(Foto: Fernanda Barros / O POVO)
Grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estiveram presentes em peso durante missa celebrada neste domingo, 18, na Paróquia da Paz, no bairro Aldeota. A celebração, iniciada às 8 horas, ocorreu após o padre Lino Allegri ser hostilizado por um grupo de fiéis por manifestar críticas ao chefe do Executivo nacional e lembrar das mais de 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil.
Durante toda a manhã, duas viaturas da Polícia Militar estiveram em frente à igreja. Ao serem questionados, os policiais negaram que o esquema de segurança tivesse relação com os últimos tumultos. A reportagem presenciou ainda o momento em que uma mulher que dirigia um carro parou brevemente em frente às viaturas da PM e pediu a prisão de "comunistas que estavam na igreja".
Dentro do templo, alguns dos presentes usavam camisas com as escritas "Bolsonaro 17". Já outros, mais reclusos, vestiam camisas da seleção brasileira com as cores da bandeira do Brasil. O recente episódio envolvendo a paróquia atraiu a presença do coronel Ricardo Bezerra, crítico de Lino Allegri. Segundo ele, o vigário virou um "padre proselitista”.
"Esse negócio da doutrina dos oprimidos, isso tudo não é para ser praticado aqui. Ele ainda está desrespeitando as autoridades constituídas da nação. O Padre peca com isso. Vai perder muitos fiéis se continuar nessa linha", disse o militar. A reportagem tentou contato com outros membros críticos ao pároco, mas grande parte negou contato.
Segundo informações das redes sociais, Ricardo frequentou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em São Paulo, e estudou na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Ele chegou a trabalhar no 23º Batalhão de Caçadores, no Bairro de Fátima, em Fortaleza. Seguidor de Bolsonaro, ele se apresenta como ferrenho opositor de Allegri.
Em publicação divulgada na manhã deste domingo, o militar manifesta repúdio ao "proselitismo político em nossas Igrejas" e pede um "basta ao clero progressista e à Teologia da Libertação”. Ele também chama a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de “inconsequentes”.
Devido aos tumultos, a paróquia não realizou a celebração no comando do Pe. Lino Allegri. Com a decisão, a missa ficou a cargo do Pe. Francisco Sales de Sousa. Segundo Mario Fonseca, articulador paroquial, o vigário foi orientado a se afastar neste domingo, 18, após decisão do Bispo Auxiliar, Dom Valdemir Vicente. Porém, ele alega que Lino continua como pároco oficial. A informação foi confirmada pela Arquidiocese de Fortaleza. A instituição afirmou que realizou umasérie de reuniões com padres e representantes da igreja.Defensor de Lino, o representante paroquial reagiu às intimidações realizadas contra o pároco. “Ele usou a sua palavra de sacerdote para denunciar uma necropolítica. As pessoas têm dificuldade de entender isso e acham que é um palanque político. Essa não é uma igreja apenas carismática que quer comprar um lote no céu e não está preocupada com o povo sofredor aqui na terra. Eles expressam indignação por falta de incompreensão do modelo de igreja libertadora, rotulam de comunismo”, criticou.
Aos 56 anos de vida sacerdotal, o padre italiano deverá solicitar o ingresso no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PPDDH). Na última quinta-feira, 15, o sacerdote realizou reunião virtual com membros da Defensoria Pública e do Ministério Público do Ceará (MPCE). A decisão deve-se a uma série de ameaças e ataques virtuais ocorridos na Paróquia da Paz.
O pároco é defensor da Teologia da Libertação, movimento considerado apartidário que engloba várias correntes de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condições sociais, políticas e econômicas. A vertente religiosa ganhou força no interiorda Igreja Católica na década de 1960, logo conquistando a América Latina. O movimento,porém, enfrenta opositores históricos, sendo criticado e acusado de deturpar o caminhodivino e adotar o marxismo como base ideológica.
fonte:Correio da Bahia -18/07/2021 22h:20min.
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