Estudantes em filas, professor à frente, explicação na lousa ou no
projetor. É tudo que algumas faculdades particulares têm buscado evitar
em seus cursos de graduação.
Há pouco mais de um ano, ao menos quatro instituições brasileiras
adotaram metodologias em que os estudantes precisam ler textos ou ver
vídeos antes das aulas, para terem um conhecimento básico prévio do
conteúdo.
Instituto quer levar mudança curricular para ensino básico
Nas aulas há debates entre os alunos, e não a convencional exposição
do professor. A tradicional escola Belas Artes de São Paulo foi uma das
que adotou o método.
Educadores afirmam que o formato, inspirado em aulas da Universidade
Harvard (EUA), deve se espalhar pelo país, ainda que haja dificuldades
de implementação.
Na nova metodologia, ao professor cabe apresentar temas a serem
debatidos e acompanhar se as conclusões dos alunos caminham para a
direção correta.
Os alunos são distribuídos em mesas redondas de oito lugares cada
uma, em geral. O grupo deve apresentar resposta a uma pergunta posta
pelo docente -que conduz as discussões até que todos saibam a
alternativa certa.
Um dos métodos, chamado "peer instruction" (formação por pares), foi
criado pelo professor Eric Mazur, que leciona física em Harvard.
Ele estava incomodado com o fato de que poucos docentes conseguiam
prender a atenção dos estudantes por uma aula inteira -problema que
atinge cursos superiores no mundo todo.
Pesquisas de Mazur mostram que, com o novo formato, os alunos fixam melhor conteúdos e ganham capacidade de resolver problemas.
ATUALIZAÇÃO
"As aulas precisam ser mesmo atualizadas", disse o consultor de
ensino superior Roberto Lobo, ex-reitor da USP. "Mas os temas a serem
abordados devem ser bem administrados, senão, os alunos ficam com
lacunas".
Diretor acadêmico da Unipac (MG), Gustavo Hoffmann afirma ser
essencial, no novo formato, que o aluno se prepare antes das aulas. "No
modelo tradicional, os professores até podem pedir leitura prévia. Mas
a aula ocorre normalmente se o aluno não se preparar", afirma.
"No novo modelo, não se consegue debater algo sem que você tenha uma base."
O preparo prévio exige cerca de uma hora por dia do aluno. Os cursos
são presenciais, ou seja, ao menos 80% da carga horária tem de ser
cumprida na faculdade.
"No começo, ficamos preocupados", disse José Augusto dos Santos
Dias, 23, que teve a nova metodologia em algumas matérias do curso de
direito da Unisal (Lorena-SP). Um dos conteúdos que ele estudou no
sistema foi quais recursos poderiam ser impetrados para cada decisão
judicial. "No final, gostei."
Neste caso, o professor apresenta um problema real, enfrentado por uma instituição, e os alunos têm de apresentar soluções. Depois, compara-se com a solução adotada no caso concreto.
"A ideia é evitar que o aluno vá para a aula apenas para ouvir o professor. Hoje, ele deve ser ativo", disse Marcilene Bueno, da área de novas metodologias da Unisal.
Fonte: Fábio Takahaschi/Folhaonline
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