Existe um provérbio que diz que é preciso ter
cuidado com as pessoas porque as aparências enganam. Na manhã desta
segunda-feira (19), quatro homens entraram em fila no auditório da
Polícia Civil, na Pituba. Um deles era um senhor, com poucos cabelos e
muitas rugas. É difícil saber a idade de André (de camisa branca na foto
abaixo) já que ele mesmo admite que tem 18 nomes falsos, pegou oito
anos de cadeia e já foi preso por participação em outros crimes, além de
ser suspeito de tomar conta de cativeiro onde estava o ex-prefeito de Valença, Ramiro José Campêlo de Queiroz,
Da esquerda para a direita: Carlos Eduardo, Márcio, André e Geraldo
Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO |
O
grupo foi preso na quarta-feira (14) e é acusado pela polícia de
participar do sequestro de Ramiro, ocorrido em janeiro deste ano.
Ramiro, que também é fundador das lojas Guaibim, é conhecido na cidade
por andar sem seguranças ou guarda-costas. Ele ficou 25 dias
sequestrado.
Com a voz suave e ponderada, André Luís Maciel
Santos contou que foi até Caçapava, cidade do interior de São Paulo onde
o grupo foi preso, participar de um leilão de carros.
"Um amigo me chamou para acompanhar ele no leilão e como eu sei que ele participa sempre desses eventos, eu acompanhei. Não sabia do que estava acontecendo", contou o homem de muitos nomes.
André
é natural de Minas Gerais, mas morou em diversos estados do país.
Salvador é uma velha conhecida, já que ele passou oito anos por aqui na
Penitenciária Lemos Brito, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. Ele
contou que foi condenado por receptação de produtos roubados e outros
agravantes, mas não deu detalhes sobre os crimes.
Depois que deixou a cadeia, em 2015, André foi morar
em São José dos Campos (SP), até que no ano passado mudou-se para o
interior da Bahia. Segundo ele, o motivo da mudança foi o amor. "Conheci
uma mulher, a gente se envolveu e fomos morar junto", disse. O endereço
do novo casal ficava próximo ao mar, na praia de Guaibim, em Valença.
Segundo a Polícia Civil, André passará por exame de
identificação criminal, no Departamento de Polícia Técnica (DPT) - pois
já foi preso com 18 diferentes identidades e é preciso confirmar o nome
dado por ele desta vez.
Sequestro
Para a polícia, os dois meses que durou a paixão de André serviram, na verdade, para estudar o sequestro. Segundo o delegado do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), responsável pelas investigações, Cleandro Pimenta, a família da vítima não procurou a polícia para prestar queixa.
"Esse é o tipo de caso que independe de prestação de
queixa, por isso, desde que o fato aconteceu as investigações foram
iniciadas. Ainda não sabemos há quanto tempo a quadrilha estava atuando,
mas todos os presos se conheceram na cadeia. Vamos ouvir a vítima nos
próximos dias e isso pode ajudar a identificar outros suspeitos",
contou.
O ex-prefeito Ramiro levantou da cama às 6h no dia
em que foi sequestrado. Era uma quinta-feira e o empresário ainda estava
em casa quando foi surpreendido por três homens armados, que renderam o
ex-prefeito, sua esposa e um caseiro. Os bandidos arrastaram Ramiro até
um carro Hyundai ix30, branco, que foi roubado alguns dias antes, na
Avenida Paralela, em Salvador.
A vítima foi levada para o primeiro cativeiro, uma
casa na zona rural de Valença. Alguns dias depois, Ramiro foi levado
para outra residência, em Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de
Salvador, onde permaneceu até ser liberado. A polícia acredita que
enquanto esteve preso, o ex-prefeito estava sob os cuidados de André,
responsável por tomar conta da vítima nos dois cativeiros.
Liberdade
No dia 11 de fevereiro, portanto 25 dias após o sequestro, a família de Ramiro conseguiu reunir o dinheiro que os bandidos pediram e fizeram a entrega da quantia. O dinheiro, em espécie, foi entregue no município de Taubaté, no interior de São Paulo.
A polícia informou que André e outro comparsa foram
os responsáveis por receber o valor. A quantia não foi divulgada, mas os
investigadores estimam que o sequestro tenha custado para os Queiróz
cerca de US$ 1 milhão.
No dia seguinte, pela manhã, o ex-prefeito foi
liberado pelos bandidos em Simões Filho, na Região Metropolitana de
Salvador. Ele pegou um táxi até a casa de um dos filhos dele, em
Salvador, e seguiu para Valença, onde chegou por volta das 17h. Ramiro
teve apenas uma fissura no braço, causada por uma queda que ele sofreu
no cativeiro. Ele ainda será ouvido pela polícia.
André foi preso dois dias depois, quando almoçava em
uma churrascaria no km 19 da Rodovia Presidente Dutra, em Caçapava
(SP). Com ele estavam os baianos Márcio Reis dos Santos, o Bradock, 42,
Geraldo Alves de Carvalho Neto, o Pastel, 36, e o pernambucano Carlos
Eduardo Rabello, o Naja, 47. Os policiais encontraram com o grupo US$
461 mil dólares em espécie, distribuídos em dois carros, um Honda Fit e
um HB20. O dinheiro foi devolvido para a vítima.
Histórico
Apesar de ter nascido em Recife, Carlos morava no bairro da Caixa D'Água, em Salvador. Ele foi preso pela primeira vez aos 24 anos, por receptação de veículo, em Recife. Três anos depois, na mesma cidade, foi preso novamente por assalto a carro-forte e passou três anos na prisão.
Em 2001, no mesmo ano em que deixou a cadeia, foi
preso de novo, no Maranhão. Carlos Eduardo estava com um grupo procurado
por roubo a banco e passou um ano e cinco meses na prisão. Em 2005,
acabou capturado na Bahia, depois de participar do assalto ao Banco do
Brasil de Guanambi. Ele ficou na cadeia até agosto de 2017.
Já Márcio morava em Cajazeiras. Passou 13 anos preso
depois de participar do assalto ao Banco Bandeirantes, na Feira de São
Joaquim, e do Itaú, em Porto Seco Pirajá, ambos em Salvador, em 1998. A
polícia também investiga a atuação dele em roubo a carros e outros
crimes.
Geraldo morava em Lauro de Freitas, na RMS. Em abril
de 2014 ele foi preso em Simões Filho acusado de participar de uma
saidinha bancária. Três anos e 20 dias depois ele conseguiu o direito de
passar para o regime semiaberto, mas não retornou mais para a cadeia e,
por isso, era considerado foragido.
André, Carlos Eduardo, Márcio e Geraldo serão
indiciados por extorsão mediante sequestro, e estão custodiados na
carceragem do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A
polícia não descarta a participação de outras pessoas no crime, e ainda
não identificou qual o líder da quadrilha.
Nesta segunda, Márcio deu uma pista. Segundo ele, um
homem chamado Luciano, morador do Rio de Janeiro, teria ajudado no
sequestro. Quando questionado sobre a participação dele no crime, o
preso preferiu o silêncio.
FONTE: Gil Santos do Correio da Bahia/reprodução
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