"A negligência e a irresponsabilidade dos governos Trump e Bolsonaro resultaram em centenas de milhares de mortes por Covid-19 evitáveis". A análise é do historiador israelense Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers "Sapiens" e 21 "Lições para o século 21". Em artigo publicado na edição de domingo do jornal britânico Financial Times, o escritor faz um balanço deste um ano de pandemia do coronavírus e joga luz sobre os avanços científicos -- e fracassos políticos -- para indagar sobre quais são as lições que ficam para o futuro. Ao tratar do lado político deste ano pandêmico, o intelectual chama a atenção para o fato de que, sozinho, o progresso científico visto nesta pandemia, "sem precedentes", foi incapaz de conter a crise causada pela Covid-19. Estes saltos transformaram, segundo Harari, uma calamidade natural em um dilema político. "Quando a peste negra matou milhões, ninguém esperava muito dos reis e imperadores. Cerca de um terço de toda a população inglesa morreu durante a primeira onda da peste, no século XIV, mas isso não fez com que o rei Eduardo III perdesse o trono. Controlar a pandemia estava claramente além do poder do monarca, então ninguém o culpou", escreve o historiador explica que no século XIV, quando a a peste negra matou milhões, controlar a pandemia estava claramente além do poder dos monarcas e imperadores, como o rei inglês Eduardo III, cuja população foi dizimada em cerca de um terço -- e, por isso, ninguém o culpou.
Nessa toada, Harari afirma que as conquistas científicas colocaram um grande peso sob os governantes, e alguns falharam em arcar com essa responsabilidade. "Por exemplo, os presidentes populistas dos Estados Unidos e do Brasil brincaram com fogo, se recusaram a ouvir os especialistas e, em vez disso, espalharam teorias da conspiração. Não lideraram um sólido plano de ação federal e sabotaram as tentativas de autoridades estaduais e municipais de conter a pandemia. A negligência e irresponsabilidade das administrações Trump e Bolsonaro resultaram em centenas de milhares de mortes", escreveu. O historiador ainda critica o fato de que, enquanto cientistas se uniram numa troca de informações, políticos entraram numa guerra de troca de acusações, minando a cooperação global. Agora, uma vez que a vacinação está em curso em alguns países, dão espaço para uma nova desigualdade entre os países, em um "nacionalismo da vacina". "É lamentável ver que muitos ainda não entenderam um fato simples sobre esta pandemia: enquanto o vírus continuar se espalhando por aí, nenhum país poderá se sentir de fato seguro. Suponhamos que Israel ou o Reino Unido consigam erradicar o coronavírus dentro de suas fronteiras, mas o vírus continue a se espalhar entre milhões de pessoas na Índia, no Brasil ou na África do Sul. Uma nova mutação em alguma remota cidade brasileira pode tornar a vacina ineficaz, e resultam em uma nova onda de infecções", pontua.
fonte:Veja.com - 01/03/2021 08h03min.
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