segunda-feira, 7 de junho de 2021

Disseminação da Covid no Brasil se deu por empenho do governo Bolsonaro, diz estudo da USP

 

Disseminação da Covid no Brasil se deu por empenho do governo Bolsonaro, diz estudo da USP
Foto: Sérgio Lima / Poder360

Um estudo da USP solicitado pela CPI da Covid-19 reforça que a disseminação do coronavírus no Brasil se deu por "empenho e eficiência" do governo federal.
 

"Os resultados [da pesquisa] afastam a persistente interpretação de que haveria incompetência e negligência da parte do governo federal na gestão da pandemia", afirma o texto. "Ao contrário, a sistematização de dados revela o empenho e a eficiência em prol da ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível."
 

O estudo, batizado “Mapeamento e análise das normas jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil”, foi feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). O relatório, entregue aos senadores da CPI nesta segunda (7), reforça conclusões emitidas em janeiro, quando foi publicada uma primeira versão do documento.
 

Segundo a pesquisa, "constatou-se a confluência entre esferas normativa, de gestão e discursiva da resposta federal à pandemia, havendo coerência entre o que se diz e o que se faz. Procede, portanto, a hipótese da existência de estratégia de disseminação da doença".
 

O relatório embasa essa avaliação em ações do governo federal como a "defesa da tese da imunidade de rebanho (ou coletiva) por contágio (ou transmissão) como forma de resposta à Covid-19, disseminando a crença de que a 'imunidade natural' decorrente da infecção pelo vírus protegeria os indivíduos e levaria ao controle da pandemia, além de estimativas infundadas do número de óbitos e da data de término da pandemia".
 

O estudo também lembra a "incitação constante [por parte do governo federal] à exposição da população ao vírus e ao descumprimento de medidas sanitárias preventivas, baseada na negação da gravidade da doença, na apologia à coragem e na suposta existência de um 'tratamento precoce' para a Covid-19, convertido em política pública".
 

Outro ponto avaliado como parte da "estratégia de disseminação da doença" é a "banalização das mortes e das sequelas causadas pela doença, omitindo-se em relação à proteção de familiares de vítimas e de sobreviventes, propalando a ideia de que faleceriam apenas pessoas idosas ou com comorbidades, ou pessoas que não tivessem acesso ao 'tratamento precoce'".
 

A pesquisa ainda cita a "obstrução sistemática às medidas de contenção promovidas por governadores e prefeitos, justificada pela suposta oposição entre a proteção da saúde e a proteção da economia, que inclui a difusão da ideia de que medidas quarentenárias causam mais danos do que o vírus, e que elas é que causariam a fome e o desemprego, e não a pandemia"; o "foco em medidas de assistência e abstenção de medidas de prevenção da doença, amiúde adotando medidas apenas quando provocadas por outras instituições, em especial o Congresso Nacional e o Poder Judiciário'; e "ataques a críticos da resposta federal, à imprensa e ao jornalismo profissional, questionando sobretudo a dimensão da doença no país", além de "consciência da irregularidade de determinadas condutas"
 

"Finalmente, chama a atenção a persistência do comportamento de autoridades federais brasileiras diante da vasta disseminação da doença no território nacional e do aumento vertiginoso do número de óbitos, embora instituições como o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal tenham apontado, inúmeras vezes, a inconformidade à ordem jurídica brasileira de condutas e de omissões conscientes e voluntárias de gestores federais, assim como o fizeram, incansavelmente, entidades científicas e do setor da saúde", afirma a pesquisa.


Fonte: Por Mônica Bergamo -07/06/2021 22h:05min

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