A manicure e seu drama (Foto: Mauro Akin Nassor/reprodução)
Por conta do nervosismo em relação à cirurgia de extração de um cisto no ovário à qual estava prestes a ser submetida, na tarde de anteontem, a manicure Claudijane Duarte de Miranda, 38 anos, foi breve ao se despedir do filho, Renê Miranda dos Santos, 18. “Ele me disse ‘vai com Deus, mãe, eu te amo’, eu disse que amava ele também e falei que se o médico me liberasse, eu estaria em casa à noite. Depois, fui para o hospital”, explicou ela.
O que a manicure não podia imaginar é que aquela seria a última vez em que falaria com Renê, o último dos seus únicos três filhos perdidos na batalha contra as drogas. Por volta das 17h30, homens armados invadiram a casa da família, na Rua Santa Tereza, em Águas Claras, e raptaram Renê. Junto com ele estava um amigo, identificado como Ricardo Santos Santana, 24 anos, que foi levado junto.
Os corpos dos jovens, executados a tiros, foram encontrados próximo à Estrada do CIA, em Simões Filho, ao lado de um matagal, ontem pela manhã. Ambos estavam envolvidos por uma corda - Ricardo tinha os braços atados por um lacre plástico, usado como algema. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) encontrou 13 estojos de calibre .308 e .45 ao redor das vítimas.
Renê é o terceiro filho que ela perde
em três anos. Os outros foram mortos em 2011 e 2012 |
Procura
A notícia da morte do filho chegou ainda na noite de terça-feira, quando Claudijane aguardava a alta médica, no Hospital do Subúrbio. Ela recebeu uma ligação anônima, por volta das 20h, informando que o corpo de Renê estava no Instituto Médico- Legal Nina Rodrigues. “Arranquei o tubo do soro e saí desesperada. Já tive que enterrar dois filhos, não podia suportar a dor de perder o meu caçula”, comentou a manicure. “Quando cheguei em casa, encontrei tudo revirado. Peguei o documento dele e corri para o Nina”, continuou.
Ao chegar no IML, ainda sob efeitos de medicamentos do pós-cirúrgico, Claudijane descobriu que o corpo de Renê não tinha sido transferido para o local. Movida pela esperança de ainda encontrar ele com vida, passou a noite em busca de pistas que a levassem ao paradeiro do jovem. Contudo, quando a informação veio, era para prepará-la para o pior.
“Uma conhecida que passou pelo CIA reconheceu o corpo dele e me ligou cedo dizendo: ‘Pode vir para cá que é Renê’. Quando cheguei, encontrei ele aqui (no CIA), com a mesma roupa que estava vestindo quando nos despedimos, ontem”, declarou Claudijane, entre lágrimas.
Em depoimento à polícia, no local da desova, a manicure informou que o filho e Ricardo eram usuários de drogas. Eles se conheceram quando Claudijane e Renê se mudaram para Água Claras, há cinco meses. Ela explicou que os dois trabalhavam como vendedores de peixes - compravam os pescados no mercado popular da Calçada e revendiam em Jauá, no Litoral Norte. O lucro das vendas era utilizado para sustentar o vício.
“Muitas vezes eu falei para ele, ‘meu filho, largue isso’. Mas ele respondia, ‘não é nada demais não, mãe. Eu só fumo porque é calmante’”, recordou Claudijane. Apesar de tentar tranquilizar a mãe, Renê não seria mero usuário. A Delegacia do Menor Infrator (DAI) confirmou que o jovem foi apreendido este ano por tráfico de drogas. Em 2012, há outra passagem por receptação de veículo roubado.
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