Pró-Reitor de Graduação prof. Ricardo Takahashi, da UFMG, defende mudanças profundas no sistema- foto:reprodução
Reduções de quase 90% na procura por cursos de licenciatura da UFMG
revelam um cenário nada promissor: mantida a atual tendência, não
haverá, nos próximos cinco anos, candidatos a se formarem professores em
uma das maiores universidades do país. Quando se avalia quem ingressou
na última
década em licenciaturas, a situação também preocupa. Enquanto o
número de formandos diminui
ano a ano, os abandonos crescem, com
índices que ultrapassam 50% em alguns cursos.
Segundo especialistas, a queda na concorrência é indício do crescente
desinteresse pela docência.
Para agravar a situação, entre os que se
formam, são poucos os que realmente desejam a sala de
aula como destino
profissional. Seja apenas para obter um diploma de nível superior, seja
para acessar outras ocupações, estudantes de licenciatura têm se
interessado cada vez menos por dar aulas.
Salários abaixo da média e condições de trabalho muitas vezes precárias
parecem repelir da universidade quem teoricamente seria o primeiro
interessado: o professor. “A explicação está no baixo valor do diploma.
Quanto mais baixo esse valor, menor a atratividade que o curso exerce
nas novas gerações”,
explica o professor de sociologia da educação da
UFMG João Valdir Alves de Souza. “O que acontece é que, no caso da
docência na educação básica, há a combinação de baixo valor econômico,
traduzido em salário, e baixo valor simbólico, que diz respeito ao
prestígio”.
Souza ressalta que a UFMG forma hoje metade dos professores que formava
há dez anos.
“É difícil prever, mas eu diria que, continuando da forma
como está, a realidade aponta para o apagão de professores”, completa o
professor Juarez Dayrell, da Faculdade de Educação.
Pró-reitor de Graduação da UFMG, o professor Ricardo Takahashi
reconhece o índice de sucesso menor que o desejável nas licenciaturas e
explica que a década de 90 vivenciou um cenário de desemprego em que a
opção de se formar licenciado garantia acesso a empregos em uma época em
que não existiam oportunidades de outra natureza.
No entanto, a partir
do momento em que a economia se aqueceu, passaram a existir alternativas
de formação que garantiam empregos melhores. “Isso parece ter levado as
pessoas a migrarem para outras profissões, o que fragiliza o Brasil,
porque a educação é o mecanismo pelo qual a gente forma as futuras
gerações. É claro que desejamos ter pessoas com as mais diversas
formações, mas não podemos esquecer que um requisito para isso é formar o
professor. Esse é um gargalo estrutural do Brasil hoje e algo que põe
em risco o futuro”.
Levantamento
Números. Os
dados são fruto de análises recentes desenvolvidas pela Pró-Reitoria de
Graduação da UFMG e também de estudos do Grupo de Pesquisa sobre
Condição e Formação Docente, da Faculdade de Educação.
Troca-troca
Sisu. A adoção do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) pela
UFMG em 2014 gerou um novo fenômeno de mobilidade dos estudantes. Se
antes a evasão ocorria entre o quarto e o quinto semestres, com o Sisu
percebe-se o processo de migração de alunos entre os cursos ainda no
primeiro período.
Licenciaturas. Nesse contexto, as licenciaturas foram
afetadas, registrando altos índices de saída de alunos. O curso de
matemática diurno, por exemplo, teve 43 matrículas no primeiro
semestre de 2014 e chegou ao segundo com apenas 35.
Fonte:Luiza Muzzi-O tempo de BH
0 comentários:
Postar um comentário