O curso de Direito da Universidade Estadual do Piauí é superior ao
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em
Administração, a Federal de Viçosa e a unidade de São José dos Campos
da Universidade Paulista (Unip) deixam para trás a Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-EAESP).
Esses foram alguns dos resultados da edição 2012 do Exame Nacional
de Desempenho de Estudantes (Enade) que reacenderam o debate sobre os
critérios de avaliação, a motivação de alunos para a prova e o que o
indicador revela, de fato, sobre o universo educacional.
A discussão ganhará outro capítulo no dia 24, próximo domingo,
quando o Enade 2013 será aplicado com alteração em suas regras. O
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) publicou,
na segunda-feira passada, uma portaria que prevê que os alunos sejam
mantidos por uma hora na sala durante o exame. Quem deixar o local
antes disso não poderá assinar a lista de presença e ficará em situação
irregular. Antes, não havia tempo mínimo. A ideia, com isso, é evitar o
boicote - o que acaba contribuindo para distorções na nota.
O Enade é componente curricular obrigatório, ou seja, quem não fizer
a prova estará em situação irregular e não poderá obter o diploma. O
aluno, no entanto, pode responder às questões da forma como quiser, uma
vez que a nota não serve para carimbar seu desempenho - e, sim, o do
curso. Segundo o Inep, 0,56% das provas foi deixado em branco em 2012.
No artigo A Falácia do Enade, o Fórum das Entidades Representativas
do Ensino Superior Particular lamenta a postura de estudantes no exame.
"Não há nenhum tipo de punição para o aluno irresponsável ou
brincalhão", diz o artigo. "Podem entregar a prova em branco, dar
respostas com receitas de bolo ou com o Hino do Palmeiras", prossegue o
texto.
O presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, diz que hoje as empresas
já olham para o resultado do Enade ao avaliar o candidato. "A avaliação
também ajuda o Ministério da Educação (MEC) a fazer intervenções
pedagógicas", diz. Para ele, os resultados distorcidos são "exceções".
"Pode haver casos de boicote, ou de situações que não são adequadas,
mas são casos específicos, uma minoria", diz.
Avaliação
A prova do Enade tem 40 questões - dez de formação geral
e 30 de formação específica (para cada curso). As notas vão de 1 a 5 -
abaixo de 3, o desempenho é considerado insatisfatório pelo MEC.
"O exame acaba servindo para propaganda, e alguns cursos não
precisam disso porque todos sabem quem são os melhores. As estaduais de
São Paulo e do Rio são reconhecidas no mundo todo", afirma o
coordenador-geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel
Cara.
A Unip concede bolsas, netbooks e iPods a estudantes com bom
desempenho. "Mas não é isso que está fazendo dar resultado, mas o fato
de os alunos aprenderem o conteúdo", diz o reitor, João Carlos Di
Genio.
Questionado se o curso de Administração da Unip é superior ao da
FGV, como aponta o Enade, Di Genio responde: "A diferença de nota 4 (da
FGV) para 5 (da Unip) é tão pouca. A FGV é ótima, mas estamos
conseguindo atingir o nível dela."
Em casos de cursos menos reconhecidos, o Enade pode mexer com a
autoestima, diz o professor Francisco Soares, pró-reitor de Ensino e
Graduação da Universidade Estadual de Piauí (Uespi). Além de Direito,
Jornalismo, Psicologia e Turismo da Uespi também ganharam conceito
máximo. "Nosso aluno vê no exame uma forma de mostrar o valor dele",
diz.
Procurada, a EAESP-FGV informa que "valoriza a nota do Enade 2012 e
defende a inclusão das respectivas avaliações de seus alunos nos
históricos escolares". A reportagem não conseguiu contato com a
assessoria da Universidade Federal de Viçosa. Já a PUC-SP diz que "não
considera que a nota 3 no Enade corresponda à qualidade de seu curso de
Direito". "Apesar da nota 3, somos reconhecidos como uma das mais
importantes instituições do País nesta área, tendo formado inúmeros
ministros do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça",
informa a instituição paulista.
Fonte:Estadão
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