terça-feira, 15 de agosto de 2023

Caso das Joias: Dias depois de dizer nunca ter visto Rolex, Wassef confessa ida aos EUA para recuperar relógio

                                           foto:reprodução/Globo News

Frederick Wassef, o advogado do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL), deu uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (15) em que confirmou, diante de jornalistas, que fez viagem para os Estados Unidos entre 14 e 29 de março com o objetivo de comprar o Rolex que, segundo a Polícia Federal, havia sido desviado do acervo da União e vendido para uma loja de penhoras na Pensilvânia pelo general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Apesar da confissão, Wassef afirmou que seu objetivo era realizar a devolução do relógio e que não agiu sob ordens do tenente-coronel Mauro Cid.

O advogado afirma que a viagem já estava marcada, que foi organizada para fins pessoais e o relógio comprado com seus próprios recursos; “dinheiro do meu banco”. Ao final, Wassef aproveitou para colocar em dúvida as notícias que apuraram se tratar de uma recompra. “E se esse relógio for outro?”, ironizou.

“Usei do meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando comprei o relógio era cumprir decisão do Tribunal de Contas da União. Fiz o relógio chegar ao governo. O governo do Brasil me deve R$ 300 mil”, declarou.

O curioso é que apenas dois dias antes da coletiva, no último domingo (13), o blog da Andrea Sadi, no g1, publicou uma entrevista com o advogado em que ele diz exatamente o contrário daquilo que declarou na coletiva de imprensa dessa terça. Na ocasião, ele declarou que nunca tinha visto o Rolex.

“Nada. Nunca vi esse relógio. Nunca vi joia nenhuma. Desafio a provarem isso. Falo e garanto”, disse o advogado que, na ocasião revelou que só daria explicações sobre a viagem aos EUA em uma entrevista ao vivo, como a dessa data.

Nome no recibo

O nome de Wassef aparece nos recibos de recompra do relógio Rolex de ouro branco cravejado de diamantes que havia sido vendido pela Organização Criminosa de Bolsonaro na loja Precision Watches, da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

O documento faz parte da investigação da quadrilha que vendeu joias recebidas por Bolsonaro em viagens oficiais no Oriente Médio.

Operação de recompra

A operação para recompra do kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e o relógio da marca Rolex é detalhado pela PF e consta na decisão de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação na última sexta-feira (11).

O alerta foi dado em 8 de março de 2023, diante de especulações de uma possível ação da PF no bunker montado na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília, para guardar objetos surrupiados do acervo da Presidência da República.

Mauro Cid teria contatado Crivellati, que ficou responsável pelos objetos no bunker, falando sobre uma possível medida do Tribunal de Contas da União para entrega do relógio, que já havia sido vendido pelo grupo.

A articulação ocorreu em um grupo no WhatsApp chamado "Kit de Ouro Branco" com Cid, Crivelatti e o também ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara. Além do relógio vendido na loja da Pensilvânia, o restante das peças estavam à venda em lojas do complexo Seybold Jewelry Building, em Miami.

Alertado por Fabio Wajngartem, ex-Secretário de Comunicação da Presidência e também assessor de Bolsonaro, de que o TCU pediria as peças, Cid entrou em contato com Wassef para encomendar a missão de recompra do Rolex. Wassef embarcou para os EUA em 11 de março rumo a Fort Lauderdale, na Flórida, e voltou ao Brasil no dia 29 de março, já com o relógio recomprado.

Entrega a Mauro Cid em SP

De acordo com mensagens de WhatsApp obtidas pela PF, Wassef teria retornado a São Paulo em 29 de março da viagem feita aos EUA em que o Rolex foi recomprado. Na mesma data, o coronel Marcelo Câmara, militar da Ajudância de Ordens de Bolsonaro subordinado a Cid, escreveu para o chefe que “o material” estava “em São Paulo”, em referência ao relógio.

Ainda de acordo com as mensagens obtidas pela PF, o próprio Cid estaria na capital paulista naqueles dias, onde acompanhava as filhas em competição de hipismo. Àquela altura o escândalo das joias sauditas já estava na imprensa, mas não era conhecido publicamente o destino das joias.

Durante sua estadia em São Paulo, Cid estava totalmente voltado para a rotina das filhas. Deslocava-se com frequência entre as competições de hipismo e shooping centers, onde frequentou cinemas e restaurantes com a família. Com a corrida a rotina de passeios, só foi possível o encontro para entrega do Rolex em 2 de abril.

“Em 02/04/2023, Mauro Cid avisa Frederick Wassef: ‘Estou indo para a Hípica’ e em seguida passa as coordenadas geográficas da Sociedade Hípica Paulista. (…) Mauro Cid, possivelmente, só ficou com a posse do relógio em 2 de abril, após um encontro no local com Frederick Wassef”, diz o relatório da PF entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Apenas dois dias depois, em 4 de abril, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução do kit de joias, o que foi feito pela defesa de Bolsonaro.

Fonte: Revista Fórum - 15/08/2023

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