Vídeo: Youtube/Brasil 247 foto:reprodução
O vereador Sandro Fantinel
(Patriota) de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, questionou, em sessão nesta
terça-feira (28), as condições de trabalho escravo em que foram encontrados 207
trabalhadores em vinícolas na Serra Gaúcha, na sexta (24). A polícia confirmou
que a maioria deles veio de cidades da Bahia.
Na fala, Sandro Fantinel culpa os
empregados pelas condições em que foram encontrados. "Um agricultor me
ligou e pediu para eu ver um alojamento onde ficam os trabalhadores temporários
e não dava para entrar do fedor de urina, da imundície que eles deixaram em uma
semana. E a culpa é de quem? O patrão vai ter que pagar o empregado para fazer
limpeza para os bonitos? Temos que botar eles em um hotel cinco estrelas para
não termos problema com o Ministério do Trabalho?", questionou, antes de
citar os baianos.
Em seguida, se dirigindo às
empresas agrícolas e aos agricultores do Rio Grande do Sul, ele diz: "Não
contratem mais aquela gente lá de cima. Contratem argentinos. São limpos,
trabalhadores, corretos e quando vão embora ainda agradecem pelo trabalho".
Em sessão gravada, o vereador
continua: "Nunca tivemos problema com um grupo de argentinos. Agora com os
baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era
normal que se fosse ter esse tipo de problema. E que isso sirva de lição. Que
vocês deixem de lado esse povo que está acostumado com Carnaval e festa",
continua.
Por fim, Fantinel questiona a condição de escravidão que foi
denunciada, mencionando que alguns dos trabalhadores que estavam no local não
queriam deixar o lugar.
"Se estava tão ruim a escravidão, porque eles não
quiseram deixar a empresa? Vamos abrir o olho quando eles falam em 'trabalho
análogo a escravidão", finaliza. Dos 207 resgatados, 198 são da Bahia.
Desses, 194 retornaram e quatro preferiram ficar no Rio Grande do Sul.
Boletim de ocorrência
Horas depois da sessão, o
deputado estadual do RS Leonardo Radde (PT) publicou nas redes sociais que
registrou um novo boletim de ocorrência contra a fala do vereador. "O Rio
Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas!",
disse.
Fuga e resgate
O que três trabalhadores
relataram aos agentes da Policia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves,
cidade situada na Região Serrana do Rio Grande do Sul, levou à descoberta de um
galpão com cerca de 240 trabalhadores em condições análogas à escravidão,
segundo o Ministério Público do Trabalho. Grande parte das vítimas veio da
Bahia. Eles foram resgatados no município vizinho de Caxias do Sul - polo
produtor de uvas e vinhos finos das serras gaúchas.
Ao divulgar o caso na sexta-feira
(24), a PRF não revelou as identidades das vítimas. Após o resgate, os
trabalhadores contaram aos policiais que foram contratados para trabalhar em
vinícolas, colhendo uvas em Caxias do Sul. Foi garantido ao grupo salário de R$
3 mil, acomodação e alimentação. Na chegada, contudo, encontraram condições
desumanas.
De acordo com os relatos, os trabalhadores foram colocados em um alojamento em condições precárias, mal iluminado e com ventilação escassa. Durante as refeições, recebiam alimentação estragada. Os salários era pagos com atraso, e as vítimas contaram que eram coagidas a permanecer no local, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato de trabalho. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram apreendidos no alojamento.
Havia ainda longas jornadas de
serviço e também castigos físicos, narraram as vítimas. A PRF divulgou um vídeo
nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados.
Fonte: Correio da Bahia - 28/02/2023
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