sábado, 11 de fevereiro de 2023

Do Blog do Noblat: Deu a louca nos governadores de Minas Gerais e de São Paulo

Os governadores eleitos Romeu Zema, de Minas Gerais, e Tarcísio de Freitas, de São Paulo falam em vídeo - MetrópolesReprodução

Adélia Prado, 87 anos de idade, a mais famosa e premiada poetisa mineira viva, filósofa, romancista e contista, jamais imaginou que um dia entraria nos trends topics do Twitter, não por seus reconhecidos méritos literários, mas graças ao governador reeleito do seu Estado, o simplório Romeu Zema (Novo).

Em entrevista ao podcast Pauta Quente, em Divinópolis (MG), onde vive Adélia, autora, entre outras obras, de “Cacos para um vitral” (1980) e “A faca no peito” (1988), Zema recebeu do apresentador Flaviano Cunha uma coletânea de 150 poemas de Adélia.

                                       "ela trabalha aqui"?  perguntou Zema foto:reprodução
Ao agradecer o presente, Zema perguntou a Cunha se Adélia não era uma mulher que trabalhava em uma rádio da cidade. Ele simplesmente não sabia de quem se tratava. Zema quer ser o candidato da chamada direita civilizada à sucessão de Lula.

Outro que também quer ser, mas que nega, é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo. Eleito sem nunca ter morado no Estado que ora governa, sem sequer saber a certa altura onde votaria no dia das eleições, ele pisou feio na bola.

Tarcísio vetou um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo que previa validade indeterminada a laudos médicos que atestem o transtorno do espectro autista. E na justificativa do veto, escreveu:

“[O autismo] diagnosticado precocemente até os cinco anos e onze meses de idade é mutável, podendo mudar tanto de gravidade como até mesmo deixar de existir”.

O autismo não tem cura. É definitivo.

Tarcísio soltou uma nota oficial onde afirma:

“Erramos. É importante esclarecer que o entendimento do Governo de São Paulo é que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é permanente e, portanto, os direitos serão definitivos. Falhamos ao deixar passar uma redação que não deixasse clara essa postura”.

Não foi erro de redação, dele e dos seus assessores. Foi ignorância.

Segue de brinde para Zema um dos mais belos poemas de Adélia Prado, “As Mortes Sucessivas”, retirado de “Bagagem”, seu livro de estreia publicado em 1976:

“Quando minha irmã morreu eu chorei muito

e me consolei depressa. Tinha um vestido novo

e moitas no quintal onde eu ia existir.

Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.

Tinha uma perturbação recém-achada:

meus seios conformavam dois montículos

e eu fiquei muito nua,

cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.

Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.

Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,

parentes, que me lembrassem sua fala,

seu modo de apertar os lábios e ter certeza.

Reproduzi o encolhido do seu corpo

em seu último sono e repeti as palavras

que ele disse quando toquei seus pés:

´deixa, tá bom assim´.

Quem me consolará desta lembrança?

Meus seios se cumpriram

e as moitas onde existo

são pura sarça ardente de memória.”

Fonte:Blog do Noblat/Metropoles 11/02/2023

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