Foto:reprodução
Em entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira em
São Paulo, a blogueira dissidente cubana Yoani Sánchez comparou as diferenças
entre os governos de Fidel Castro e o atual, de seu irmão Raúl.
"Fidel gostava da repressão como show midiático", disse Yoani,
acrescentando que o antigo líder gostava que os dissidentes fossem julgados e
condenados publicamente. Por sua vez, o regime de Raúl Castro trataria de
realizar atos repressivos "sem deixar rastro", segundo ela.
Yoani chegou às 9h40 ao prédio do Estadão para participar
de uma palestra e conceder entrevista. Após ser recebida por manifestantes em
passagens por Recife, Bahia e Brasília, teve uma recepção silenciosa na capital
paulista. No início da conversa, ela afirmou que o regime político de Cuba não é
socialista. “Não creio que Cuba viva um socialismo, Cuba vive um capitalismo de
Estado, em que o patrão não é o rico ou o burguês, mas o governo”, disse
ela.
Meu país é como um reino
De acordo com a blogueira, o governo de Raúl tem o pecado
original, não ter sido eleito e ter recebido o poder por laços sanguíneos. "Meu
país é como um reino. No século XXI, me aparece algo surpreendentemente
absurdo", disse.
Ela reconheceu que Raúl está promovendo reformas para abrir o
país, mas disse que elas não são suficientes. Yoani também disse acreditar que
as reformas jamais teriam acontecido durante o regime de Fidel. "Ele gostava de
controlar cada passo do nosso país".
Embargo econômico
Yoani voltou a afirmar a posição, que já tinha expressado em entrevistas anteriores, de que é contra o embargo econômico estipulado pelo governo dos Estados Unidos a Cuba. "Em primeiro lugar, porque é ineficaz", disse a blogueira, acrescentando que o governo cubano acabou por adotar a prática de culpar o embargo para justificar eventuais problemas do país. "Se não há tomate, é por culpa do império".
Transição cubana e EUA
Se fosse para escolher a política modelo de um país para ser implantada em Cuba, Yoani disse que ficaria com a “nova Cuba”. Ela citou alguns programas do Brasil, como o bolsa-família, mas ressaltou a importância de Cuba se regenerar com um novo regime próprio. “A Cuba futura precisa se focar nos serviços, investir no turismo, mas com cuidado porque a indústria do turismo também pode trazer muitos males”.
Perguntada sobre a política de relações exteriores dos EUA, Yoani
disse “não ser especialista no assunto” e evitou comentar sobre as possíveis
consequências de estreitamento de laços entre o país norte-americano e Cuba.
Ela, porém, defendeu a aproximação com os EUA como fundamental para a transição
de Cuba, assim como com outros países da região. “Melhorar as relações com a
América Latina pela proximidade geográfica e necessidade deste vínculo”,
disse.
Yoani Sánchez fala das
diferenças entre Fidel e Raúl Castro "Não sou cubana de Fidel,
nem de Miami", diz blogueira
Tolerância do governo
Yoani se tornou uma
personalidade internacional devido ao seu blog Generácion Y, que lhe
rendeu diversos prêmios internacionais e recebe milhões de visitantes todos os
meses. Crítica ao governo, ela recebe acusações de ser financiada por
organizações internacionais e de ter certos privilégios que não são possíveis a
outros cubanos.
Yoani afirmou que não é a única blogueira do país e que não é
"tolerada" pelo governo. Ela disse que há um movimento crescente de pessoas
conectadas na ilha, especialmente ao Twitter, que não têm sido atingidos pela
censura. "Talvez tenham pensado (o governo) que era uma bobagem a mais", disse
Yoani. "Quando se deram conta, era tarde demais".
Yoani pelo Brasil
A cubana desembarcou no aeroporto do Recife na segunda-feira, onde
foi recebida com protestos e acusações de que seria uma espiã dos Estados
Unidos. Mas as críticas e até o puxão no cabelo que levou provocaram comentários
positivos em seu blog: “gostei muito, confesso, porque me permitiu dizer que eu
sonhava que algum dia em meu país as pessoas pudessem se expressar publicamente
assim contra algo, sem represálias”.
No mesmo dia, Yoani seguiu para Feira de Santana, no interior da
Bahia, onde assistiria o documentário Conexão Cuba-Honduras, mas a
exibição foi cancelada após manifestantes a favor do regime cubano cercarem a
sala. O ocorrido motivou um post de críticas em seu blog, em que Yoani se mostra
inconformada com a atitude dos manifestantes baianos. Ela reprovou as críticas
pessoais e a falta de argumentação sobre a situação de Cuba.
“Ao final da noite, me sentia como depois de uma batalha conta os
demônios do mesmo extremismo que atiçou os atos de repúdio daquele ano de 80 em
Cuba. A diferença é que esta vez eu conhecia o mecanismo que fomenta estas
atitudes, e podia ver o longo braço que os move desde a Praça da Revolução em
Havana”, escreveu.
Após a confusão, o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ)
convidou a dissidente a assistir ao documentário em Brasília. A recepção à Yoani
na Câmara dos Deputados na quarta-feira não foi diferente das anteriores e, mais
uma vez, ela ouviu vaias de líderes de esquerda e movimentos sociais. No
entanto, conseguiu assistir ao filme.
Fonte:portal Terra/reprodução
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