Presidente do STF afirma que não vai 'ficar de conversinha com réu', mas critica imprensa por abrir espaço e entrevistar envolvidos em casos de corrupção.
Londres - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,
criticou nesta segunda-feira, 27, o deputado federal João Paulo Cunha
(PT-SP), condenado pelo mensalão. Para o magistrado, "condenados por
corrupção devem ficar no ostracismo" e não ter espaço em "páginas
nobres" de jornais. As declarações, feitas em sua chegada a Londres,
foram uma resposta ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, que em
entrevista publicada no domingo disse que o magistrado fez um "gesto de
pirotecnia" ao decretar sua prisão no início de janeiro, mas não
assinar o mandado.
As declarações de João Paulo foram feitas ao jornal Folha de S.
Paulo no domingo. "Excluindo a falta de civilidade, humanidade e
cordialidade do ministro, foi um gesto de pirotecnia", disse o
deputado, referindo-se à decisão tomada por Barbosa no dia 6, véspera
de suas férias, quando ele decretou a prisão, mas não assinou o mandado
- segundo o magistrado, por falta de tempo hábil.
Nesta segunda Barbosa foi incisivo em sua crítica. "Esse senhor foi
condenado pelos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Eu não tenho
costume de dialogar com réu. Eu não falo com réu", disse, reiterando:
"Não faz parte dos meus hábitos, nem dos meus métodos de trabalho ficar
de conversinha com réu."
A seguir, o magistrado criticou a imprensa, sem citar nomes de
publicações, por entrevistar os condenados. "A imprensa brasileira
presta um grande desserviço ao país ao abrir suas páginas nobres a
pessoas condenadas por corrupção. Pessoas condenadas por corrupção
devem ficar no ostracismo. Faz parte da pena", entende. "A imprensa tem
de saber onde está o limite do interesse público. A pessoa, quando é
condenada criminalmente, perde uma boa parte dos seus direitos. Os seus
direitos ficam hibernação, até que ela cumpra a pena."
Para Barbosa, entrevistas como a concedida por João Paulo Cunha
passam uma imagem errada dos condenados. "No Brasil, estamos assistindo
à glorificação de pessoas condenadas por corrupção à medida que os
jornais abrem suas páginas a essas pessoas como se fossem verdadeiros
heróis", argumentou.
A troca pública de farpas com o deputado faz parte da controvérsia
sobre a não expedição do mandado de prisão. Outro viés da polêmica foi
a postura dos ministros que sucederam Barbosa na presidência interina
do STF. Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski não assinaram o mandado de
prisão por não considerarem a medida de acordo com o regimento interno
do supremo e por não verem a urgência no caso.
Barbosa chegou a Londres no início da tarde de hoje. Ainda hoje,
tinha previsto em sua agenda um encontro a portas fechadas com o
parlamentar Kenneth Clarke, ex-secretário britânico de Justiça, e
especialista em programas anticorrupção. Sua agenda na capital se
estende até a quarta-feira, quando vai palestrar no tradicional Kings
College.
Antes chegar à Inglaterra, o presidente do STF passou cinco dias em
Paris, onde discursou no Conselho Constitucional - espécie de supremo
francês. Pelas diárias na Europa, que misturaram compromissos oficiais
com férias, o STF previu um total de R$ 14 mil em diárias de viagem.
Fonte:Estadão/reprodução
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