A blogueira chegou em foi recebida com protestos no Recife-Foto:reprodução
A chegada da blogueira opositora cubana Yoani Sánchez ao Brasil foi
marcada por protestos de manifestantes favoráveis ao regime comunista da
ilha nos aeroportos de Salvador e do Recife, por onde ela começou sua
viagem ao país nesta segunda-feira.
Uma das principais dissidentes do governo comandado pelo ditador Raúl
Castro, Yoani saiu na tarde de domingo de Havana, fez conexão na Cidade
do Panamá e chegou por volta da 0h30 na capital pernambucana. Esta é sua
primeira viagem internacional desde 2008, quando voltou a Cuba e foi
proibida de sair.
No Aeroporto Internacional dos Guararapes, ela passou pela primeira
manifestação. Militantes de grupos socialistas leram uma carta aberta na
qual diziam que o blog dela é um meio de desinformação e que faz uma
campanha anti-Cuba. Eles também jogaram dólares falsos em direção à
dissidente.
O protesto não aborreceu Yoani, que disse que gostaria muito que em seu
país as pessoas pudessem fazer o mesmo. "Foi um banho de democracia e
pluralidade, estou muito feliz e queria que em meu país pudéssemos
expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade", disse.
No aeroporto, Yoani também foi recebida por Dado Galvão, diretor do
documentário "Conexão Cuba Honduras", no qual é entrevistada, e cerca de
dez pessoas, entre elas, o blogueiro cubano George Hernandez Fonseca,
que vive no Pará.
Após o primeiro ato, ela conseguiu embarcar na parte sul do aeroporto e
seguir em direção a Salvador, de onde partiu para Feira de Santana. Na
cidade baiana, Yoani participará do lançamento do documentário de Dado
Galvão, que foi adiado em diversas ocasiões a espera do visto da
blogueira.
DESVIO
Na chegada à capital baiana, um grupo de 20 pessoas vinculadas a ONGs de
esquerda, organizações ligadas a Cuba e associações estudantis fizeram
um ato de repúdio à presença da blogueira. "Yoani é uma liderança
fabricada pela CIA", disse Caio Botelho, da UJS.
Os manifestantes chamaram Yoani de mercenária e gritaram palavras de
ordem, como "Cuba sim, ianque não". Devido ao incidente, o grupo que
viajava com a cubana foi orientado a seguir por uma porta alternativa no
desembarque do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães.
A visita é a primeira de uma série viagens que começa pelo Brasil e a
levará também a República Tcheca, Espanha, México, Estados Unidos,
Holanda, Alemanha, Peru entre outros. Nos últimos cinco anos, Yoani
havia recebido mais de 20 recusas para poder viajar ao exterior.
Com o sentimento de ter "ganhado uma pequena vitória pessoal,
jornalística, cidadã e jurídica" a autora do blog "geração Y" disse ter a
impressão de estar vivendo "um sonho".
"É uma vitória limitada, porque a reforma migratória de Cuba ainda não
contempla a possibilidade de entrar e sair da ilha como um direito
inerente pelo mero fato de ter nascido neste país", disse a blogueira em
entrevista no aeroporto de Havana.
Yoani Sánchez afirmou que sua principal bagagem é seu desejo de se
conectar livremente à internet e de conhecer o mundo e sua realidade
"com seus claros e escuros". "O mais importante não levo na mala, levo
aqui", disse a blogueira, apontando para sua cabeça.
Em janeiro, as autoridades cubanas outorgaram a Sánchez o passaporte que
ela solicitou após a nova reforma migratória que flexibiliza as viagens
dos cubanos ao exterior e eliminou embaraçosos e custosos trâmites como
a permissão de saída para fora do país.
Embora ainda estejam vigentes algumas restrições nas idas ao exterior
para os cubanos, nos últimos dias puderam viajar sem problemas alguns
críticos do regime como o engenheiro de computação Eliécer Ávila e Rosa
María Payá, filha do falecido opositor Oswaldo Payá.
FONTE: FOLHA:Com informações de FLÁVIA MARREIRO, enviada especial a Salvador, e BRUNO BASTOS, colaboração para a Folha, no Recife.
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