Com o número de mortes por covid-19 batendo recordes a cada dia, é comum a sensação, para quem não perdeu uma pessoa próxima, de que o avanço alarmante da pandemia tenha a ver mais com estatísticas do que com pessoas. Mas por trás de cada uma das mortes, das mais de 1.000 que tem se registrado a cada, há uma história, de um indivíduo, além de uma família inteira enlutada.
Com o objetivo de tornar essa percepção mais condizente com a tragédia nacional, e mostrar a importância de se evitar que a pandemia mortal avance ainda mais, um grupo de jovens da cidade de Mutuípe, no vale do Jiquiriçá, se juntou para acender cerca de 2 mil velas na noite de sexta-feira (5), em homenagem às vidas perdidas para a doença. As centenas de velas foram organizadas em formato de cruz no meio do campo de futebol.
Segundo o empresário Adilson Santos, 34 anos, um dos idealizadores do ato que repercutiu em todo o país, o número de chamas acesas fazia referência aos dados registrados no Brasil nos últimos dias, em que o país chegou a ter, no período de 24h, 1910 mortes, conforme dados levantados pelo Consórcio de Imprensa.
“Eu falei da ideia para minha esposa, mas sozinhos a gente não ia conseguir, pelo tamanho que é o campo, o tempo que ia precisar. E aí a gente conversou com uma amiga nossa, que chamou outros colegas para poder, juntos, fazer esse momento”, explica o empresário ao mencionar a turma que se juntou na empreitada realizada no meio do campo do estádio municipal.
“Eu não tinha ideia que ia ser uma repercussão numa proporção tão grande. Na verdade, a princípio, a ideia era alertar aqui a região, apesar de, graças a Deus, na nossa cidade o número de óbitos não ser tão grande. Mas ainda assim a gente achou importante alertar a população, pois está morrendo muita gente no Brasil inteiro. São mais de 1.400 pessoas por dia. A ideia era fazer as pessoas entenderem que essa dor é de todos”, destacou Adilson.
Com 22 mil habitantes, a pequena Mutuípe registrou, até aqui, 9 óbitos pela covid-19. Por lá, como na maioria dos lugares, o protocolo de segurança para as despedidas tem impedido as devidas homenagens aos mortos, o que também motivou o ato, marcado também por correntes de orações pelo fim da pandemia.
“Hoje em dia, os velórios estão sendo muito rápidos. Não está podendo nem velar, geralmente, por causa do contágio. Por causa disso, ficamos lá no estádio até a última vela se apagar. Quando estávamos saindo, vimos três velas ainda acesas, e a gente voltou, ficou do lado aguardando até a última vela se apagar por respeito a cada pessoa que representa ali”, lembrou Adilson.
Ao todo, 12 pessoas participaram da organização geral da homenagem, e outras oito ajudaram a acender as velas, sempre seguindo a recomendação de distanciamento a fim de evitar novas contaminações.
fonte: Correio da Bahia - 07/03/2021
0 comentários:
Postar um comentário