terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

3º mandato de Lula: “Não quero confusão, quero que este país volte à normalidade” diz presidente


Lula prometeu atenção especial aos jornalistas e veículos da mídia independente. Foto: Ricardo Stuckert

Nem aquele sempre conciliador “Lulinha paz e amor” projetado na campanha eleitoral de 2002 e no seu primeiro mandato presidencial (2003/2006), nem o radical em luta contra “o mercado” e os cânones econômicos, como parecem tentar pintar parte da imprensa e dos operadores do mercado financeiro.

Três palavras sintetizam a mensagem-chave de Lula durante encontro de 1h30 com jornalistas nesta terça-feira (7): “Não quero confusão”. Ele completou: “Quero que este país volte à normalidade, volte a crescer”. A entrevista ocorreu em café da manhã para o qual foram convidados cerca de 40 profissionais ligados a veículos fora do campo da mídia tradicional (ver lista no final desta matéria).

Sim, Lula voltou a criticar o Banco Central (BC) por causa da taxa básica de juros de 13,75%, índice quase três vezes superior à inflação projetada para este ano. Prometeu acabar com o garimpo em terras indígenas. Criticou a privatização da Eletrobras. Reafirmou sua obsessão com a “responsabilidade social” e o seu desejo de ver as Forças Armadas e outras instituições de Estado, como o Itamaraty e o Ministério Público, livres da politização.

Evitou bolas divididas e ataques frontais, por um lado. De outro, defendeu com firmeza as teses fundamentais de sua campanha eleitoral. Elas se concentram, conforme resumiu, em três coisas: “Acabar com a fome no país, alfabetizar as crianças na idade certa e cuidar da saúde”.

Redes sociais e paz

Um quarto elemento norteou, contudo, a entrevista: a defesa da democracia e da pacificação do país. Foi também esse o assunto do questionamento feito pelo representante do Congresso em Foco: como enfrentar adequadamente a violência política e as fake news, duas coisas que se entrelaçam no modo de atuação da extrema-direita brasileira?

Lula admitiu desconhecer a resposta, mas prometeu se empenhar na busca das soluções adequadas. Contou que o problema da violência política será endereçado pelo conjunto de medidas proposto pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Tanto a violência quanto as fake news, no seu entender, estão relacionadas com o terreno fértil que ambas encontraram para prosperar no universo frequentemente tóxico das redes sociais.

Após dizer que tais plataformas funcionam mais como instrumentos para a disseminação do ódio e da mentira, adiantou que quer conversar sobre isso com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem se reunirá nesta sexta (10). Também pretende pautar esse debate no G-20. Em sua opinião, a regulação das redes sociais passa por uma discussão global que leve à criação de barreiras à divulgação em massa de notícias falsas e de mensagens que instigam “as pessoas a fazerem coisas que não prestam”.

Internamente, acrescentou, o “desafio para todos nós” é pacificar as relações entre pessoas e correntes políticas, inclusive no âmbito familiar. Também defendeu o aprofundamento das investigações sobre os atos de 8 de janeiro: “Acho que a coisa não acabou. O que aconteceu foi muito grave. Tem muita gente rica envolvida nisso. A gente vai atrás de cada um para ver quem financiou essa tentativa de golpe”.

Meio ambiente e economia

Paz, portanto, mas sem passar pano em criminosos. Foi este o tom que predominou durante a entrevista: nem tanto ao céu nem tanto à terra. Lula oscilou entre a reafirmação de seus compromissos políticos e ideias e a moderação ao tratar das questões mais espinhosas. Indagado sobre uma suposta má vontade da mídia tradicional, poupou a imprensa de julgamentos e preferiu alfinetar o mercado financeiro. Disse que não vai pedir autorização “ao mercado” para cumprir seu programa eleitoral. “A gente não tem que pedir, tem que fazer”.

O governo aceitaria se articular para levar o Senado a abreviar o mandato do presidente do BC, Roberto Campos Neto?, perguntou um jornalista. Lula deixou claro que não faria isso (“Quem pode mexer é o Senado”), mas reiterou suas críticas à política monetária. No seu entendimento, ela se tornou um obstáculo à retomada do crescimento econômico. “Ele [Campos Neto] deve explicações não a mim, mas ao Congresso Nacioal”, arrematou.

Segundo Lula, a sua administração entregará “credibilidade, estabilidade e previsibilidade”. Não se desviará do caminho da responsabilidade no trato das contas públicas. Deu como exemplo a redução obtida nos seus dois mandatos anteriores (de 2003 a 2010) na dívida pública interna, que caiu de 60% para 37,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Tampouco, observou, abandonará suas metas sociais para “agradar o mercado”. Repetiu que o seu compromisso é com a “responsabilidade fiscal, mas também com a responsabilidade econômica, com a responsabilidade política e com a responsabilidade social, que é a mais importante delas”.

Deu ênfase, ainda, às questões ambientais. “A questão climática hoje é uma questão da humanidade”. Ele responsabilizou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo drama vivido pelos yanomamis. Lembrando que estima-se em mais de 840 as pistas clandestinas em operação em áreas indígenas no Brasil (75 em reserva yanomami), afirmou: “Alguém se fazia de cego porque não queria ver o que se passava na terra yanomami”.

Fizeram companhia a Lula, no café da manhã, o ministro anfitrião, Paulo Pimenta, que chefia a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-PR); a primeira-dama, Janja Lula da Silva; e os jornalistas José Chrispiniano, secretário de Imprensa, e Hélio Doyle, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Tanto Pimenta quanto Lula ressaltaram o desejo de prestigiar o que ambos chamaram de mídia independente. Segundo o ministro, haverá em breve uma “reunião de trabalho” com os veículos convidados “e outros”, ausentes do café da manhã, para discutir como isso poderá ser feito.

Jornalistas participantes do café da manhã:

Alice Maciel/Agência Pública

Altamiro Borges/Blog do Miro

Ana Lesnovski/Meteoro

Ana Magalhães/Repórter Brasil

Antônio Junião/Ponte Jornalismo

Bárbara Libório/Revista Azmina

Carlito Neto/O Historiador

Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

Eduardo Guimarães/Blog da Cidadania

Eleonora Lucena/Tutameia

Geremias dos Santos/Abraço

Gilda Cabral/Instituto Cultiva

Haroldo Ceravolo Sereza/Ópera Mundi

João Antônio Marques/Portal Click Política

Jefferson Borges/Nordeste Eu Sou

Jô Miyagui/TVT

José Fernandes/Portal do José

Laércio Portela/Marco Zero

Laura Sabino

Leandro Fortes/DCM

Lucas Ferraz/Headline

Luciana Lima/Canal Meio

Luís Costa Pinto/Brasil 247

Luiz Eduardo Gomes/Sul 21

Marco Queiroz/Revista Jacobin

Mariana Torquato/Vai uma Mãozinha Aí

Marielle Ramirez Pinto/Mídia Ninja

Matheus Alves /Alma Preta

Miguel do Rosário/O Cafezinho

Napoleão de Castro/Revista Nordeste

Natalya Santarém Santos/Crítica Brasil

Paulo Salvador/Rede Brasil Atual

Rafael Duarte/Agência Saiba Mais

Rafael Moro Martins/Intercept Brasil

Renato Rovai/Revista Fórum

Renê Silva dos Santos/Voz das Comunidades

Ronny Teles

Sylvio Costa/Congresso em Foco

Tereza Cruvinel/TV 247


Fonte: CONGRESSO EM FOCO EM 07/02/2023

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