonte:revista Vejaonline/reprodução

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