terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Deltan e Lava Jato indiciaram filha de José Dirceu sem provas: "Paus nela", diz Revista


                                    Créditos: Lula Marques/ Agência Brasil.

Um diálogo no grupo de Telegram Filhos de Januário, apreendido pela Operação Spoofing, revela que Deltan Dallagnol e procuradores da Lava Jato pediram o indiciamento da filha de José Dirceu, Camila Ramos de Oliveira e Silva, por lavagem de dinheiro sem provas.

A conversa aconteceu entre os dias 30 e 31 de agosto de 2015. José Dirceu havia sido preso de forma preventiva na 17ª fase da operação, no dia 3 do mesmo mês. Na troca de mensagens, os procuradores afirmam claramente que o indiciamento de Camila seria uma forma de fazer "uma pressão danada" sobre o ex-ministro.

No dia posterior, em 1º de Setembro de 2015, a filha de José Dirceu foi indiciada, acusada de lavar dinheiro de uma suposta propina paga ao pai pelo empresário Milton Pascowitch, dono da Jamp, para compra de um apartamento em São Paulo no valor de R$ 250 mil.

No entanto, o diálogo entre os procuradores mostra que eles fizeram o indiciamento sem qualquer prova contra Camila. A Lava Jato ainda indiciou a arquiteta Daniela Facchini, que fez obras no apartamento.

A sugestão de indiciamento da Camila parte do procurador Roberson Pozzebon, um dos mais próximos a Dallagnol.

"O que acham de denunciarmos a filha do JD por lavagem?", diz ele às 23h29 do dia 30 de agosto. "Acabei de achar comprovante cabal que ela recebeu por fora do MILTON 250 paus", emenda.

Em meio à piadas, mais adiante o procurador diz que "a camila fez escritura de compra e venda por R$ 500 mil, mas recebeu R$ 750". O apartamento, no entanto, foi comprado pelos R$ 750 mil.

"MIlton e Luiz Eduardo tb ocultaram nos depos os R$ 250 de brinde", segue Pozzebon, sobre Milton Pascowitch e Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu, que também foi indiciado.

Orlando Martello, procurador que também atuou na Lava Jato, então revela o plano sobre indiciamento de Camila.

"E foi em benefício dela. Ouvi-la na condição de investigada fará uma pressão danada", afirma.

"O homem vai ficar puto", diz mais adiante Pozzebon, sobre Zé Dirceu. Deltan Dallagnol, então, entra na conversa e dispara: "Paus nela", dando ordem para se fazer o indiciamento.

"Ela ajudou a esconder dinheiro de crime", afirma o procurador chefe da Lava Jato e levanta uma questão: "Resta discutir se sabia que vinha de crime".

Pozzebon, então, afirma que não há prova contra a filha de Dirceu: "Essa prova do conhecimento específico já será mais complicada. Mas brinde ela sabia que não era. Sabia que o pai era mensaleiro".

Às 5h54 do dia 31, Deltan dá a ordem para o indiciamento: "Não precisa específico. Genérico ta bom. Embora esse seu argumento corte pros dois lados, acho que dá também".

O diálogo confirma o que diz Tony Garcia, que havia, desde 2005, um plano para perseguir José Dirceu, antes de chegar a Lula.

Em entrevista à TV 247 em junho do ano passado, Garcia afirmou que foi coagido por Moro a forjar informações à revista Veja que pudessem comprometer o ex-ministro.

"O que eles botavam na minha boca... para buscar coisas contra o PT, para tirar o Lula da eleição. Fui instado a procurar coisas contra o PT através do Eduardo Cunha, que era meu amigo. Uma perseguição clara (contra o PT)", disse. "Grande parte do estou falando, eu falei pra Gabriela Hardt. Eu denunciei, e nada acontece. Ela engavetou. O Brasil tem que passar isso a limpo. Eles (senadores) tinham de fazer uma CPI da Lava Jato", contou.

Segundo Garcia, até mesmo a ligação do repórter da Veja se deu em tom de ameaça.

"Esse repórter me ligou e disse 'sou da Veja e vim fazer uma entrevista com você a respeito do PT. Eu preciso estar com você. Você sabe quem me pediu para fazer essa entrevista. Vou poder fazer a entrevista de duas maneiras: ou com viés bom pra você ou contrário a você se você não quiser dar entrevista. Acho que isso (segunda opção) vai ficar ruim pra você'", disse Garcia quando indagado se foi "coagido pelo Moro, pelo Carlos Fernando a dizer aquilo?".

Leia o diálogo entre os procuradores da Lava Jato na íntegra

30 Aug 15
23:29:52 Roberson MPF O que acham de denunciarmos a filha do JD por lavagem?
23:30:12 Roberson MPF Acabei de achar comprovante cabal que ela recebeu por fora do MILTON 250 paus
23:30:16 Diogo Que grosso ??
23:30:16 Orlando SP Dá para arquivar... Tô brincando Diogo
23:30:36 Orlando SP ??????????
23:30:40 Orlando SP ??????
23:31:00 Orlando SP Magoei o didi
23:31:12 Orlando SP ??
23:31:20 Orlando SP Boa noite!!!
23:31:24 Roberson MPF Ceis tao tudo de tpm.
23:31:48 Roberson MPF A camila fez escritura de compra e venda por R$ 500 mil, mas recebeu R$ 750
23:32:16 Roberson MPF MIlton e Luiz Eduardo tb ocultaram nos depos os R$ 250 de brinde
23:32:44 Orlando SP E foi em benefício dela.ouvi-la na condição de investigada fará uma pressão danada
23:32:52 Roberson MPF Detalhe que o imovel que o MIlton comprou dela não valia R$ 500 e tinha clausula de inalienabilidade
23:33:16 Orlando SP Ela foi a beneficiada da lavagem
23:33:36 Roberson MPF Sim, mas com plena consciência.
23:34:00 Roberson MPF O homem vai ficar puto!
23:34:12 Deltan Paus nela
23:34:24 Roberson MPF É casada
23:34:28 Roberson MPF rsrsrs
23:34:40 Roberson MPF Mas a o CF diz que não importa
23:35:32 Deltan Ela ajudou a esconder dinheiro de crime
23:35:36 Deltan Resta discutir se sabia que vinha de criem
23:37:48 Roberson MPF Essa prova do conhecimento específico já será mais complicada. Mas brinde ela sabia que não era. Sabia que o pai era mensaleiro.

31 Aug 15
05:54:39 Deltan Não precisa específico. Genérico ta bom. Embora esse seu argumento corte pros dois lados, acho que dá também.

Fonte: Revista Fórum - 16/01/2024

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