segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Salvador: 'Quero as provas', diz viúva de mestre de jiu-jítsu morto pela PM

Marta, a viúva, também é mestre de jiu-jítsu e cobrou respostas da SSP-BA (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
“Meu marido está espancado, o crânio dele está esmagado. E não vi marcas de tiro”. Com essas palavras, a esposa do mestre de jiu-jítsu Irailson Gama Costa, Marta Helena Villas Boas, reagiu à declaração da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) de que seu marido tinha roubado um carro e trocado tiros com a polícia. 
Irailson foi encontrado no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues na noite de domingo (2), após cinco dias desaparecido. Durante o velório da vítima, conhecido como Sinho Baiano, Marta, que também é mestre de jiu-jítsu, cobrou respostas da SSP. Ele era um dos principais nomes do esporte no estado.Eu quero as provas. Cadê as armas? A guarnição, onde foi isso”, questionou, em entrevista ao CORREIO, no Cemitério do Campo Santo. 
Ela disse que, embora a versão da polícia seja de que ele tenha se envolvido em uma troca de tiros, o corpo de Irailson não tem marcas de perfurações. “Como uma pessoa depois de morta vai trocar tiros? Depois do cérebro afundado vai trocar tiros? Essa é a desculpa que sempre dão”, desabafou. 

De acordo com a SSP, Irailson teria dado entrada no Hospital Geral Ernesto Simões, após o confronto com a polícia. Ele teria morrido na unidade de saúde. Marta nega que exista registro do marido no Ernesto Simões, assim como em outras unidades. Segundo Marta, uma hora antes de divulgar a nota à imprensa, a SSP entrou em contato com a família. Um representante do órgão perguntou se ela sabia das "informações que estavam chegando". Durante a entrevista, Marta frisou que não havia nenhum registro de entrada do marido em hospitais públicos, nem em delegacias. 
Ela própria esteve em vários hospitais da cidade, desde a quarta-feira (28), quando ele desapareceu. 
“Eu só fiquei sabendo que o meu marido estava morto porque eu fui até o IML. Persisti na busca. Fui em hospital, no HGE, fui no Hospital do Subúrbio, não tinha entrada nenhuma. Fui em delegacias e também não tinha nada. Até a SSP estava sem entender, porque não existia a entrada dele. E agora apareceu, porque está repercutindo né?”, disse. 
Confira a entrevista na íntegra


Confronto com a polícia

A SSP informou que Iraílson e outro homem ainda não identificado estavam a bordo de um veículo com restrição de roubo e teriam entrado em confronto com policiais da Rondas Especiais da Polícia Militar Baía de Todos os Santos (Rondesp/BTS).

"Após denúncias de que dois homens realizavam assaltos na região da Barros Reis, no último dia 28, policiais da Rondesp/BTS localizaram Iraílson Gama da Costa e outro homem ainda não identificado num veículo HB20 cinza com restrição de roubo, na altura da Avenida Terminal da França, no Comércio. De acordo com os policiais, a dupla reagiu à abordagem e foi atingida. Encaminhada para o Hospital Ernesto Simões, não resistiu aos ferimentos. Dois revólveres calibre 38 foram apreendidos na ação, juntamente com o carro utilizado por eles, tomado de assalto no dia 27 de novembro, pela manhã", disse a SSP, em nota. 
De acordo com a SSP, os dois revólveres calibre 38 foram apreendidos na ação. "Neste domingo, a família de Iraílson reconheceu o corpo e, nesta segunda, fez a retirada no Instituto Médico Legal para o sepultamento. Perícias foram realizadas no local do confronto, cujo registro foi feito na Corregedoria da Polícia Militar", completam. 
O corpo do mestre de jiu-jítsu foi velado no cemitério Campo Santo (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
Reagido a assalto
A suspeita da família era de que ele tivesse reagido a uma tentativa de assalto. A SSP informou que não há registro de assalto. 

De acordo com o cunhado de Sinho, o também mestre de jiu-jítsu Marcelo Villas Boas, 41 anos, a família não sabia o paradeiro do mestre desde quarta-feira (28). Na noite de domingo, a esposa de Sinho, Marta Helena, foi até a sede do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML), nos Barris, e descobriu que o corpo do marido estava lá. 
Sinho Baiano começou a lutar jiu-jítsu aos 13 anos. Aos 21, participou do primeiro campeonato vale-tudo. Hoje, boa parte da família – incluindo a esposa, com quem estava há 15 anos, e o filho de 12 anos – também se dedica ao esporte. 
"A gente construiu uma família no jiu-jítsu", declarou Marta, ao CORREIO, durante o velório do marido. 
Entre os principais resultados dele, estão o tricampeonato baiano estadual na modalidade, o 3º Lugar na Copa do Mundo de Jiu-Jitsu, em 2010, e o 1º lugar em peso e absoluto da 2ª Etapa do Campeonato Mundial, em 2015, em Buenos Aires. Este ano, Sinho também foi vice-campeão do Floripa Fall International Open Jiu-Jítsu, em Florianópolis.
“Sinho era um campeão. Dedicado ao esporte, cheio de sonhos. Estava com planos para ir para a Europa lutar com o filho, com a família. O jiu-jítsu uniu todo mundo. Infelizmente, o sonho foi interrompido”, lamentou Marcelo. 
Como professor, Sinho tinha um projeto para ensinar o esporte na Base Comunitária de São Caetano, bairro onde morava com a família. No projeto, ministrava aulas gratuitas de jiu-jítsu para crianças e adultos. 
"Ele era um professor muito importante na cidade pela sua trajetória no esporte. Ele fazia um trabalho social importante no bairro de São Caetano com crianças carentes. É uma perda para o esporte na Bahia", afirmou o diretor da Federação Baiana de Jiu-jítsu e MMA Ricardo Caldeira. 
Aluno de Irailson, o atleta de jiu-jítsu Felipe Cavalcante, 17, foi um dos que foi se despedir do mestre. Eles começaram a treinar no fim de 2015, quando o adolescente tinha 15 anos. Na época, Felipe já fazia judô e descobriu as aulas de Irailson no Facebook. 
"O mestre era uma pessoa excepcional. Sempre me ajudou e estava me ajudando e correr atrás do meu sonho, que é viver do jiu-jítsu". 
fonte:Correio da Bahia 03/12/2018 -18:08min.

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