Prefeito de Salvador ACM Neto - Foto:Joá Souza/reprodução
Maior liderança política da oposição na Bahia e principal cabo eleitoral da campanha do ex-governador Paulo Souto (DEM) - primeiro colocado na disputa pelo governo -, o prefeito ACM Neto admite que a eleição azedou a relação, até então republicana, que ele vinha tendo com o governador Jaques Wagner. O petista não tem medido esforços para fazer seu sucessor o deputado federal Rui Costa (PT), até abril titular da Casa Civil. Nesta entrevista, sob clima de mais um embate com o governo sobre a integração do metrô, Neto diz que "Salvador não será subjugada"
O governador Jaques Wagner (PT) disse que o senhor gosta de "pongar" nas obras do governo dele. Agora, no embate sobre a tarifa do metrô, o senhor disse que o governador "é autoritário". A eleição azedou a relação "republicana" que o senhor vinha tendo com Wagner?
Da minha parte sempre procurei tratar o governador com o respeito necessário e com reconhecimento da institucionalidade do seu cargo. O azedamento dessa relação, na verdade, foi unilateral e provocado pelo governo. Claro que não vou ouvir calado, não vou admitir que os interesses da cidade sejam subjugados nem permitir que o governo tenha uma atitude autoritária com Salvador ou que, por conta do embate político, o discurso seja um discurso preparado. Quando ele diz que eu quero pongar nas obras do estado, ele só pode fazê-lo porque não anda por Salvador, não anda pelo subúrbio, pelos bairros da periferia, não sabe a quantidade de obras que a prefeitura está realizando em toda a cidade. Não vê os postos de saúde que estamos reformando e as UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) que estamos construindo. De duas uma: ou o governador continua andando pela cidade de helicóptero ou ele está padecendo daquele lamentável mal da política, do sujeito que não quer enxergar.
O senhor reconhece as obras realizadas pelo governo?
Eu não tenho nenhuma dificuldade de reconhecer o que o governo do Estado esteja fazendo na cidade. Por exemplo, as obras viárias no entorno da av. Paralela. Agora, o governador não enxerga a recuperação do asfalto e toda a iluminação em LED da Paralela que nós fizemos, e todo o paisagismo da avenida. A vida pública e a política exigem, acima de tudo, seriedade com as palavras. Não é por conta do momento eleitoral que vou perder esse foco ou desviar o meu caminho. A César o que é de César. A prefeitura, hoje, realiza um conjunto de investimentos na cidade, o maior de toda a história conduzida pela administração municipal e sem um centavo do governo do Estado. O ideal é que este momento eleitoral não contamine as relações administrativas, o que, por mim, não teria acontecido. Porém, o que a gente vê são provocações que atribuo a um certo desespero pelo resultado iminente das urnas, que esperamos seja de derrota para o grupo do governador Jaques Wagner.
O senhor está pleiteando recursos na Caixa Econômica e do PAC Mobilidade para implantar o BRT em Salvador. O senhor teme que, com o acirramento do debate eleitoral, a liberação desses recursos possa ficar emperrada?
Primeiro, essa não é uma obra com o governo do estado, é com o governo federal. É uma obra que tem R$ 300 milhões do PAC, R$ 300 milhões de financiamento da Caixa Econômica, e R$ 200 milhões de recursos próprios do município. É uma obra que foi anunciada solenemente pela presidente da República. O Ministério das Cidades aprovou o projeto da prefeitura e encaminhou para a Caixa. Hoje está praticamente pronto, aguardando apenas uma autorização da CEF. Não quero crer que isso (emperramento) possa acontecer, porque esta obra não é do prefeito, é da cidade. Da minha parte, em nenhum momento eu dificultei a transferência do metrô para o governo do Estado. Em quatro meses resolvi um assunto que estava pendente há 12 anos. A prefeitura tem dado todas as condições para que as obras de corredores de BRTs, que são tratadas pelo governo do Estado, possam acontecer. Então, não posso acreditar que o governo federal vá perseguir a cidade. Caso aconteça, eu serei a primeira voz a denunciar isso ao povo de Salvador e, certamente, quem vai perder não sou eu, quem vai perder é o perseguidor.
O senhor falou em perseguidor, mas foi o ex-presidente Lula que, no comício em apoio à chapa liderada pelo petista Rui Costa, disse que a Bahia não quer voltar a ser comandada por coronéis, numa alusão a seu avô, o ex-senador e ex-governador Antonio Carlos Magalhães (DEM). O senhor se considera herdeiro dos coronéis?
Eu não ouvi essa declaração do ex-presidente Lula. Mas não terá sido a primeira vez que ele apresentou palavras (agressivas), dentro de um contexto eleitoral. Ele o fez em 2012, aqui mesmo, tentando me derrotar e não conseguiu. A resposta que eu dou é uma só: o meu trabalho, a transformação que Salvador vem vivendo. Eu enfrentei em 2012 uma campanha que, diziam, era preciso ter um prefeito do mesmo partido do governador e da presidente, sem o que a cidade era ingovernável. Estou mostrando que isso era uma grande mentira e uma tentativa de chantagem com a população, porque a cidade anda com as próprias pernas, tem uma administração eficiente e que está trabalhando. Espero ter o apoio de qualquer governador ou presidente que seja eleito. Mas a grande resposta que dou é o meu trabalho e a avaliação popular do meu trabalho.
Como o senhor vê as críticas do governador em relação a Paulo Souto, a quem ele chamou de "funcionário de empresa de família" (alusão ao ex-senador ACM), que "pensa pequeno" e que, por isso, Souto não teria "status" para voltar a ser governador"?
O governador tem falado tanta bobagem que só posso atribuir ao desespero de quem está vendo se avizinhar uma derrota. Vamos à comparação: Paulo Souto foi governador da Bahia duas vezes, vice-governador, senador, superintendente da Sudene, três vezes secretário de estado. Um homem cuja vida pública é irretocável, que teve mais de 80% de aprovação quando foi governador, sendo avaliado o melhor governador do Brasil. Um homem que tem marcas importantes na Bahia, com projetos que foram inovadores. E o governador Wagner ter a coragem de dizer que este é um funcionário de A, B ou C? Paulo Souto é funcionário do povo baiano, que sempre foi e será novamente. Nossa força e energia está toda concentrada para isso, eleger Paulo Souto o próximo governador a Bahia, tendo Geddel (Vieira Lima, do PMDB) no Senado para também nos representar.
E qual sua opinião sobre o candidato do governador, Rui Costa?
Eu poderia trazer uma série de qualificativos que certamente se aproximariam muito mais do candidato do governador. Mas eu não o farei, porque tenho respeito ao que vai acontecer no dia 5 de outubro. Acho que é um preconceito inaceitável esse tipo de adjetivação, porque seja quem já foi, seja quem quer ser (governador) tem o direito de se colocar para o eleitor, que majoritariamente vai decidir. Eu fui alvo de muitos preconceitos em 2012, inclusive do governador. Infelizmente o governador não olha para dentro de seu próprio quintal. Se olhasse, veria que certas palavras, que ele tenta de maneira preconceituosa qualificar um homem público do quilate de Paulo Souto, se enquadraria muito melhor no candidato que ele escolheu (para seu sucessor).
O candidato Rui Costa tem se colocado como um "tocador de obras" ao contrário de Souto que ele define como "comedido" que "pensa pequeno". Nessa linha, já garantiu que, se eleito, vai construir a ponte Salvador-Itaparica. Essa é uma proposta eleitoreira ou ela sai mesmo do papel?
Primeiro quero dizer que tenho respeito pessoal por Rui Costa. Agora, não posso deixar de evidenciar que Rui é sócio do governo de Wagner. Rui é corresponsável pela escalada da violência e da criminalidade na Bahia, com cerca de 38 mil vidas perdidas em oito anos. É sócio do caos da saúde pública que está instalado na Bahia. É tão responsável quanto Wagner pela greve dos professores, que marcou a história da educação pública em nosso estado. Rui (ex-secretário de Relações Institucionais e da Casa Civil) tem tanta responsabilidade quanto o governador pela perda da importância econômica da Bahia no comparativo nacional. Esse é o currículo, o histórico do candidato que, agora, vem para a televisão, prometer mundos e fundos. A ponte é um projeto que, até hoje, não foi mostrada a sua viabilidade econômica financeira. Da forma como o governo conduziu, com o que exigirá de investimentos públicos e também da participação privada, com o modelo que foi construído pelo governo, eu não acredito que saia. É fundamental pensar na integração de Salvador com as Ilhas, com o Recôncavo baiano, mas com um modelo factível.
No horário eleitoral na rádio e na TV o senhor tem criticado os resultados das políticas de segurança, saúde e educação do governo Wagner. Faltou competência, gestão para tocar essas áreas?
Todo governo, o pior que seja, alguma coisa positiva é capaz de fazer. Porém, o saldo do governo de Wagner é negativo para a Bahia. Wagner perdeu uma grande oportunidade, porque teve ao lado dele dois fatores que poderiam ter garantido à Bahia uma posição muito melhor. Primeiro, a amizade pessoal durante quatro anos com o presidente Lula e quatro anos com Dilma. Não aproveitou essa amizade para trazer recursos, projetos, investimentos para a Bahia. Porque entre o partido, o PT, e a Bahia ele ficava com o partido. O segundo, o Brasil teve um crescimento na sua economia muito expressivo até 2011, o que permitiu que estados do Nordeste, como Pernambuco e Ceará que tiraram projetos do papel, dessem saltos muito mais expressivos do que a Bahia deu. E o grande símbolo disso é a ferrovia Oeste-Leste, que até hoje não foi concluída, assim como o Porto Sul, que nem sinal dele temos. O governador apostou as fichas dele na Ponte Salvador-Itaparica que, não há quem possa ser contra, mas, no entanto, também é um projeto que sequer licitado foi.
Falando em obra que não anda, o senhor é acusado pelo governo de estar emperrando a integração do metrô, depois de 14 anos.
Isso é um absurdo. Quando eu fui eleito, ainda no período de transição, comecei a tratar o problema do metrô com o governo do Estado. A prefeitura tem uma participação de mais de R$ 2 bilhões neste projeto, com os incentivos fiscais via ISS, com os terrenos que eram de sua propriedade e foram transferidos para o consórcio, e com a transferência da CTS (Companhia de Transportes de Salvador) para o Estado, hoje CTB (Companhia de Transportes do Estado da Bahia). Se fôssemos seguir o rigor da lei, a presidente Dilma não poderia ter inaugurado o metrô em junho, porque a CCR (concessionária que venceu a licitação para exploração do metrô) não tinha conseguido os alvarás e as licenças a tempo. Ainda assim, para não retardar a inauguração, concedemos as licenças provisórias, até que fossem confirmadas. Até hoje, a concessionária não cumpriu as obrigações burocráticas e legais.
E quanto à integração
Eu tenho todo interesse na integração. Só estou colocando duas coisas, que considero imprescindíveis: primeiro, ela tem que ser feita com a devida cautela, porque vai alterar a vida de muita gente. Ela significa a eliminação das linhas de ônibus, significa mudar a rotina de muitos passageiros. Então, isso tem que ser feito com informação, comunicação e com preparação. Segundo, é a questão da tarifa. Como o metrô não tem demanda própria, e vamos ter de induzir o passageiro a andar de metrô, não é razoável que um passageiro para andar apenas seis quilômetros de metrô, pague tarifa de R$ 3,90. Essa é a nossa maior defesa, a defesa do passageiro, a defesa da cidade.
Caso o seu candidato perca as eleições, o senhor teme a possibilidade de ser retaliado por Rui Costa, caso ele se eleja, e mesmo pela presidente Dilma Rousseff, se sair vitoriosa?
Na prática, pior do que está a ação do governo do Estado com a prefeitura, hoje, não tem como ficar. Porque o governo do Estado não tem um centavo com a prefeitura. Pelo contrário, se formos ver o patrocínio do Carnaval da Bahiatursa até hoje não foi pago. Assim como o da Petrobras também não foi pago. Quero dizer claramente, vou lutar até o último dia para o meu candidato ser eleito governador, porém, qualquer que seja o resultado das urnas eu vou respeitar de maneira democrática e vou fazer o que fiz um dia depois que fui eleito prefeito de Salvador: vou procurar o governador eleito e dizer do meu desejo, da minha disposição, da minha vontade de ter a melhor relação com o governo do Estado, respeitando a vontade majoritária e soberana do eleitor.
FONTE: PATRICIA FRANÇA/ATARDEONLINE 22/09/14
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