De absoluto desconhecido a um dos três senadores do estado mais importante do Brasil, o empresário Alexandre Luiz Giordano, 48, viu sua vida mudar repentinamente desde que tomou posse no Congresso Nacional, em 31 de março passado, após a morte do titular, Major Olimpio, ocorrida duas semanas antes, por Covid-19.
De lá para cá, ainda ninguém o reconhece nas ruas, mas seu telefone não para de receber demandas de parlamentares e políticos. Filiado ao PSL, o ex-suplente não está plenamente familiarizado com a nova função, foi apenas duas vezes a Brasília (as sessões são remotas, por causa da pandemia), não participa de nenhum grupo de WhatsApp com colegas de Parlamento e também não conversou com seus pares paulistas, José Serra (que pediu afastamento na terça 10, para tratamento da doença de Parkinson) e Mara Gabrilli.
Mas está de malas prontas para o MDB. Na nova legenda, à qual chegará na próxima segunda-feira (16) pelas mãos e pelos ouvidos do ex-presidente Michel Temer (“Eu me reuni por três horas com ele”) e do deputado federal Baleia Rossi, terá a missão de aumentar a base de apoio ao prefeito Ricardo Nunes, do mesmo partido. O movimento poderá resultar em grande redução de espaço do PSDB na gestão municipal, iniciada com Bruno Covas, falecido em maio. “As pessoas que estão lá foram colocadas pelo Bruno. Agora serão as pessoas do Ricardo Nunes.”
Filho único e de mãe-solo, Giordano cursou dez semestres da graduação de direito das Faculdades Integradas de Guarulhos, mas não se formou. É casado, pai de três filhos e avô de uma netinha de 2 anos. Nascido e crescido em Santana, na Zona Norte, começou a trabalhar aos 12 anos, como empacotador de mercadorias na Galeria Pagé, reduto histórico da pirataria na metrópole.
Com 13 anos, passou a vender cachorro-quente na porta do local. Na mesma época, um grave acidente de trânsito lhe comprometeu a mobilidade por um bom período. “Eu estava na garupa de uma mobilete na Avenida Guapira, no Jaçanã. Fomos lá para comprar batatas.” As adversidades não pararam por aí. Logo depois do acidente, a prefeitura apreendeu seu carrinho, que não possuía autorização para estar nas ruas. “Fui com minha mãe chorar para o então administrador regional. Contamos nossa história, ele se comoveu, devolveu o carrinho e pudemos continuar trabalhando”, conta.
De um, o negócio virou quatro e só terminou quando os Giordano, mãe e filho, então com 17 anos, partiram para outra empreitada, a de confecção. “Fiz um curso de silkscreen na Galeria do Rock, comecei a fazer camisetas promocionais e vendemos nossa ‘rede de fastfood’ para um sergipano”, diverte-se. Uma outra mudança de ramo, aos 24 anos, lhe abriu novas portas. “Passei a atuar no setor de serralheria, fazendo estruturas metálicas. Foi aí que minha vida como empresário deslanchou.”
A entrada na política ocorreu em 2016, com a filiação ao PSDB. A migração para o PSL se deu dois anos depois, quando ajudou o então deputado federal Sérgio Olimpio Gomes na campanha ao Senado, o que lhe rendeu a vaga de suplente. Desde a eleição do titular da chapa, Giordano se envolveu em polêmicas, como a suspeita de ser lobista e ter atuado em reuniões obscuras no Paraguai (veja detalhes na entrevista abaixo). Agora como senador empossado, diz querer encampar a bandeira de combate à fome.
Para isso lançou o Bolsa Sopão, projeto que tem como objetivo reaproveitar frutas, legumes e verduras que não foram vendidos por estabelecimentos comerciais. A ideia parte da aprovação de um projeto de lei, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020, que autoriza as doações. A primeira opção, de firmar um acordo com a Ceagesp e um grupo de empresários, não só não foi para a frente como resultou em bate- boca e representações criminais mútuos entre Giordano e Ricardo Mello Araújo, presidente do entreposto paulista.
A alegação de Mello é que, por envolver entes privados, o programa deveria passar por licitação na Ceagesp. Sem conseguir ir adiante, Giordano afirma ter encampado um acordo com entidades ligadas a supermercados. Outra empreitada infrutífera foi tentar falar com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. “Pedi uma reunião com a Michelle porque as primeiras-damas normalmente são engajadas nas causas sociais, mas não fui atendido. Faz um mês e meio. Não vou mais insistir.”
Se o parlamentar não conseguiu falar com Michelle, a recepção por parte do marido dela não poderia ter sido melhor. “Fui recebido pelo Bolsonaro no Palácio do Planalto. Eu me apresentei a ele e disse que estou aqui para somar e contribuir.” Outro que o recebeu foi o governador João Doria, em jantar no Palácio dos Bandeirantes. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Giordano carrega no pescoço uma corrente grossa de ouro com a imagem, também de ouro, da santa. “Eu me aconselho com ela e com a minha mãe”, diz.
No mindinho direito, um anel, tão grande quanto dourado, e com um desenho que lembra um papagaio, é sua marca registrada. “É um corvo. Quando eu vendia couve e limão na feira, tinha um lambe-lambe (cartaz) com uma imagem do pássaro e eu ficava olhando. Decidi que essa seria a minha marca”, diz Giordano, que também estampa a ave em suas camisas feitas sob medida.
Os trotes do cavalo manco
Apaixonado por cavalos, Alexandre Giordano comprou há um ano duas éguas, a Atenas e a Imperatriz, de um haras no interior de São Paulo. Em junho deste ano, o vendedor dos animais entrou com dois processos de execução porque o senador deixou de pagar 66 000 reais referentes às parcelas da negociação, originalmente em 90 000 reais.
No fim de julho, a Justiça determinou que o parlamentar quite a dívida, sob pena de penhora. O problema, segundo Giordano, é que um dos animais começou a mancar logo que chegou à sua propriedade, também no interior.
“Na hora eu liguei no haras, eles mandaram uma equipe, mas até hoje o cavalo está mancando. Estamos dando remédio e assim que ele se restabelecer vou fechar a conta e, se tiver de acertar algo, vou acertar. Dizem que cavalo que manca deve ser sacrificado, mas vamos continuar cuidando dele.”
“Vou engrossar o caldo do Ricardo Nunes”
O senhor já foi chamado de vendedor de fumaça e lobista. Quais são suas atuações?
Pegaram uma pessoa que não gosta de mim e cada um fala o que quer. Quem gosta me elogia. Não sou lobista. Que fumaça eu vendi? Onde está a materialidade?
Reportagens no Brasil e no Paraguai revelam que o senhor foi ao país vizinho, em 2019, fazer negócios obscuros.
Fui a uma reunião no Paraguai (as reportagens relataram que foram três). Eles tinham excedente de energia, queriam negociar, e eu achei interessante. Fui lá escutá-los. Não fui representar ninguém e nenhuma empresa, só a minha.
O senhor tem empresa de energia?
Transferi para o meu filho uma empresa de estruturas metálicas, que pode fazer torre de transmissão, comprar e vender energia.
A empresa já negociou energia?
Não, foi uma primeira experiência. Foi uma oportunidade. Não gerou nada desfavorável a minha pessoa. Nada.
Como está sua relação com o PSL?
Zero. Pela minha história, não me vejo no PSL, me vejo em um partido com sustância, história. Por isso não vou ficar no PSL, um partido que não entendo do começo, do meio e do fim. Recebi convite do MDB pelo deputado Baleia Rossi e pelo (ex-)presidente (Michel) Temer e vou aceitar.
Sua filiação ao MDB tem como objetivo aumentar os quadros e diminuir a dependência do prefeito Ricardo Nunes com o PSDB, que hoje conta com mais da metade dos secretários? Vou fazer no MDB o que a Janaina (Paschoal) não me deixou fazer no PSL. Vou organizar o partido, construir pontes e engrossar o caldo do Ricardo Nunes.
Quanto de espaço o PSDB vai perder na prefeitura?
Quando se trata de administração nova, o gestor traz as pessoas de confiança dele. As pessoas que estão lá foram colocadas pelo Bruno Covas. Agora serão as pessoas do Ricardo Nunes.
O senhor não fez campanha para senador e não se preparou para o cargo. Como foi assumir o mandato de repente?
Não é uma dificuldade, é um aprendizado. Tenho quase seis anos de mandato, estou há três meses. Tenho tempo para entender o que está no meu entorno.
E a relação com os demais senadores, como está? Já está no grupo de WhatsApp do Senado?
Não consegui ainda conviver com os senadores, pois está tudo on-line. Estive apenas duas vezes em Brasília. Imagina namorar virtual. O virtual é protetivo, mas nada carnal.
Fonte:VEJA.COM/SP -13/08/2021 08h:30min.
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