sexta-feira, 17 de abril de 2020

Covid-19: PM-BA tem 96 policiais afastados por suspeita de infecção


O sargento da reserva foi a primeira morte pela Covid-19 na PM baiana (Foto: Divulgação)
A Polícia Militar da Bahia, que tem 30 mil homens em sua tropa, registrou até ontem 299 casos suspeitos de PMs infectados pela covid-19 em todo o estado - destes, 96 ainda estão afastados para confirmação de diagnóstico. Além disso, seis testaram positivos, entre eles o sargento da reserva Carlos Alberto Nascimento Macedo, 52 anos, primeiro óbito na corporação causado pela doença. Ele morreu na quarta (15) no Hospital Santa Izabel.
“Foi tudo muito rápido. Ele acreditava que era uma simples gripe”, disse a mulher do sargento, a professora Janira Francis da Silva, 59. 
“Foram cinco dias em casa ligando para o Disque Coronavírus (155), mas diziam para ele ficar em casa, já que não tinha sintomas graves. Quando ele começou a ter dificuldade para respirar, levamos ao Santa Izabel. De lá, ele não saiu mais”, lamentou Janira. “Diziam que ele poderia ter se tratado em casa, que a ida dele a um hospital era desnecessária, por causa da aglomeração”, emendou. 
Janira está assustada, pois além de lidar com a perda do marido, teme ter sido infectada. “Meu marido morreu no Santa Izabel e o hospital só mandou a gente ficar em quarentena. Eu e a minha filha, de 17 anos, convivíamos com meu marido diariamente e o hospital não fez o teste". 
Ao CORREIO, a assessoria de comunicação do Santa Izabel confirmou que não realizou o teste nos familiares. Por meio de nota, a unidade de saúde disse que "se solidariza com o luto dos familiares do referido paciente e esclarece que segue rigorosamente as recomendações do Ministério da Saúde e da  Secretaria da Saúde do Estado da Bahia".
De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), baseada na Nota Técnica n° 54, as unidades de saúde são orientadas a realizar a coleta de amostras somente quando o caso suspeito de covid-19 se enquadrar nos seguintes critérios: pacientes internados com suspeita de covid-19; pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG); profissionais de saúde com síndrome gripal suspeitos de covid-19 ou contactantes de casos confirmados de covid-19 mesmo assintomáticos; pacientes que foram a óbito com suspeita de covid-19 cuja coleta não pôde ter sido realizada em vida; ou pessoas com febre, suspeitas de infecção, triadas nos aeroportos, portos e nas estradas.
EPI


Apesar da primeira morte da corporação ter sido de um policial da reserva, a Associação dos Policiais e Bombeiros e Bombeiros Militares e seus Familiares (Aspra) da Bahia aponta que a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) entre militares pode provocar problemas de saúde à tropa. "A Aspra tem recebido dezenas de denúncias de entrega de EPIs insuficiente e ingressou com ação junto ao Tribunal de Justiça cobrando proteção para os militares baianos". 

Entre os PMs infectados está um cabo lotado no Quartel Geral da PM, no Largo dos Aflitos. O militar, que não teve o nome revelado, tem 43 anos e está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Aeroporto, unidade particular em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). O quadro de saúde dele é estável. Um familiar conta que o cabo apresentou os sintomas logo após deixar um plantão no quartel, no dia 9 deste mês, e foi direto para o Hospital Aeroporto. "E de lá não saiu mais".  
O cabo mora com a mulher e o enteado de 14 anos num condomínio de prédios em Lauro de Freitas. Por segurança, ambos estão em quarentena. "O resultado do exame da mulher dele  deu negativo", disse o familiar, que comentou: "Ainda estamos preocupados porque ele (cabo) teve contato com outros parentes que moram no mesmo condomínio". 
Policiais militares vão às ruas protegidos por máscaras


Segundo a Aspra, entidade que representa militares, a ausência de EPIs tem resultado em problemas de saúde na tropa. "Após ação judicial, o Estado providenciou as máscaras, mas, ainda assim, não segue com as recomendações de especialistas de que máscara de pano, como as distribuídas pela PMBA, devem ser trocadas a cada duas horas. Mas os militares recebem apenas duas máscaras para o serviço de 12 e 24 horas". 

Ontem, a equipe do CORREIO foi às ruas e não encontrou policiais militares  sem máscaras nas principais vias de Salvador.  
Ainda assim, um policial da 26° Companhia Independente (CIPM/Brotas), onde dois PMs foram afastados com suspeita de covid-19, relatou que na unidade faltam máscaras, luvas e álcool em gel. Realidade diferente da do Batalhão de Choque. "Aqui, pelo menos, tem de tudo. O comandante proíbe a saída sem os EPI's", declarou um capitão. 
Ex-dirigente da Aspra, o deputado estadual Soldado Prisco ressalta que ‘os policiais estão na linha de frente e é  preciso investir em mais EPIs para que eles estejam de fato resguardados". 
Em nota, a PM informou que assim que iniciou a pandemia, os policiais foram orientados a adotar algumas medidas no cumprimento do expediente para se protegerem do vírus. Além da utilização de máscaras, álcool em gel e dos cuidados básicos de higiene, durante o rádio patrulhamento os PMs foram alertados a abrir os vidros das viaturas; higienizar os EPIs, manter distância das pessoas, lavar as mãos e evitar tocar o rosto.
"O Departamento de Apoio Logístico (DAL) da PM também adquiriu 60 mil máscaras de tecido para todos os integrantes da tropa. A PM tem feito ainda parceria com a Saeb e Sefaz para realizar compras vultosas e garantir o fornecimento e distribuição de materiais de higiene  e EPIs", diz a nota da corporação. "Vale ressaltar que não há como identificar a origem de contaminação, tendo em vista que a Bahia já tem diversos casos de transmissão comunitária", completa o texto.

fonte: Correio da Bahia matéria assisiana por Bruno Wendell -17/04/2020 11h

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