Um artigo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado recentemente na revista Scientific Reports apresentou os três principais fatores de propagação inicial do novo coronavírus no Brasil. Segundo o estudo, a covid-19 entrou no país, principalmente, pelos aeroportos internacionais, mas a livre circulação entre metrópoles e interior, a chegada do vírus a regiões com grande potencial de disseminação e a distribuição desigual de unidades de terapia intensiva (UTI) contribuíram para o espalhamento da doença no país.
A partir de uma modelagem matemática, os cientistas identificaram que, durante três primeiros meses de circulação do vírus, 17 cidades brasileiras correspondiam a quase uma totalidade dos casos iniciais.
A principal delas era a cidade de São Paulo que chegou a registrar 85% dos casos originais entre final de fevereiro de 2020 e metade de março do mesmo ano.
Segundo a Fiocruz, o estabelecimento da transmissão comunitária do novo coronavírus nessas áreas combinado à mobilidade pelas redes de transportes determinou o alastramento geográfico da covid-19 para municípios menores.
“Se um lockdown em capitais com potencial de disseminação tivesse sido implementado cedo, restrições obrigatórias de tráfego rodoviário fossem aplicadas, e uma distribuição geográfica mais equitativa de leitos de UTI existisse, o impacto da covid-19 no Brasil teria sido significativamente menor”, afirmam os pesquisadores no artigo.
A ausência de leitos de UTI, segundo os cientistas, foi responsável feito chamado “efeito bumerangue”. Eles observara que à medida que os casos cresciam no interior, pacientes em situações mais graves dessas localidades passaram a buscar assistência médica em grandes cidades devido à ausência de leitos de UTI em seus municípios.
Esse comportamento provocou uma distorção na distribuição dos números de mortes por covid-19 no Brasil, que deixou de acompanhar a quantidade de casos de cada região e passou a ser relacionada com a ocupação de leitos em unidades de terapia intensiva.
No artigo, os cientistas aproveitam para fazer um alerta sobre a necessidade de uma reação mais eficiente de gestores assim que emergências sanitárias sejam declaradas, além de uma gradual descentralização de unidades de terapia intensiva.
“Nos próximos anos, essa noção deve ser considerada um ponto de partida para desenhar políticas públicas urgentemente necessárias destinadas a preparar instituições de saúde brasileiras, a níveis federal e estadual, para coordenar respostas não-farmacêuticas robustas para o enfrentamento de emergências epidemiológicas em todo o país, tal como a atual pandemia do Sars-CoV-2”, concluem.
Fonte:Catraca Livre - 29/06/2021 16h
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