sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mariana: Lama de barragem alcança sul da Bahia


Sedimentos podem impactar a biodiversidade de fitoplâncton, algas e corais de Abrolhos; mancha foi detectada durante sobrevoos
A mancha de lama que vinha se espalhando ao longo do litoral do Espírito Santo, no sentido Sul, agora se dispersou também para o Norte, alcançando as proximidades do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no sul da Bahia. A Samarco, responsável pela barragem de Fundão, que se rompeu em 5 de novembro, já foi notificada a iniciar imediatamente a coleta de amostras na região.
Embora de forma pouco concentrada, os sedimentos somam uma área de 6.197 km². A mancha foi detectada durante sobrevoos realizados por técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O "desvio de rota" foi possivelmente ocasionado por um intenso vento sul que se observou na região na última semana. A previsão de um ciclone para os próximos dias tem sido motivo de preocupação, pois não é sabido o impacto do fenômeno sobre o padrão de “evolução” da lama, informou o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti.
O rompimento da barragem da Samarco em Mariana é a maior fatalidade da história brasileira, mas não é a primeira. Relembre outros casos.
Os testes para confirmar a origem do material devem ficar prontos em 10 dias, mas a presidente do Ibama, Marilene Ramos, afirmou que os técnicos, por suas experiências de campo, "têm praticamente certeza de que se trata da lama da Samarco". Há mínima chance, porém, de que o acúmulo de sedimentos tenha decorrido de áreas erodidas da costa.
Os rejeitos podem impactar a atividade de fitoplâncton, algas calcárias e corais de Abrolhos - um dos principais patrimônios ambientais do Brasil e uma das áreas de maior biodiversidade do Oceano Atlântico. "Ter essa lama no mar é como colocar uma camada de fumaça em cima da Mata Atlântica ou da Floresta Amazônica, tapando o sol e, consequentemente, impedindo a fotossíntese", comparou Maretti.
O órgão informou que o parque não será interditado, pois o monitoramento tem indicado que não há metais pesados ou substâncias tóxicas na água. Porém, não está afastada a possibilidade de haver extinção de espécies de corais - já vulneráveis às mudanças climáticas em geral, que têm tornado as águas mais ácidas e, consequentemente, os corais menos coloridos.
Maretti afirmou que as consequências da tragédia de Mariana ainda estão sendo quantificadas, mas que “a autuação (à Samarco) virá”. Disse, ainda, que ainda que mesmo que a bacia do Rio Doce seja recuperada, “não é factível” que volte a ser como era antes do rompimento da barragem.
A presidente do Ibama criticou a conduta da empresa, julgando-a lenta e pouco proativa. Segundo ela, a mineradora recorreu das multas aplicadas (cinco de R$ 50 milhões cada) e não quis propor acordo em relação à ação civil pública, movida pela União e pelos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que pedia o pagamento de R$ 20 bilhões para um fundo de recuperação da bacia do Rio Doce. A Justiça já determinou, em primeira instância, o pagamento da primeira parcela, de R$ 2 bilhões.
“A empresa se preocupa apenas com as questões emergenciais, mas é míope em relação ao todo. Independentemente da admissão ou não de culpa, foi a atividade dela que, voluntária ou involuntariamente, causou o maior desastre ambiental do País”, disse. A Samarco não havia respondido à reportagem até as 20h40 desta quinta-feira, 7.
Espírito Santo. Três praias de Linhares, na região norte do Espírito Santo, foram interditadas pela prefeitura da cidade, nesta quarta-feira, 6. De acordo com o órgão, as praias de Pontal do Ipiranga, Degredo e Barra Seca estão impróprias para banho. Toda região foi afetada pela lama de rejeitos da mineradora Samarco.
Fonte:Estadão/Imagem:reprodução

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