Familiares de Márcio Neres dos Santos, 35 anos, cobraram, ontem (17), durante o enterro do caminhoneiro,
respostas da Polícia Federal (PF) para o desaparecimento dos documentos
pessoais e aparelhos celulares do motorista, morto na madrugada da
última terça-feira (16) durante operação deflagrada pela PF para
desarticular uma quadrilha responsável por desviar cargas do Porto de
Aratu.
Daiana Neres, irmã de Márcio, toca o caixão: ‘Os policiais chegaram sem mandado e mataram o meu irmão’(Foto: Robson Mendes)
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Eles
também pediram uma investigação rigorosa do caso e afirmam que a PF
errou. Sem envolvimento no esquema, Márcio foi morto pelos agentes da PF
dentro da própria casa, no Condomínio Jardim das Bromélias, em Pau da
Lima, por volta de 5h30.
A PF reconheceu que não havia mandado de prisão contra Márcio, mas afirma que ele teria apontado uma arma quando os agentes entraram no prédio a
fim de cumprir dois mandados de prisão. Segundo Alex Lemos, 29, cunhado
de Márcio, após balearem a vítima, os policiais pegaram as chaves do
carro e retiraram de dentro do veículo os documentos pessoais e
celulares do motorista.
Me entregaram a chave do carro, mas os documentos dele já não estavam mais lá
Alex Lemos, cunhado de Márcio
“Eles
ficaram sem falar nada até umas 7h. Fui o primeiro a chegar no
apartamento, pois moro ao lado. Eles não permitiram que ninguém entrasse
na casa nesse período. Depois, eles me entregaram a chave do carro, mas
os documentos dele já não estavam mais lá”, explicou Lemos.
Márcio tinha duas filhas(Foto: Almiro Lopes)
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“Os
policiais chegaram lá sem mandado, sem nada, e mataram o meu irmão, que
estava dormindo, de cueca. Depois, disseram que ele estava armado.
Então, onde está essa arma?”, questionou a técnica em enfermagem Daiana
Neres, 32, irmã do caminhoneiro.
Por meio da assessoria, a PF informou que “tomou
conhecimento” do desaparecimento do celular e dos documentos de Márcio,
mas que ainda “não possuía um posicionamento a respeito”.
Arma
Márcio morava no apartamento 004. A PF informou que
os alvos da operação eram pai e filho do 104. Familiares de Márcio
acreditam que os policiais se equivocaram no momento da operação. De
acordo com a PF, os policiais do Comando de Operações Táticas (COT) —
grupo de elite da Polícia Federal — entraram no edifício e, no trajeto
para o apartamento 104, encontraram um homem com um revólver na porta do
004.
“Então, a equipe parou o que estava fazendo para
neutralizá-lo, já que, armado, oferecia risco a todos, inclusive aos
demais moradores, e deu voz de prisão”, contou o delegado Tiago Sena, do
Departamento de Comunicação Social da PF.
Segundo o delegado, o homem correu para dentro do
apartamento e os policiais foram atrás. “Foi quando ele manteve a arma
apontada em direção aos policiais e foi baleado”, disse o delegado.
Segundo ele, Márcio segurava um revólver calibre 38, que foi recolhido
para análise de peritos da própria PF.
Sena reconhece que nenhum disparo foi efetuado da
arma. A família de Márcio nega que ele estivesse armado. Sena explicou
que os policiais do COT são lotados em Brasília e vieram,
exclusivamente, para a Operação Carga Pesada.
Agente do COT, grupo de elite da Polícia Federal, durante operação
(Foto: Divulgação/PF) |
“Eles
são selecionados a dedo e tem um suporte psicológico, corporal e
técnico. São os melhores da melhor polícia do Brasil. Os caras são
referências no mundo. Para eles darem um tiro sem necessidade, é muito
difícil”, declarou.
Segundo o delegado, o revólver apreendido estava com
a numeração raspada. “Mas com a perícia, será possível descobrir de
quem é o revólver. Márcio não tinha porte de arma e nem ficha na
polícia”.
Os policiais são os melhores da melhor polícia do Brasil. Os caras são referências no mundo
Tiago Sena, delegado sobre policiais da operação
“A
PF não montou uma operação do dia para a noite. Todos os locais foram
devidamente mapeados, inclusive o local onde ocorreu o fato”, declarou. A
Operação Carga Pesada prendeu 16 pessoas ligadas a uma quadrilha de
caminhoneiros acusada de roubar R$ 100 milhões em cargas do Porto de
Aratu.
A morte de Márcio é apurada internamente pela PF,
ainda no âmbito da Operação Carga Pesada. A instauração de uma
sindicância específica para apurar o fato ainda não foi confirmada.
Procurado para saber se interviria no caso, o Ministério Público
Federal (MPF) não retornou o contato.
Fonte:Correio da Bahia
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