O Ministério das Relações Exteriores buscou, em segredo, cerca de 2 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, em viagem à Índia. O valor gasto com os imunizantes custou 10% do montante que já havia sido negociado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e foi perdido. A informação é do jornal Folha de S.Paulo.
Em maio, veio a público que a Fiocruz sofreu um desfalque de R$ 2,5 milhões (US$ 500 mil) em uma viagem para buscar vacinas na Índia, em janeiro deste ano. O valor era referente à contratação de um aeronave que traria para o Brasil os primeiros 2 milhões de doses do imunizante Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19. A quantia gasta pelo Itamaraty, no entanto, foi apenas US$ 55 mil (R$ 288 mil na cotação atual), 10% do montante anterior.
De acordo com a reportagem, tudo foi realizado em segredo – inclusive sem o conhecimento do Ministério da Saúde, que coordena e gerencia a aquisição e a distribuição de vacinas. A pasta ficou sabendo do transporte quando o avião da Emirates já estava na Índia, embarcando as doses contra a Covid-19.
Prejuízo
A viagem de janeiro foi cancelada pela fabricante Serum Institute of India. Na ocasião, a operação para buscar a vacina já estava montada. O governo federal tentou intervir, por meio dos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, mas não teve sucesso.
Diante da impossibilidade de buscar o imunizante, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a dizer que o fracasso da missão se devia ao fuso horário, que dificultou os trâmites diplomáticos. Nem mesmo uma carta enviada ao premiê Narendra Modi pelo presidente Jair Bolsonaro, em 8 de janeiro, pedindo urgência na liberação da carga, resolveu a situação.
O valor perdido pela Fiocruz seria o suficiente para comprar 90 mil doses prontas da vacina Oxford/AstraZeneca, que custa US$ 5,25 a unidade, equivalente a cerca de R$ 27,40.
Além do voo fretado pela Fiocruz, o Ministério da Saúde também havia contratado um avião da companhia aérea Azul. A aeronave chegou a ser adesivada e exibida pelo governo em redes sociais. Com a impossibilidade da viagem, na ocasião, o governo anunciou que usaria o veículo para distribuição de cilindros de oxigênio.
O contrato com a Azul acabou culminando em uma ação popular que questionava a operação e apontava dano ao erário. O juiz Marcelo Gentil Monteiro, da 1ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, extinguiu a ação, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU). Contudo, ainda cabe recurso, tanto do autor quanto do Ministério Público.
Fonte: METRÓPOLES EM 26/08/2021 - 13h
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