Em meados de janeiro de 2021, o estado do Amazonas atravessava o seu pior momento na pandemia da Covid-19, em que pacientes morreriam até por falta de oxigênio. Foi nesse cenário que Mônica Batista Teixeira, gerente da rede de doenças crônicas do estado, precisou deixar o trabalho de gestão de lado e voltar às origens como enfermeira, com o objetivo de salvar vidas.
A brasileira de 42 anos foi premiada ao lado de outras 16 profissionais de saúde de outros países que atuaram em diversas áreas da medicina. A cerimônia contou com a participação do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, e outras autoridades. Desde sua criação, em 2017, a WGH premiou 53 mulheres profissionais de saúde.
"Sabíamos que em algum momento iríamos para a linha de frente, mas imaginávamos que seria para o hospital. Mas fomos informados que nosso sistema de saúde havia entrado em colapso. Então não tinha outra saída, a missão que a gente tinha era levar pacientes para outros estados", diz a servidora, que passou a coordenar o trabalho de preparo dos aviões que fariam o transporte dos pacientes.
Enquanto Mônica e a equipe preparavam o avião, um outro grupo formado de médicos e do serviço social fazia a triagem de pacientes que seriam transferidos.
"A princípio nós levaríamos 70 pacientes para outros estados, mas a missão durou três meses e nós acabamos levando quase 900. Foram cerca de 40 voos e conseguimos salvar quase 90% das pessoas que não teriam a menor chance se tivessem ficado em nosso estado", diz Mônica, que chegou a viajar em alguns voos.
"No primeiro voo eu estava lá, mas na maior parte do tempo meu trabalho foi preparar o avião. Quando falavam que tinham pacientes, íamos às unidades de saúde buscar os equipamentos, montávamos tudo com o material necessário caso fosse preciso entubar o paciente ou reanimá-lo."
A pior parte, segundo a servidora, era quando perdia algum colega de trabalho para a Covid. "Não podia velar um amigo, socorrer a esposa dele. Não tinha tempo para chorar."
Antes da chegada da Covid, a servidora já havia enfrentado outro momento complicado. Em 2016, ela perdeu o marido, Max Teixeira Júnior, vítima de um infarto, aos 45 anos. Desde então, passou a cuidar sozinha da filha, hoje com oito anos.
Na véspera de entrar na linha de frente do combate à Covid, ela viu um tio de 75 anos, irmão de seu pai, morrer por falta de oxigênio. "Ele morreu porque não tinha um aparelho de respirador dentro do hospital. Talvez se tivesse ele poderia ter sobrevivido. E foi dentro da rede privada, imagine como estava a rede pública naquele momento."
Segundo Mônica, o fato de ser viúva e ter perdido o tio para o coronavírus aumentaram a preocupação da família. "Quando eu soube da missão e liguei para o meu pai, ouvi o grito dele dizendo que eu não poderia fazer aquilo, que a minha filha já havia perdido o pai dela", diz a servidora.
"Não tinha como me esquivar, estudei para isso. Sou apaixonada pela minha profissão. Todo enfermeiro do estado ou estava em linha de frente ou estava acamado no hospital."
Durante o trabalho, ficou longe da família por cerca de três meses, com medo de transmitir a Covid. O contato era apenas visual, de longe, da varanda da casa dos pais. Mas ela diz que o esforço foi recompensado.
"Falo que tenho um trato com Deus: toda vez que vou trabalhar, digo 'meu Deus, cuida dos meus que vou cuidar dos seus'. E a gente sempre cumpriu bem o nosso trato."
Fonte: FOLHAPRES - 16/11/2022 17h:18
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