terça-feira, 18 de julho de 2023

Lava Jato: Gabriela Hardt é investigada pelo CNJ após denúncia de Tony Garcia

                                      foto:reprodução

O ministro Luís Felipe Salomão, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), determinou nesta terça-feira (18) a abertura de uma reclamação disciplinar contra Gabriela Hardt, ex-juíza da Lava Jato, por atuar com “parcialidade” na 13ª Vara Federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

O processo que investigará a conduta de Gabriela Hardt foi aberta após o corregedor Nacional de Justiça aceitar pedido de Tony Garcia para abertura da apuração. O empresário que recentemente denunciou práticas irregulares da Lava Jato afirma que Hardt “tinha conhecimento de fatos potencialmente criminosos por Moro e outros procuradores, mas que se manteve inerte”.

De acordo com os relatos de Tony Garcia, Hardt chegou a fazer retaliações contra ele após as denúncias. Dentro desse contexto, Salomão deu 15 dias para a juíza se pronunciar sobre as acusações e prestar maiores informações sobre os fatos denunciados.

Hardt assumiu a cadeira de Sergio Moro em 2019, quando o hoje senador assumiu o ministério da Justiça de Jair Bolsonaro (PL). Ela foi a responsável por assinar a condenação do presidene Lula (PT) à prisão no processo que apurava o caso do sítio em Atibaia. Afastada da 13ª Vara de Curitiba recentemente, ela está atualmente na 3ª Turma Recursal do Paraná.

A denúncia de Tony Garcia

O empresário e ex-deputado federal pelo Paraná, Tony Garcia, enviou para a Revista Fórum nesta em 7 de junho uma série de conversas do grupo de WhatsApp da Lava Jato, obtidas pela Operação Spoofing da Polícia Federal, que comprovam sua atuação como um “agente infiltrado” a mando do ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR).

“Foi assim que me tornei um agente infiltrado. Essas conversas deles corroboram com tudo que venho denunciando. Eles me usaram como agente infiltrado”, afirmou o próprio Tony Garcia ao compartilhar as conversas.

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia da última terça-feira (6), Tony Garcia revelou mais detalhes sobre sua atuação dentro da Operação Lava-Jato e relatou ter atuado por mais de dez anos como "agente infiltrado". Muitos questionam onde estão as provas das acusações de Tony, mas ele garantiu que, com autorização do Supremo Tribunal Federal, revelará os autos dos processos em que há tais ilegalidades, como a colocação de grampos ilegais em celas e as tentativas de induzir presos da operação a citarem o nome do presidente Lula. “As provas estão nos autos. Na hora que eu apresentar os autos e os termos do meu acordo de delação, vai ficar claro”, afirmou.

O ex-parlamentar afirmou que desde 2006 Sérgio Moro e o Ministério Público Federal do Paraná agiram para perseguir o PT e o presidente Lula. “Desde aquela época eles estavam atrás de coisas do PT. Eles sabiam que eu era do partido do José Janene, que estava apoiando o governo Lula, do Ricardo Barros, que era vice-líder do governo [..] E eles queriam saber o que eu sabia dessa turma, o que eles operavam. E ficavam o tempo inteiro me questionando sobre isso”, disse Garcia em entrevista à Fórum sobre o momento em que foi um dos delatores da operação.

Ele também relata que esse modus operandi continuou ao longo da Operação Lava Jato. “É continuidade da caça ao PT”, disse o ex-parlamentar sobre a relação entre a LJ e o Mensalão. “Eles não queriam só a delação. Eles mostravam como queria que você falasse. O Odebrecht, o Leo Pinheiro, todos eram instados a trazer o nome do Lula. E quem não trouxesse não era aceita a delação e eles ameaçavam mandar para o presídio. [..] Era um câmara de tortura", disse.

As ‘novas conversas’

Tony Garcia teve acesso ao banco de dados da Operação Spoofing, que derivou do escândalo da Vaza Jato. Para obter as conversas reveladas a seguir, ele usou o próprio nome nas buscas e conseguiu encontrar trechos em que foi tratado como 'infiltrado', ou melhor, “colaborador” a serviço das ilegalidades da operação.

Na publicação a seguir, mantivemos as conversas na íntegra o que eventualmente trará erros de digitação e de língua portuguesa por parte dos procuradores. Organizamos cada trecho com um subtítulo indicando a data em que foi registrado e apontamos, antes de reproduzir as mensagens, do que se tratam.

Diálogo 1: sem data

Neste trecho, os procuradores Athayde Ribeiro Costa e Januário Paludo citam Tony Garcia como o “colaborador” que irá telefonar para um investigado e perguntar sobre documentos relativos ao processo. Há, também, uma breve discussão seguida de recomendação, sobre como produzir tal prova.

19:48:04 Athayde: Discussao: colaborador vai ligar para o investigado e perguntar sobre documentos q seriam produzidos para lastrear contrato ficticio. A gravacao da ligacao seria autorizada judicialmente e operada na sede da PF. Seria flagrante preparado/esperado? Teriamos problemas com essa prova?

19:48:27 Paulo: Na PF

19:54:04 Ok

20:17:40 Januario Paludo: Athayde. 2005 fizemos várias escutas ambientais a partir do escritório do colaborador (operação tnt). Colaborador marcava reunião e a conversa fluía sem provocação direta. Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência. O colaborador era o tony Garcia.

21:08:20 Athayde: Excelente. A medida ja foi deferida... Heheh

21:08:52 Athayde: Vc mostrou pro russo a documentação da DEUTCHEBRAS

21:08:52 Athayde: ?

21:08:56 Athayde: Januario

Diálogo 2: 06/08/2015

Nesta conversa de 2015, Tony Garcia é novamente citado como alguém que “quer conversar”.

13:39:24: Amanhã temos o Vilardi no começo da tarde, e o Tony Garcia quer conversar também.

13:40:00: Paulo vcs não me falaram aqui, e certamente eles não terão falado isso por lá... daqui a pouco tão o vlad ou o douglas ligando e reclamando que estamos fazendo reunião sem eles

Diálogo 3: 08/06/16

Nesta conversa de 2016, Dallagnol se refere justamente àquilo que Tony Garcia denunciou ao Fórum Onze e Meia.

14:27:19 Deltan: Robito, Tony Garcia quer colaborar via Figueiredo entregando Odebrecht e alguém do gab do Governador do PR. Por envolver Ode pedi para ele levantar o nome do promotor que tá com o caso estadual em que TG quer diminuição de pena e para ele falar com Vc. Brinquedo novo, mas manuseie com cautela pq TG é alguém pra ter cuidado, sem falar do cuidado com os advogados tb rs

14:29:29 Roberson MPF: Cuidado duplo, pretenso colaborador e adv

14:33:21 Roberson MPF: Delta, eles estão aí na sala?

14:52:55 Deltan: estavam

14:53:06 Deltan: mas vai levantar nome promotor e te passasr antes

Diálogo 4: 18/01/19

Neste trecho, procuradores falam sobre suposta articulação do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4, para que o juiz Luiz Antonio Bonat substituísse Moro na 13ª Vara Federal.

21:44:47 Januario Paludo: Bonat pediu a vaga do moro, segundo o Mallucelli.

21:47:22 Januario Paludo: Melhoras Diego!!!

22:00:11 Roberson MPF: ????????

22:16:06 Jerusa: Ufa! ????

22:25:56 Deltan: Meooo caneco

22:26:00 Deltan: Reviravolta

22:26:06 Deltan: Convenceram ele...

22:26:08 Deltan: devem ter um plano

22:27:56 Deltan: o Malucelli disse que Bonat vai manter até o fim

22:28:14 Deltan: defina "fim" rs

22:29:58 Deltan: Parece que não há estratégia ??????

22:31:22 Januario Paludo: A conversa amanhã está confirmada? Marcelo me confirmou. Vc vai Deltan?

22:31:47 Deltan: Não to sabendo Jan

22:32:09 Januario Paludo: Tá marcada amanhã à tarde, do 22. Vc marcou!!!

22:32:19 Deltan: ah, não

22:32:28 Deltan: essa tava marcada antes do edital sair

22:32:29 Januario Paludo: Eu estou no avião. Preciso desligar, mas eu vou lá.

22:33:31 Deltan: Precisamos ir mesmo para garantir que ele não desista no período de desistência rsrsrs. Mas temos que cuidar agora pra não assustar o Bonat ao descrever o que está por vir...

22:33:47 Deltan: Lava Jato? Tudo susse... 2 horinhas por dia e vai pra casa ??

22:36:47 Welter Prr: Que maravilha!

23:04:16 Laura Tessler: Sensacional!!! Já virei fã do Bonat. ????????????

Fonte: Revista Fórum - 18/07/2023

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