imagem:reprodução
Um médico, que faz atendimentos na Unidade de Saúde da Família (USF) do
Vale do Capão, é acusado de importunação e assédio sexual contra menores. De
acordo com as acusações, o denunciado se valia da função para importunar
sexualmente adolescentes pelas redes sociais e teria também assediado uma
estagiária da unidade.
A polícia informou que o caso corre sob sigilo para proteger
as vítimas. No entanto, confirmou a existência de três boletins de ocorrência
registrados contra o médico por importunação sexual. Os casos teriam ocorrido
há meses, porém, as vítimas não conseguiram ir antes até as autoridades por
medo. Segundo a delegada substituta em Palmeiras, Mariella Silvério, além
das mulheres que registraram queixa, apareceram outras vítimas.
“O acusado não foi ouvido porque ainda faltam testemunhas. Apareceram
novas vítimas, depois dos três registros, que ainda não fizeram o B.O e a gente
precisa ouvir, mas a oitiva com ele já está marcada”, explica a delegada.
Uma das vítimas, cuja identidade será preservada, relata que era
assediada presencialmente e nas redes sociais desde 2019, quando tinha 15 anos.
Antes dos assédios começarem, ela tinha no profissional de saúde um amigo.
“O assédio acontecia quando encontrava ele mesmo e também pelo Instagram
ou WhatsApp. Ele me mandou mensagem uma vez perguntando com o que eu me
distraia. ‘Série, filme, masturbação, nude, ligação...’ Me mandava publicações
meio sexuais também”, diz.
Quando pegou dengue, a vítima foi buscar orientação e ele se aproveitou
da situação: “Ele falou ‘nem anda pelada, sem graça’. Falei que estava com
dengue e andando com mais roupa do que deveria. E ele perguntou: ‘em dias
normais fica andando pelada?’ Ficou insistindo e eu respondi que não”.
Em outro momento, a vítima relata que o médico chegou a chamá-la para
fazer sexo a três. Diante da recusa, ele voltava sempre para insistir.
“Ele me chamou para fazer ménage algumas vezes e eu recusei. Fez isso
diretamente, pelo Whatsapp. Eu recusei e pelo Instagram ele ficava falando que era
‘bobeira’ não aceitar o ménage”, conta.
No caso dessa vítima, o médico pode responder pelo crime de importunação
sexual, quando há, segundo a lei, prática de ‘ato libidinoso’ contra alguém sem
permissão. Além, é claro, do crime de pedofilia virtual, já que a vítima é
menor. Em caso de comprovação do assédio contra a estagiária, ele pode
responder por assédio sexual, quando há uma relação hierárquica entre agressor
e vítima.
A reportagem conseguiu o contato do acusado e o procurou para obter
posicionamento em relação às acusações, mas não obteve resposta.
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Prints
mostram conversa entre vítima e acusado (Foto: Reprodução) |
O grupo defende que o acusado não deve voltar a atender na USF enquanto
as investigações não forem concluídas. “O que o Coletivo Maria Moça pede é que
o médico seja afastado das suas atividades enquanto os fatos são devidamente
apurados pelas autoridades”, explica uma integrante do grupo.
A Prefeitura de Palmeiras afirma ter instituído uma Comissão Processante
para apurar o caso. Sobre o afastamento reivindicado pela comunidade, o
procurador do município, Saulo Queiroz, explica que o profissional é vinculado
ao programa Mais Médicos e que isso só poderia ser feito com o aval do
Ministério da Saúde, que já foi informado da situação. Em resposta, o
ministério já informou a abertura do processo administrativo correspondente,
mas ainda não tem uma decisão.
Queiroz informou ainda que, por conta da natureza do caso e a intenção
de evitar a exposição indevida dos envolvidos, a gestão não pode dar mais
informações. No entanto, fez questão de destacar a questão como alvo de atenção
da prefeitura e que não há uma omissão por parte dos gestores. “Cumpre-nos
asseverar que jamais o Poder Público Municipal foi omisso ou se esquivou das
suas obrigações. Pelo contrário. O município tem envidado esforços para, o
quanto antes, concluir o processo administrativo disciplinar que tramita sob a
sua égide”, afirma.
O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia foi procurado
para informar se acompanha o caso e se há um dado de quantos médicos foram
acusados de assédio sexual na Bahia em 2022.
“O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia informa que não tem
conhecimento da referida acusação, uma vez que nenhuma denúncia sobre esse caso
foi protocolada na instituição. Às denunciantes, o Cremeb orienta que registrem
a denúncia na autarquia para que o caso seja investigado. Em tempo, ratificamos
que esta autarquia federal repudia qualquer comportamento de violência sexual.
No ano passado (2022), o Conselho abriu 4 sindicâncias que envolvem o tema
‘violência sexual’, e em todas elas foram instaurados processos
ético-profissionais. Os 4 casos encontram-se em fase de instrução processual”, disse a instituição em nota.
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Fonte: Correio da Bahia/reprodução - 22/03/2023 07h:43
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