sábado, 12 de agosto de 2023

Região de Irecê: A história da agroindústria que fatura R$ 280 mil por ano


                            
 Paula Ferreira, também é pedagoga pela UNEB -Campus XVI - de Irecê - Foto:Marina Silva/Correio da Bahia

 "Eu preciso ter o direito de alimentar os meus filhos com comida limpa". Mais que uma frase de impacto, esse é o mantra da vida de Paula Ferreira, fundadora da Orgânicos Quintal, agroindústria do semiárido baiano que foi o case levado pelo Sebrae para o painel Polos de desenvolvimento do Interior, do Fórum Agenda Bahia 202

3. A história do negócio da baiana - que foi qualificada empresarialmente pelo órgão - que hoje alcança todo o polo comercial de Irecê tem início com a agricultura de subsistência no município de Barro Alto.

Como em muitas famílias de pequenos produtores, a jornada de Paula começou cedo, na agricultura de sequeiros - técnica de cultivo sem irrigação e que utilizando a água da chuva como alternativa à seca. Aos 9 anos, quando começou a ajudar na pequena produção dos pais, ela não imaginava ser dona de uma empresa agroecológica, responsável por produzir e comercializar frutas, verduras, hortaliças e produtos processados sem adição de agrotóxicos ou conservantes.

Ainda menina, Paula circulava pelas ruas do pequeno distrito de Lagoa Funda, hoje com 15 mil habitantes, vendendo milho, feijão, batata e outros vegetais da humilde produção agrícola familiar. Depois de alguns anos, ela iniciou um projeto no quintal de casa, trabalhando sozinha, desde a irrigação com um regador à comercialização dos alimentos na própria comunidade. "Eu tive o privilégio de nunca ter utilizado veneno na minha vida, porque meus pais sempre produziram de forma alternativa e nunca tiveram interesse em utilizar os agroquímicos", afirmou.

Em 2016, ela conseguiu a certificação de unidade de produção primária, com um projeto de extensão dos negócios. Hoje, sete anos depois do selo, o princípio básico de abastecimento da Orgânicos Quintal permanece o mesmo: "Primeiro atendo às necessidades da minha família, segundo, às da minha comunidade, e, por último, vendo para fora do meu território", explicou Paula.



Paula Ferreira, fundadora da Orgânicos Quintal, agroindústria de Barro Alto. Crédito: Marina Silva/CORREIO

O uso de águas dos subsolos, além de ser uma alternativa à falta de chuvas no semiárido, ajudou no aumento da variedade da produção, antes muito concentrada no feijão, milho e hoje abrangendo hortaliças, verduras e frutas diversas. A agroindústria de Paula planta beterraba, cenoura, cebola, tomate, coentro, batata-inglesa, açafrão, todas as variedades de alface, entre outros. "É como a gente diz: na nossa terra, tudo o que se planta dá".

A Orgânicos Quintal possui três funcionários na unidade da produção vegetal e três no setor da agroindústria, onde há o processamento das frutas e vegetais que não estão em bom estado para a venda e que são utilizados na produção de geleias, frutas e ervas desidratadas, extratos, farinhas e temperos, sem utilização de agroquímicos. A comercialização dos vegetais naturais e itens processados acontece durante toda a semana, entre entregas em entreposto comercial, vendas em feiras e delivery para consumidores de Barro Alto.

Da certificação da agroindústria até 2023, a extensão territorial do projeto de Paula cresceu 50%. O terreno, que é no fundo da casa da empreendedora, saltou de 4.2 para 8.4 hectares (cerca de 84 mil m²). Anualmente, a Orgânicos Quintal produz, em média, 50 toneladas de produtos naturais e 30 toneladas dos processados, faturando R$ 280 mil.

Trabalhar na gestão de uma agroindústria também é um ato político para Paula, que preza por uma alimentação limpa, sem consumo de itens alimentícios contaminados por produtos agroquímicos durante as etapas de produção ou processamento. "Às vezes as pessoas não imaginam a quantidade de agrotóxicos que possui em um alimento que elas consomem. Eu tenho uma alegria muito grande de servir aos meus filhos um alimento que, de fato, vai nutri-los, além de ofertar um produto natural para as pessoas da minha região", diz, orgulhosa.

Desafios

No mesmo painel, André Oliveira, superintendente de Novos Negócios e Planejamento e Executivo das Áreas Tecnológicas de P&G, Mineração e Agroindústria no Senai Cimatec, e Rafael Valverde, CEO da Eolus Consultoria, discutiram os desafios do desenvolvimento do semiárido baiano, que possui forte potencial em cinco setores: indústria de energias renováveis, mineração, agricultura, produção de vinhos e cultura de sisal.

Apesar da diversidade de oportunidades econômicas, extensão territorial, falta d’água e perda de 5 milhões de hectares da Caatinga nos últimos 30 anos dificultam o desenvolvimento da região. "O nosso semiárido é um dos maiores do planeta, com 27 milhões de moradores. O tamanho em si do semiárido já é um desafio. Sabemos muito sobre Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, o que é importante, mas a gente precisa entender mais sobre a Caatinga", pontuou André Oliveira.

Outro desafio é a necessidade de padronização do aproveitamento de potencial energético da região. Os polos industriais do segmento precisam estabelecer o mesmo nível de produção e qualidade, de acordo com Rafael Valverde. "Os polos industriais precisam ter a mesma qualidade de mão de obra e fornecedores. Portanto, é preciso um trabalho imenso dos investidores com as instituições de fomento", explicou.


O Agenda Bahia 2023 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, apoio institucional da Prefeitura de Salvador, FIEB, Sebrae e Rede Bahia, apoio da Wilson Sons, Salvador Bahia Airport, Suzano, Sotero, Solví, Salvador Shopping Online, Deloitte e 4events e parceria da Braskem, Rede+ e Latitude 13 Cafés.

Fonte: Millena Marques/ Com orientação de Jorge Gauthier - 12/08/2023 - 15h

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