Neste domingo (19), comemora-se o centenário de Paulo Freire, patrono da educação no Brasil e um dos pensadores mais admirados do mundo.
As redes sociais, naturalmente, foram tomadas por homenagens ao autor do célebre “Pedagogia do Oprimido” e até mesmo o Google saudou o educador com uma imagem em sua página inicial.
A iniciativa da plataforma de buscas causou desespero no deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que, assim como seu pai e todo bolsonarista, encampam campanha de ódio contra aquele que está entre os pensadores mais citados em artigos acadêmicos do mundo inteiro.
O parlamentar acordou cedo para desferir ataques a Paulo Freire, Google e, como de praxe, ao ex-presidente Lula (PT).
“ONG entra na justiça por razão ideológica; juíza dá razão à ONG, jornal enaltece a causa; Google a apóia [sic]. Olhe quantos atores ideológicos envolvidos, cientes ou não que servem a uma ideologia, e perceba o qnto temos q caminhar N estranhe se o próximo Google for c/ cara do Lula”, disparou.
A fixação de Eduardo Bolsonaro com Paulo Freire demonstra seu pânico diante do legado da obra do educador e o respeito que inspira no mundo inteiro. O filho do presidente ainda fez outra postagem carente de sentido para atacar o pensador. Ele compartilhou uma notícia que fala “alienígenas” com o seguinte comentário: “Paulo Freire explica”.
Proibição aos ataques
O MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos) entrou com ação na Justiça Federal do Rio de Janeiro para impedir que o governo federal realize “movimentos desqualificadores” contra Paulo Freire nas celebrações de seu centenário.
A juíza Geraldine Vital acatou a decisão esta semana e deferiu liminar proibindo o governo de Jair Bolsonaro de “praticar qualquer ato institucional atentatório a dignidade do professor Paulo Freire”. Cabe recurso.
Prestígio de Paulo Freire continua alto no mundo inteiro
Se aqui o pedagogo encara críticas ásperas da direita, no mundo inteiro seu prestígio só cresce 100 depois de seu nascimento.
Apenas em setembro, um único livro do educador foi citado em 23 livros e artigos acadêmicos no mundo inteiro, segundo informações da Folha de S. Paulo.
Patrono da educação brasileira e autor da “Pedagogia do Oprimido”, a trajetória de Freire traz o legado da educação como prática de liberdade.
O biógrafo Sérgio Haddad, autor de “O Educador: Um perfil de Paulo Freire”, afirmava que ele era “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”.
Tal afirmação representa a essência do trabalho de Paulo Freire na educação. Seu método tratava a forma de educar intrinsecamente com o nosso cotidiano e, claro, com a política.
Ele foi um adversário feroz do que chamava de “educação bancária”, classificando o professor como a pessoa que detém o conhecimento e o aluno um depósito de suas ideias.
Para o pedagogo, ensinar era uma jornada que partia da experiência de vida do aluno e do que ele conhecia, desenvolvendo o senso crítico dos estudantes.
Em seus 15 anos de exílio, por causa de seu Plano Nacional de Alfabetização, que previa a formação de educadores em massa e a rápida implantação de 20 mil “círculos de cultura”, que foi tido como uma ameaça pela Ditadura Militar pelo potencial de “revolta dos menos favorecidos”, caso as massas desenvolvessem senso crítico, Freire publicou diversos livros e artigos, passou por inúmeros países e se tornou o brasileiro com mais títulos honoris causa pelo mundo. Alguns deles concedidos in memoriam (depois de sua morte) por universidades do Brasil e do exterior.
No ano de 2016, o especialista em estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem Elliott Green, professor da London School of Economics, fez um levantamento no Google Scholar e elencou “Pedagogia do Oprimido” como a terceira obra mais citada em trabalhos na área das humanidades no planeta com mais de 72.359 citações feitas até então.
Programação das celebrações dos 100 anos de Paulo Freire
Ato Político, Cultural e Pedagógico Paulo Freire
A partir das 14h deste domingo (19), o centenário de Paulo Freire será comemorado em uma live com extensa programação cultural. A partir das 18h, haverá uma apresentação do cantor Alceu Valença.
Trata-se de uma iniciativa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a IEAL (Internacional da Educação para a América Latina), Red Estrado (Rede de Estudos Latino Americano sobre o Trabalho Docente), CEAAL (Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe) e das entidades que compõem o FNPE (Fórum Nacional Popular de Educação).
O evento virtual terá ainda outras apresentações musicais e intervenções políticas. Toda a programação será online nos canais do Youtube da CNTE, da IEAL e da UFPE. Saiba mais aqui.
Outros eventos
O Itaú Cultural realiza a “Ocupação Paulo Freire”, com programação presencial (em São Paulo) e online, deste sábado (18) até 5 de dezembro.
O 11° Interculturalidades: Primaverar, Viver Freire vai ocupar as redes sociais do Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense. Entre os convidados, estão Nita Freire, viúva de Paulo, o teólogo Leonardo Boff e o ativista indígena Daniel Munduruku.
O Empório Pernambucano comemora o centenário freiriano no domingo (19), com o evento “Um Vizinho Ilustre”.
A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) preparou uma ampla programação com a inauguração do memorial em homenagem ao educador, na biblioteca da Assembleia Legislativa, com a aposição de uma placa alusiva a Freire.
A Primavera Paulo Freire celebra os 100 anos do educador nos dias 22, 23 e 24 de setembro. Junto com a chegada da primavera, a Fiocruz promove uma série de atividades comemorativas online para relembrar e homenagear o legado do patrono da educação.
FONTE: REVISTA FÓRUM - 18/09/2021 16h:50min.
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