Com o Brasil superando as 525 mil mortes por covid-19, parte do recursos extraordinários que deveriam ter sido destinados para o Sistema Único de Saúde (SUS) para combater a pandemia pode ter bancado despesas ordinárias dos militares
das Forças Armadas. O levantamento integra relatório da procuradora Élida Graziane Pinto, do Ministério Público de Contas de São Paulo.
O documento foi encaminhado à Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no
Senado. Dos recursos extraordinários
desembolsados ano passado pela União para
o combate à covid, a Defesa ficou com
R$ 435,5 milhões. Ao todo estavam previstos
cerca de R$ 715 bilhões pelo governo para
o combate da pandemia, conforme dados do
Monitoramento dos Gastos da União com
Combate à Covid-19, do Tesouro Nacional.
Élida aponta que o Ministério Público Federal
deveria ter conhecimento de dados levantados
em seu relatório para ter melhores condições
de analisar denúncias em torno da
responsabilização
do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello,
sobre a “militarização do Ministério da Saúde”.
Segundo ela, esse fato também pode ter tido
reflexos no orçamento do SUS.
Segundo a procuradora, ao longo deste ano
a lista de despesas empenhadas em favor
de órgãos militares com recursos
diretamente transferidos pelo Fundo
Nacional de Saúde é grande. Desse dinheiro
que deveria ter ido ao SUS, o Ministério
da Defesa gastou R$ 58 mil com material
odontológico, R$ 5,99 milhões com energia
elétrica, água e esgoto, gás e serviços
domésticos. Também há gastos com
R$ 25,5 mil com material de coudelaria ou
de uso zootécnico, R$ 1 milhão com
uniformes e R$ 225,9 mil com material
de cama,
mesa e banho e R$ 6,2 milhões com
a manutenção e a conservação de bens
imóveis.
Do Fundo Nacional de Saúde (FNS) saíram,
por exemplo 15,6 milhões pagos à Comissão Aeronáutica de Washington, em 25 de
fevereiro deste ano. A Comissão Aeronáutica
na Europa fez dois pagamentos com dinheiro
do FNS: o primeiro, de R$ 4,5 milhões, em
2020, e o segundo, de R$ 7,1 milhões,
em 2021.
Hospitais
Outros R$ 100 milhões foram para despesas
médico-hospitalares com materiais e serviços
em hospitais militares, “sem que se tenha
prova de que foram gastos em benefício
da população em geral, ao invés de apenas
atender aos hospitais militares, os quais
se recusaram a ceder leitos para tratamento
de pacientes civis com covid-19”.
Utilizar dinheiro de um crédito extraordinário
para cobrir gastos cotidianos, segundo a
autora, seria uma forma de burlar o teto
dos gastos. De acordo com Élida, a hipótese
de admissibilidade do custeio de despesas
militares ordinárias por meio de créditos
extraordinários é, na sua visão, “controvertida”
e tenderia, a seu ver, a “configurar burla
à própria razão de ser do crédito
extraordinário e também ao teto de
despesas primárias, a que se refere a
Emenda 95/2016.
No documento de 238 páginas, a procuradora
frisa ainda que, a despeito de ter tido uma
dotação autorizada de R$ 69,88 bilhões para enfrentamento da pandemia, dos quais
R$ 63,74 bilhões foram destinados ao
Ministério da Saúde, o SUS efetivamente
só contou com R$ 41,75 bilhões “porque
o governo federal deixou de executar
praticamente o expressivo saldo de
R$22 bilhões em relação aos créditos
extraordinários abertos no Orçamento
de Guerra (Emenda 106/2020) no ano
passado.”
“É preciso que a CPI da Pandemia, o
MPF (Ministério Público Federal), o TCU
(Tribunal de Cotas da União) e o CNS
(Conselho Nacional de Saúde) apurem,
mais detidamente, a motivação e a
finalidade de várias despesas oriundas
de recursos do Fundo Nacional de Saúde
realizadas por diversos órgãos militares”,
escreveu Élida em seu relatório.
O Ministério da Defesa se limitou a responder
ao relatório por meio de uma nota de
poucas linhas: “Os assuntos pautados
na Comissão Parlamentar de Inquérito
da covid-19, no Senado Federal, serão
tratados apenas naquele fórum”.
Fonte:ESTADÃO -07/07/2021 -08h:41min.
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