As aulas presenciais nas instituições de ensino superior na Bahia ainda não têm previsão de retorno. O CORREIO buscou 28 faculdades - as cinco universidades federais e quatro estaduais do território baiano, além de 19 particulares de Salvador – e nenhuma delas tem ideia de quando os alunos voltarão a frequentar os campi. As classes estão interrompidas desde 18 de março de 2020.
A maioria segue sem definição, como a Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (Uesb) e a Universidade Federal do Sul da Bahia (Ufsb). Outras decidiram que as atividades presenciais não voltam este semestre. É o caso da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Já a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb) já estabeleceu que ficará com o ensino remoto até o final de 2021.
Elas não têm autonomia para decidirem essa questão sozinhas. A retomada da educação superior – assim como do ensino básico, médio e fundamental - depende da taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com o decreto do governo estadual, a taxa de ocupação de UTI exclusiva para covid-19 deve permanecer em 75% por cinco dias consecutivos na região da saúde onde a cidade está inserida para que as aulas possam retomar.
Até então, desde a publicação do decreto no último domingo (18), nenhuma região da saúde esteve com taxa de abaixo de 75%, segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A taxa mais baixa está na região Leste, que está com 77% de ocupação, de acordo com dados da Sesab disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) - veja os índices de todas as regiões no final da matéria.
Enquanto isso, o máximo que algumas instituições permitem é algumas atividades administrativas funcionarem com escala e alguns cursos de saúde possam ter apenas as aulas práticas em campus. A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), por exemplo, liberou, na última sexta-feira (23), que alguns cursos de saúde possam retomar à universidade presencialmente a partir da quarta-feira da semana que vem (5). São seis disciplinas do curso de medicina do quarto ano e quatro turmas de odontologia.
“Esses alunos precisam ter a passagem para o quinto ano para ter o internato garantido. Essas atividades não têm atendimento ao público, são aulas práticas de formação do aluno. Se elas não iniciassem agora, as disciplinas terão que ser canceladas e geraria um prejuízo para os alunos”, esclarece o professor Evandro do Nascimento, reitor da Uefs. Essas matérias começaram de forma virtual e o ensino presencial complementará a carga horária.
Ao todo, são 32 alunos de medicina e cerca de 80 de odontologia. Além desses dois, auniversidadeconsidera a retomada das atividades práticas do curso de enfermagem. Porém, sódepois que os alunos tomarem, pelo menos, a primeira dose da vacina contra a covid-19.Auniversidade só voltará a pleno funcionamento após a vacinação dos professores. São emtornode 2 mil profissionais da educação na Uefs, entre professores, auxiliares técnico-dministrativos e servidores terceirizados. “Estamos aguardando ver se é possível ter a vacinaçãodos acadêmicos, porque os estudantes com estágio supervisionado estão tendoautorização. Vamos aguardar, porque, nesse momento, não tem vacina”, afirma Nascimento.Outros três cursos iriam começar as atividades presenciais - química, engenharia civilefarmácia - mas adaptaram as disciplinas ao ensino remoto para esse semestre, que acaba emjunho. Por enquanto, apenas os estudantes 5º e 6º ano de medicina, que estão no internado eque já foram vacinados, estão tendo aulas presenciais.
A medida não foi aplicada para todos os 31 cursos da Uefs, que somam mais de 10 mil alunos só na graduação. “Sem vacina suficiente e com os números de casos de covid aumentando, não seriaviável ter aulas práticas para todos os cursos e disciplinas”, explica Evandro. Dessa forma, osemestre continua de forma remota para as outras matérias.
Segundo o reitor, os protocolos sanitários já foram aplicados e uma reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), em maio, definirá qual será o modelo adotado pelauniversidade em 2021.2. “A tendência é adotarmos o modelo que garantir mais segurança paraa comunidade universitária”, declara Nascimento, sem dar mais detalhes.
Na Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), os cursos de medicina, ciências biológicas,farmácia e nutrição já estão com atividades práticas presenciais desde o início dosemestre, em formato híbrido. A universidade até chegou a decidir retomar nessa modalidade emtodos os cursos, mas, com o aumento dos casos de covid-19 e com as taxas de ocupação deleitos de UTI em 100% há mais de duas semanas, não há mais previsão.
A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) ainda mantém a deliberação de suspender as aulas presenciais até o dia 8 de maio. Em nota técnica, a Comissão Institucional da Uneb para Combateàcovid-19 justificou dizendo que ainda há uma "conjuntura de crise, que tem se agudizadoem relevante velocidade e intensidade”, e que o número de casos confirmados na Bahiacontinua em ascensão. "O Estado, até 22 de abril, acumula um total de 873.832 casos e17.687 óbitos pela doença. E, a taxa de ocupação de UTI Adulto se mantém em 80%, acima dorecomendado (< 70%)", diz a nota.
Na Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (Uesb), na Universidade Federal do Sul da Bahia(Ufsb) e na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), não existe previsão deretorno do ensino presencial e só setores da administração trabalham em regime semipresencialOs alunos da área de saúde têm atividades presenciais, mas 90% das disciplinasestão por ensino remoto. Esse também é o caso da Uneb. A Univasf aprovou, na última sexta-feira (23), o manual de biossegurança que estabelece os protocolos sanitários.
Já na Universidade Estadual De Santa Cruz (Uesc) e na Universidade Federal da Bahia (Ufba) asaulas virtuais seguirão até junho. Antes do retorno, os comitês das respectivas faculdadesdecidirão sobre a modalidade do próximo semestre letivo. A Ufrb só retornará com
ensino presencial ano que vem. Por enquanto, só os cursos de medicina e nutrição têm atividades presenciais.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) manterá o ensino remoto.Na próxima sexta-feira (30), haverá uma reunião entre o Comitê Central de Prevenção eAcompanhamento da Ameaça do Coronavírus e os comitês correlatos dos 22 campi do IFBA paradiscutir a adoção do ensino híbrido. A reitoria reforça que a decisão sobre a retomada deatividades presenciais está vinculada a dois fatores: a vacinação dos servidores e servidoras e agarantia de orçamento que permita adotar e manter ações e protocolos de segurança sanitária.
Faculdades particulares também não têm retorno definido
Assim como as universidades públicas, as particulares não sabem quando será o retorno dasatividades presenciais. Algumas delas seguem com alguns cursos, principalmente da área dasaúde, com disciplinas práticas nas unidades. É o caso da UniFTC com medicina. Para o restodocorpo acadêmico no geral, entretanto, o semestre continuará remoto.
A Universidade Católica de Salvador (Ucsal) finalizará 2021.1 de forma virtual e, quando houver aautorização dos governos, irá repor as aulas práticas. A Estácio informa que “está preparada paraas aulas em qualquer modalidade” e que “já implementou uma série de medidas preventivasem prol da segurança e saúde de alunos e professores”, como maior distanciamentoentre as carteiras, dispensadores de álcool em gel e sinalizadores com orientaçõessanitárias.
O Centro Universitário AGES diz que “está acompanhando a situação da pandemia no estado, pormeio do seu comitê de enfrentamento à covid-19" e também aguarda um posicionamento dasautoridades para avaliar o retorno das atividades presenciais. O Centro UniversitárioSENAICimatec voltará de forma escalonada, mas não sabe dizer quando, nem aFaculdade Bahiana de Medicina.
Na Unime Salvador, as atividades acadêmicas presenciais serão retomadas gradativamente, no dia03 de maio. Nas demais instituições de ensino do estado, apenas as atividades práticaspresenciais nas clínicas, laboratórios e campos de estágio estão em andamento. Aretomada será de forma gradual, assim como na Unopar e Pitágoras, com três fases: retomadaparcial com alto nível de restrições e protocolos de segurança; retomada moderada deatividades presenciais e manutenção dos protocolos de segurança; retorno aos padrões normais,apenas com cuidados preventivos e ajustes de rotinas.
Na Faculdade 2 de Julho, na Unifacs e no Centro Universitário Social da Bahia (Unisba) - antigaFaculdade Social da Bahia (FSBA), também não há data para retorno das aulas presenciais.A Unifacs informa que "está avaliando cuidadosamente a situação epidemiológica paradefinir como será o calendário acadêmico no segundo semestre de 2021". A Faculdade Baianade Direito e Gestão e a Faculdade Batista Brasileira preferem não falar sobre retorno nestemomento. A Unijorge, Maurício de Nassau, Uniruy, Área 1 e Unilab não responderam àmatéria.
MEC delega autonomia sobre a retorno a cada universidade
As aulas na rede federal de ensino foram autorizadas a retomarem no dia 1º de março, por meio dapublicação de uma portaria do governo federal em dezembro. Ao CORREIO, o Ministério daEducação (MEC) explica que "excepcionalmente, os reitores podem optar pela continuidade doensino remoto após a avaliação da situação sanitária local".Sendo assim, o MEC diz que "cabe acada universidade propor ações de formação de professores e elaborar o seu calendário para acontinuidade, reformulação e retomada das atividades acadêmicas". Além disso, a pasta reforçaque o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a competência dos prefeitos egovernadores em relação à autonomia universitária. Ou seja, o governo federal somente podedefinir sobre serviços e atividades de interesse nacional. Fora disso, cabe aos prefeitos egovernadores regulamentarem a situação em seus respectivos territórios.As aulas no ensinobásico e fundamental, na capital baiana, retomam no dia 3 de maio, como anunciou aprefeitura. Relembre como será a retomada aqui.
Estudantes preferem ensino presencial
O estudante de Recursos Humanos da Estácio Caleb Trindade, 19, prefere que as aulas nãovoltemesse semestre, tanto por ele já estar no final, como por conta de a vacinação não teravançado para os professores e alunos. Porém, ele ainda prefere a modalidade presencial."Prefiro estar trocando ideias, pode tirar dúvida a qualquer hora com o professor, ter acerteza que vai voltar no outro dia e a gente não fica preocupado se internet está boa, se a conexão vai cair", relata Trindade.
O estudante Victor Gledson, 24, do 9 semestre de agronomia da Uefs, também é favorável àretomada do ensino presencial. "Eu vejo que, tomando as medidas do protocolo sanitário que aUefs realizou, com a vacinação já em realização, possa ser possível a retomada das aulaspráticas", opina Gledson.
Cursos com atividades presenciais Ufob - Medicina, Ciências Biológicas, Farmácia e Nutrição Ufrb – Medicina e Nutrição Ufsb - nenhum Univasf – Medicina Uefs – Medicina e Odontologia Uneb- cursos de saúde Uesb – Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia, Farmácia e OdontologiaUesc - Medicina, Enfermagem, Biomedicina e atividades de pesquisas Uniftc –Medicina Estácio - nenhum.Taxa de ocupação de leitos de UTI por região da saúde (fonte: SEI e Sesab) Centro-leste: 86% Centro-norte: 97% Extremo sul: 93% Leste: 77% Nordeste: 100% Norte: 86% Oeste: 90% Sudoeste: 88% Sul: 79% Total da Bahia: 81%
FONTE: CORREIO DA BAHIA - 29/04/2021 08H;10min.
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