Os partidos de oposição e entidades da área de comunicação repudiaram o uso de computador do Palácio do Planalto para criticar e atacar os jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, através de mudanças nos seus perfis na Wikipédia, tipo de enciclopédia virtual. O PSDB informou que vai pedir à Polícia Federal que investigue o caso.
O PPS entrou com representação na Procuradoria-Geral de Justiça, mas o procurador-geral, Rodrigo Janot, disse que o caso deve ser investigado pelo Ministério Público Federal de Brasília. O Planalto nega envolvimento do governo e abriu investigação, com prazo de 60 dias para ser concluída.
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O Globo, em sua edição de sexta, revelou que Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, colunistas de economia do jornal, tiveram seus perfis no Wikipédia alterados, ano passado, por meio da rede de internet do Planalto. Sobre Miriam, as mudanças foram feitas nos dias 10 e 13 de maio para classificar suas análises como “desastrosas” e ligar a colunista ao banqueiro Daniel Dantas. “Miriam Leitão fez a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas, ex-banqueiro condenado por corrupção entre outros crimes contra o patrimônio público”, afirmava o texto enxertado no perfil da jornalista.
As mudanças no perfil de Sardenberg foram no mesmo período. O texto na Wikipédia explicava que o colunista é crítico das políticas econômicas de Lula e Dilma. A pessoa mudou o conteúdo e acrescentou: “... principalmente em relação aos cortes de juros promovidos nesses governos. É irmão de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, instituição que tem grande interesse na manutenção de juros altos, uma medida geralmente defendida por Carlos Alberto Sardenberg em suas colunas”.
Enciclopédia
A Wikipédia é uma enciclopédia virtual e gratuita alimentada por usuários. Atualmente, o site possui mais de 30 milhões de artigos - cerca de 834 mil em português. Qualquer pessoa pode alterar os textos. O registro é armazenado na Wikipédia a partir do endereço de IP do responsável pela mudança, número de identificação atribuído a cada aparelho.
"Isso é calúnia", diz Miriam Leitão
A jornalista Miriam Leitão reagiu com indignação à notícia de que as alterações em seu perfil partiram de um computador do Planalto. “Estou indignada como cidadã, que lutou pela democracia, e também pessoalmente, porque isso é calúnia e difamação. Governo, recursos e funcionários públicos não podem ser usados para atacar um cidadão que é adversário ao governo – e eu não sou adversária do governo, sou jornalista. Eu tenho 40 anos de jornalismo, acordo todo dia às 5h e ouço todo mundo para dar meus dados”, disse Miram ao CORREIO.
“Semanas atrás, fiquei sabendo que tinham mentiras, mas nunca escrevi nesse perfil. Só pedi que um amigo meu, com capacidade técnica, tirasse essas mentiras”, explicou a colunista. Ela analisa o que fazer. “Estou conversando com meu advogado, porque eu vivo honestamente do jornalismo há 40 anos e é isso que eles estão atacando”, afirmou Miriam Leitão.
Entidades pedem investigação
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) defenderam a investigação dos ataques a Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg através de computador do Planalto. Para a Abert, o ato que teria sido feito no palácio do governo é “ainda mais inaceitável” porque visa atingir profissionais da imprensa.
A vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, classificou a alteração no perfil dos jornalistas de “condenável” e pediu a punição dos responsáveis pelas alterações. A ANJ, em nota assinada pelo presidente Francisco Mesquita Neto, também condenou o ataque aos jornalistas. “As alterações continham críticas e afirmações inverídicas e desqualificadoras em relação aos dois profissionais. A ANJ espera que o Palácio do Planalto apure o ocorrido e tome providências”, afirma a nota da entidade.
Fonte:Correio
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