Era uma vez o sertão que virou museu a céu aberto, ao sol, a chuva, ao tempo, ao vento… tudo se fez precisamente assim, quando o artista, Juraci Dórea, teve a idéia do Projeto Terra e arrumou seu matulão para cair no mundo, fazendo às vezes do pregador bíblico, João Batista, adentrando as veredas do sertão baiano, descortinando suas icônicas esculturas, de madeiras vestidas de couro, com uma linguagem contemporânea, desconhecida naqueles ermos, bradando no deserto.
Logo/logo, viriam as exposições itinerantes, ciganas, de quadros de pintura, de porte razoável de tamanho, com motivos populares, a alegrar as retinas cansadas dos viventes da região. Um festão em cada lugar por onde passava. E assim foi que, estas semeaduras de arte, em léguas tiranas, no agreste, através de documentações fotográficas, chegaram à mídia escrita, falada, televisada, chamou a atenção, de um público vário, por todo canto, principalmente, os críticos das artes plásticas, entre eles Frederico Morais, o que tornou visível aquela épica, emblemática e indômita forma do fazer arte em dialogo interativo com um mundo invisível. E deu-se que, o trabalho do artista ganhou botas de sete léguas e asas de albatroz, e, invertendo a normalidade do processo, saiu do assombroso museu a Deus dará, para os espaços emblemáticos das Bienais, São Paulo, Veneza, Cuba… e as inúmeras exposições, Brasil afora e além fronteiras… E o Sertão virou mar
Nosso projeto de um filme/documentário, assim foi em busca de contar esta estória cuja gênese é o distante 1982, tempo abissal, sobretudo para encontrar vestígios das esculturas pioneiras, urdidas como arte efêmera, sobretudo as esculturas, construídas com madeiras e vestidas com o couro, expostas ao tempo, sujeita aos predadores naturais (o couro é precioso e de grande utilidade naqueles meios), o que justificava a sua morte anunciada. Juraci Dórea embarcou nesta canoa, foi um dos mais indômitos membros da equipe, botou a mão na massa, além de personagem desta estória, em imagem em movimento, agiu, todo o tempo como cúmplice do nosso fazer. Plantamos, de Feira de Santana, passando por Monte Santo e Canudos, quatro novas e enormes esculturas, conversamos com muita gente sertaneja… À mercê do calor da hora, fomos colhendo material… O possível e impossível para contar a saga deste estranhíssimo Projeto Terra, catando, aqui e acolá, o combustível necessário para que La Nave Vá… E ela foi…
No próximo dia 15 de outubro, na luminosa tela grande no escurinho do cinema, no Portal do Sertão, na Cidade de Feira de Santana, estaremos realizando a pré-estréia deste filme, de 52 sertanejos minutos de duração, às 20 horas no complexo de cinemas da Oriente Filmes. Apostando e comemorando pelo sucesso deste evento e, principalmente, esperando que, daí em diante ele, o filme, possa caminhar com as suas próprias pernas… Com as graças da corte celeste e o Axé dos Orixás… Com a benção dos Anjos…
Fonte:BN /reprodução
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