Debite-se desde já na conta do presidente Jair Bolsonaro o que acontecer de arruaça, de violência e de ataques à democracia e às suas instituições nos atos públicos que marcarão o próximo 7 de setembro em Brasília, São Paulo e outras cidades do país.
O general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, referiu-se aos atos como “fogo de palha”, algo que parece intenso e importante, mas que acaba rápido, sem causar maiores danos. Tomara que ele esteja certo. Mas se não estiver?
Confrontar a lei e a ordem está no DNA do presidente da República desde que ele como soldado, à revelia dos seus superiores, foi garimpeiro em Serra Pelada, no Pará. Seu negócio sempre foi ganhar dinheiro, limpo ou sujo, pouco importava.
É órfão da ditadura de 64 que não se cansa de exaltar, e da tortura a presos. Em abril do ano passado, quando o Brasil já superava a China em número de mortos e de infectados pela Covid-19, ele participou pela primeira vez de atos antidemocráticos.
Na porta do Quartel-General do Exército, em Brasília, rodeado por devotos que carregavam faixas pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro mandou a Constituição às favas e proclamou entre tosses e soluços:
“Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas. […] Chega da velha política. É agora o povo no poder.”
Que presidente valeu-se antes de retórica tão incendiária? Nem João Goulart, no final de março de 1964, no célebre comício da Central do Brasil. Dali a poucos dias, Goulart foi deposto pelos militares, exilou-se e só voltou morto para ser enterrado.
“Povo no poder” pediu a esquerda que pegou em armas depois que a ditadura militar de 64 tirou a máscara e se assumiu como tal. “Chega da velha política” soa hoje como uma ironia depois que Bolsonaro rendeu-se ao Centrão e tornou-se alvo de uma CPI.
Há fortes indícios de que militares da reserva, muitos deles que recepcionaram Bolsonaro em aeroportos durante sua campanha em 2018, estão agora por trás do 7 de Setembro verde-amarelo que poderá tingir-se de vermelho de sangue, tomara que não.
Fervilham em canais digitais mensagens que dão a medida do ponto a que essa turba ignara ameaça chegar em defesa do restabelecimento do Estado Autoritário que grande parte dela só sabe o que foi de ouvir falar porque não viveu.
O governador João Doria (PSDB), de São Paulo, afastou da Polícia Militar um coronel que comandava cinco mil homens e que os convocava para a manifestação na Avenida Paulista. A Polícia Civil de São Paulo detectou que isso se repete em outros Estados.
E a tudo assistimos bestificados, quase inertes.
Fonte: BLOG DO NOBLAT - 24/08/2021 09h:55min.
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