quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Economia: Projeções baixas de crescimento do Brasil são mistura de erro técnico e militância, diz Guedes

 

Projeções baixas de crescimento do Brasil são mistura de erro técnico e militância, diz Guedes
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A projeção de baixo crescimento econômico do Brasil para o ano que vem, estimada em 1% pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), está errada, defendeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta terça-feira (11) na sede do órgão, na capital dos EUA, Washington. Segundo ele, as projeções são contaminadas por erros técnicos e motivações políticas. "Estão sempre errando e vão errar de novo", afirmou.
 

"Eles previam que a queda nossa [no PIB] ia ser dez [pontos percentuais em 2020], nós caímos três. Eles previam que o Brasil não ia voltar em V [referência à curva do PIB em uma recuperação econômica acentuada após uma queda drástica], o Brasil voltou em V. Aí previam que no ano seguinte o Brasil não ia crescer, a gente cresceu de novo, estão revendo agora para cima. Estão prevendo para o ano que vem um crescimento baixo. Possivelmente estão achando que o outro candidato vai ganhar [Lula], aí o crescimento vai ser muito ruim mesmo. Mas conosco vai seguir crescendo."
 

Relatório do FMI publicado nesta terça-feira (11) apontou que o Brasil deve crescer abaixo da média global tanto neste ano quanto no próximo. Em 2022, o país deve ter um ganho de 2,8% em seu PIB (Produto Interno Bruto), segundo o órgão, e o mundo deve registrar crescimento médio de 3,2%. Para o ano que vem, a perspectiva é de que o Brasil cresça apenas 1%, enquanto o mundo deve crescer 2,7%.
 

Assim como projeções de economistas e órgãos brasileiros, a previsão do FMI sobre o PIB do Brasil foi crescendo ao longo de 2022 —o dado divulgado nesta terça é dois pontos superior ao que se estimava em abril, enquanto a expectativa caiu em outras regiões.
 

Guedes aponta dois fatores para as expectativas mais baixas do que o resultado final. O primeiro, segundo ele, é um problema nos modelos de cálculo, que privilegiam o investimento público, em queda, sobre o investimento privado, segundo o ministro, em alta no Brasil. "Os modelos não têm aderência e estão falhando. Essa é a explicação técnica." O outro motivo seria militância, nas palavras do ministro, "narrativa política em vez de respeito aos fatos."
 

"O fundo é um erro técnico. No Brasil, tem uma parte que é erro técnico e uma parte que é militância. Nós estamos assistindo há quatro anos essa rolagem da desgraça. O ano que vem sempre é uma desgraça, aí não acontece, aí o ano que vem é que vai ser a desgraça, aí não acontece", afirmou.
 

Apesar do que o ministro afirma, mesmo instituições do governo revisaram a expectativa para o PIB brasileiro neste ano. O próprio Ministério da Economia revisou o dado em setembro, para 2,7%, em relação aos 2% previstos anteriormente.
 

O Banco Central e o Banco do Brasil também apresentaram perspectivas mais otimistas recentemente. Revisões do PIB são comuns ao longo do ano em todos os governos.
 

Guedes também defendeu a liberação de auxílios à população. Na reta final da campanha de reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu pagamento de uma 13ª parcela do Auxílio Brasil para mulheres, além de benefícios extras a taxistas, entre outras categorias.
 

O ministro, que em outros tempos foi crítico de programas como o Bolsa Família, defendeu programas de distribuição de renda em Washington. "Alguns países estão taxando as exportações para tentar derrubar o preço da comida interna. O que o Brasil fez foi dar os recursos em vez de penalizar e reduzir a produção agrícola com impostos", disse. "Deixa exportar, mas também dá mais recursos para os brasileiros para eles também poderem comprar comida."
 

Paulo Guedes viajou a Washington para acompanhar as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Pela manhã, ele participou de reunião com ministros da Economia e da Agricultura dos países do G20, que discutiram a crise alimentar e a crise energética global. No evento, Guedes voltou a defender a ideia de que o Brasil garante a segurança alimentar interna ao mesmo tempo que alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo.
 

Pesquisas recentes, porém, apontam aumento da fome no Brasil. Segundo o Datafolha, em julho, um em cada três brasileiros afirmava que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar sua família, alta em relação a levantamento anterior, em maio, quando esse índice foi de 26%. Relatório das Nações Unidas também apontou que 15,4 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar no país, ou seja, passando fome, entre 2019 e 2021.
 

FMI NEGLIGENCIOU INFLAÇÃO NO MUNDO E ORIENTOU DE FORMA EQUIVOCADA, DIZ GUEDES


Em comunicado ao Fundo Monetário Internacional divulgado nesta terça, o Guedes afirmou que o FMI negligenciou a magnitude da inflação global, hoje apontada pelo órgão como a maior ameaça às economias globais, e orientou países de forma equivocada.
 

"Infelizmente, a supervisão bilateral e multilateral do FMI negligenciou a natureza, magnitude e extensão do aumento da inflação que começou em 2021. Como resultado, a orientação política do Fundo foi equivocada em vários casos", afirmou o ministro.
 

Ele defendeu ainda que o órgão faça uma reorientação interna para fortalecer sua capacidade de análise macroeconômica e financeira, além de supervisão e assessoria política, "para restaurar a credibilidade que foi perdida nesse processo."
 

Para combater a inflação, "os bancos centrais devem mostrar determinação inabalável na luta contra a inflação", sustenta o ministro, com taxas de juros acima do nível neutro por um período prolongado.
 

O Brasil tem aumentado recorrentemente as taxas básicas de juros desde março de 2021, quando estavam no patamar de 2%, para conter o aumento da inflação, e chegou a 13,75% ao ano.
 

"Enquanto muitos observadores ao redor do mundo consideraram erroneamente as pressões inflacionárias globais como temporárias, no Brasil percebemos muito cedo que uma combinação de fatores estava em jogo, incluindo um aumento da demanda, além do choque de oferta", escreveu o ministro, que afirmou que o arrocho precoce tem feito o país colher os benefícios da queda da inflação antes de outros países.
 

No comunicado ao Fundo, Guedes também defendeu que os países devem ter uma política fiscal consistente e que desequilíbrios com estímulos fiscais podem alimentar a pressão inflacionária e dificultar ainda mais o trabalho dos bancos centrais. Segundo Guedes, a arrecadação de impostos atingiu recorde no Brasil em 2021, com aumento de 17,5% em termos reais.
 

Em Washington o ministro se reuniu com o chefe das finanças do México, Rogelio Ramírez de la O, e discutiu o aumento das exportações de produtos agrícolas, enquanto ouviu do seu homólogo um pleito pelo aumento da venda de carros mexicanos no Brasil. "Nós estamos conversando isso, mas naturalmente a nossa preferência é sempre preservar o nosso pacto industrial", afirmou o ministro.
 

No fim do dia, Guedes vai se encontrar também com executivos no Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, que reúne representantes dos dois países.


Fonte: FOLHAPRESS - 12/10/2022

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