Ramin Rahman, jornalista afegão que conseguiu fugir do país após a invasão do Talibã, descreveu ao jornal The Guardian os momentos de tensão quando embarcou às pressas em um avião norte-americano. Tudo começou, segundo Rahman, com um telefonema de seu amigo.
"Ele me disse para ir ao aeroporto porque um avião de evacuação da embaixada alemã estaria saindo naquele dia. Ele colocou meu nome na lista de evacuação porque eu havia trabalhado para a mídia alemã e estava em processo de solicitação de visto no ano passado", contou.
"Não tive tempo para pensar. Parecia uma tábua de salvação para mim como jornalista progressista e tatuado -- basicamente a antítese do que o Talibã representa. Peguei meu laptop, telefone e nada mais. Fiquei com medo desde o minuto em que saí de casa -- nunca senti tanta pressão", afirmou ao jornal.
Rahman conta que, assim que chegou ao terminal internacional, se chocou com a quantidade de homens e mulheres com seus filhos chorando.
"As pessoas ao meu redor entraram em pânico ao perceber que talvez não houvesse um avião para elas. Mesmo se eles tivessem passagens, havia incerteza quanto à decolagem do vôo. Eles estavam assustados. Então, as pessoas começaram a degradar o aeroporto", conta. Foi então que a situação começou a piorar.
"Olhando pela janela, vi toda uma cena se desenrolar em torno de um avião tentando partir para a Turquia. As pessoas estavam entrando no avião e até mesmo penduradas nas escadas. A capacidade da aeronave estava esgotada e as pessoas estavam sendo empurradas das escadas para que o avião pudesse decolar. Eles gritavam tão alto que podíamos ouvi-los de dentro do aeroporto", afirma o jornalista.
À noite, Rahman conta que alguém gritou avisando que os membros do Talibã estavam dentro do aeroporto. "As pessoas começaram a gritar e correr para a pista. O aeroporto estava um caos total, sem ninguém para controlar a situação. Eu ouvi disparos do lado de fora da porta do aeroporto. Fiquei pensando que o Talibã havia chegado."
O jornalista, no entanto, não conseguiu embarcar no avião alemão, já que as evacuações para o país não começariam até o dia seguinte. "Era uma notícia terrível, e eu sabia que precisava descobrir o que fazer a seguir."
Foi quando ele avistou tropas americanas liderando um pequeno grupo de pessoas para a seção militar da pista. "Nos próximos momentos, eu senti como se o tempo tivesse parado. Tudo o que ouvi foram os americanos dizendo: 'Vamos!'".
"Eu vi um fluxo de pessoas entrando em um avião e o segui. Era tudo que eu podia fazer no momento. Fui levado às pressas para o avião, que tinha centenas de pessoas a bordo. Não havia espaço para sentar -- todos estavam de pé. As pessoas estavam se agarrando umas às outras e aos filhos. Eu não conseguia respirar", conta.
Os pilotos gritavam dizendo que o avião não decolaria por causa do excesso de passageiros. Então, segundo o jornalista, os soldados começaram a puxar as pessoas pelas portas da frente e de trás.
"Foi caótico, desconfortável e estressante. As pessoas estavam empurrando e não havia ar. A cena toda era tão desesperadora, triste e assustadora. Olhei para as mães com recém-nascidos ao meu redor e me senti muito culpado. Decidi descer para que o avião pudesse decolar."
Mas os soldados avisaram ao jornalista que essa seria a única chance de deixar o país. "Os americanos disseram àqueles que estavam parados na porta para entrar no avião. Essa era a única chance. Corremos para dentro do avião e eles fecharam as portas."
Quando o avião enfim decolou, todos aplaudiram. "Houve um sentimento de gratidão pelo piloto americano que decolou. Havia um sentimento geral no ar de que provavelmente teríamos morrido se aquele avião não viesse. Nós estávamos muito felizes."
Fonte: PORTAL IG- 19/08/2021 08h
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