PRF resgata 240 trabalhadores que colhiam uvas em regime desumano, grande parte do interior da Bahia - foto:reprodução
Três trabalhadores chegam ofegantes ao posto da Policia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves, cidade situada na Região Serrana do Rio Grande do Sul. O que eles relataram aos agentes levou à descoberta de um galpão com cerca de 240 trabalhadores em condições análogas à escravidão, grande parte da Bahia, que foram resgatados no município vizinho de Caxias do Sul, polo produtor de uvas e vinhos finos das serras gaúchas.
Ao divulgar o caso na sexta-feira (24), a PRF não revelou as identidades das vítimas, mas confirmou que maioria veio de cidades do interior baiano. Após o resgate, os trabalhadores contaram para aos policiais que foram contratados para trabalhar em vinícolas, colhendo uvas em Caxias do Sul. Foi garantido ao grupo salário de R$ 3 mil, acomodação e alimentação. Na chegada, contudo, encontraram condições desumanas.
De acordo com os relatos, os trabalhadores foram colocados em um alojamento em condições precárias, mal iluminado e com ventilação escassa. Durante as refeições, recebiam alimentação estragada. Os salários era pagos com atraso, e as vítimas contaram que eram coagidas a permanecer no local, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato de trabalho.
Havia longas jornadas de serviço e também castigos físicos, narraram as vítimas. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram apreendidos no local. A PRF divulgou um vídeo nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados. Uma das vítimas descreveu as condições em que vivia.
Bastante conhecidas no mercado, as três vinícolas para quem os trabalhadores prestavam serviços terceirizados de colheita - Aurora, Garibaldi e Salton - se disseram surpreendidas com o resgate e afirmaram que não compactuam com as práticas flagradas pela PRF.
A gente saia 4h e ia para as fazendas trabalhar catando uva. Voltava 22h, 23h. O carro largava a gente lá, para ficar esperando [ele voltar], e tratavam a gente como se fôssemos bicho. Pegavam a quentinhas com a comida azeda e davam para a gente comer. Diziam: ‘vocês têm que comer isso mesmo, porque baiano bom é baiano morto’. A gente é pai de família, trabalha, contou uma das vítimas, sob forte indignação
Outro trabalhador contou aos agentes rodoviários federais que direitos básicos eram ignorados. “Não respeitavam quando a gente ficava doente e tratavam a gente que nem cachorro. Viemos para trabalhar e nos matar, porque a gente saia cedo e voltava bem tarde”, desabafou.
O crime só foi descoberto por que
três trabalhadores conseguiram fugir. Foram eles que alertaram os agentes da PRF
de Bento Gonçalves que viviam em regime semelhante à escravidão e que foram
mantidos contra a vontade no alojamento. Os policiais acionaram outras
instituições e decidiram montar uma
operação.
O flagrante aconteceu na quarta-feira à noite, durante ação da PFR em conjunto com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Polícia Federal. O responsável pela empresa, que possui contratos com vinícolas da região, foi preso e levado para a PF de Caxias do Sul.
Depois, o suspeito foi transferido para um presídio em Bento Gonçalves, mas acabou liberado após pagar fiança e R$ 40 mil. O nome dele não foi divulgado. Também baiano, ele tem 45 anos e é natural de Valente, no Nordeste do estado.
Promessas viraram pesadelo e cárcere privado
Em entrevista ao portal g1, o gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul, Vanius Corte, explicou que muitos trabalhadores não receberam o salário prometido e tinham que comprar ‘fiado’ no mercadinho local. O estabelecimento praticava preços abusivos. Cobrava, por exemplo, R$ 22 em um quilo de feijão.
“O empregado ficava sempre
devendo e não conseguia sair sem pagar a conta, não recebia o salário e ficava
nessa situação, de ficar preso no local por conta da dívida. Isso foi uma das
coisas que caracterizou o trabalho escravo, além dessa história das agressões.
Nossa fiscalização apreendeu no local uma máquina de choque elétrico e spray de
pimenta que era usado contra os empregados que reclamavam da situação”,
explicou.
O MTE informou que irá analisar individualmente os direitos trabalhistas de cada trabalhador para buscar a devida compensação. Somente em, 2.575 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão contemporânea, 82 delas em território baiano. Os dados são do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia (Safiteba). Ao todo, desde a formação dos grupos de fiscalização, em 1995, o número passa de 60 mil.
e devendo e não conseguia sair sem pagar a conta, não
recebia o salário e ficava nessa situação, de ficar preso no local por conta da
dívida. Isso foi uma das coisas que caracterizou o trabalho escravo, além dessa
história das agressões. Nossa fiscalização apreendeu no local uma máquina de
choque elétrico e spray de pimenta que era usado contra os empregados que
reclamavam da situação”, explicou.
O MTE informou que irá analisar individualmente os direitos trabalhistas de cada trabalhador para buscar a devida compensação. Somente em, 2.575 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão contemporânea, 82 delas em território baiano. Os dados são do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia (Safiteba). Ao todo, desde a formação dos grupos de fiscalização, em 1995, o número passa de 60 mil.