Após mais de dois meses de atraso em razão da falta de datas no calendário da CBF, a Copa do Nordeste finalmente conheceu os oito classificados para as quartas de final.
A fase será disputada em jogo único, com mando de campo das equipes com melhor campanha na fase de grupos.
O destaque da próxima fase fica por conta dos clássicos nordestinos entre: Bahia x Fortaleza e Sport x Ceará, duelos entre equipes da Série A do Brasileirão.
O Ministério da Educação anunciou, neste sábado (7), a prorrogação das inscrições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025. Inicialmente programadas para encerrar na sexta-feira, dia 6 de junho, as inscrições agora podem ser feitas até o dia 13 de junho.
Segundo informações da Agência Brasil, o pagamento da taxa de inscrição pode ser feito até o dia 18 de junho.
Já os pedidos de tratamento por nome social e solicitações de atendimento especializado devem ser feitos até o dia 13 de junho, mesma data em que se encerram as inscrições.
O delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, secretário-geral da Interpol no Brasil, é o responsável por incluir o nome da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na lista de difusão vermelha da organização, nessa quinta-feira (5/6).
Ele é o primeiro brasileiro a assumir o cargo nos 100 anos de história da organização e tomou posse em novembro do ano passado.
Zambelli está condenada pelo STF a 10 anos de prisão e à perda do mandato, devido ao envolvimento da parlamentar na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Na terça-feira (3/6), ela informou que já está fora do Brasil há alguns dias. “Eu queria anunciar que estou fora do Brasil. Já faz alguns dias. A princípio, buscando um tratamento médico, é um tratamento que eu já fazia aqui [sem especificar o lugar]. Vou pedir afastamento do cargo”, disse a deputada ao canal AuriVerde, no YouTube.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu, nessa quarta-feira (4/6), pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou a prisão preventiva da deputada federal.
Nascido em São Luís, no Maranhão, Urquiza é formado em direito pela Universidade de Fortaleza e tem pós-graduações em Administração Pública pelo IBMEC e em Direito Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O chefe brasileiro foi quem incluiu o nome de Zambelli na lista de difusão vermelha da corporação.
A inclusão da deputada na lista de difusão vermelha se deu a pedido da Polícia Federal (PF), que atendeu ao pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Com a medida, a parlamentar pode agora ser presa em outros países.
Durante coletiva de imprensa realizada na manhã deste sábado (7), no hotel Intercontinental, em Paris, o presidente Lula voltou a condenar de forma enfática o que classificou como genocídio em Gaza e criticou a inoperância da governança global diante do conflito.
Em sua fala, Lula destacou a violência enfrentada pela população palestina e a falta de reação da comunidade internacional. “Tão grave quanto a Ucrânia é Gaza. A guerra entre Ucrânia e Rússia são dois exércitos formais brigando. Em Gaza não, é um exército altamente profissionalizado matando mulheres e crianças”, afirmou.
“Eu fico pasmo com o silêncio do mundo. Parece que não existe mais humanismo nas pessoas. ‘Ah, palestino pode morrer’. Palestino não é ser inferior, palestino é gente como nós. Ele tem o direito de ter o terreno dele. Foi demarcada em 1967 a área em que os palestinos poderiam construir o seu país. Está sendo tomada essa terra demarcada em 1967”, disse Lula.
Lula também apontou a fragilidade das Nações Unidas diante da crise. “A nossa briga por governança é isso. A ONU que teve coragem de criar o Estado de Israel, não tem força para criar o Estado Palestino. Estão dizimando uma nação, a pretexto de quê?”
“Nós também criticamos o Hamas quando fez a invasão a Tel Aviv. Agora, o que ninguém responde é como a inteligência de Israel permitiu que alguém de asa delta invadisse Tel Aviv. Sinceramente, tem coisas que meus anos de escolaridade não me permitem compreender. E tem outras guerras. Este é o período que temos mais conflitos desde a Segunda Guerra Mundial”, destacou.
O presidente Lula durante entrevista coletiva à imprensa em Paris ( (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
A coletiva contou com a presença de diversos ministros, incluindo o chanceler Mauro Vieira e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Após o encontro com a imprensa, Lula seguiu para Nice, de onde embarcará de volta ao Brasil no começo da semana.
Em sua fala, o presidente reforçou os laços de amizade entre Brasil e França, além de reiterar seu pedido pela aprovação do Acordo União Europeia–Mercosul. Segundo Lula, o Brasil não deseja prejudicar pequenos agricultores franceses, mas acredita ser possível chegar a um entendimento entre as partes envolvidas.
Sobre a guerra na Ucrânia, ele afirmou que um acordo já está delineado, restando apenas “coragem para colocar as cartas na mesa”.
Carta entregue ao presidente Lula
Lula recebeu na quinta-feira (5), durante um encontro com a comunidade brasileira na Prefeitura de Paris, a ‘Carta Aberta sobre o Genocídio do Povo Palestino‘, que cobra a aplicação de sanções contra o Estado de Israel. O documento foi assinado por mais de 12 mil pessoas e organizações por meio de formulário online.
“É indispensável que o Brasil se junte às demais nações que aplicaram sanções ao regime israelense, rompendo relações diplomáticas e comerciais com o estado sionista de Israel, através de embargo militar bilateral e embargo enérgico, e revogue o tratado de livre comércio em vigor, alinhando-se ao parecer de especialistas das Nações Unidas que prevê que, para o cumprimento da decisão da CIJ, os Estados devem cancelar ou suspender relações econômicas, acordos comerciais e relações acadêmicas com Israel’ até que este cumpra as determinações para pôr fim ao genocídio, ocupação e apartheid e respeitar a autodeterminação do povo palestino”, afirma o documento.
Entre os signatários estão como Chico Buarque, Erika Hilton, Glauber Braga, Gregório Duvivier, Luiza Erundina, Milton Hatoum, Ney Matogrosso, Paulo Sérgio Pinheiro, além de dezenas de entidades e movimentos da sociedade civil.
Uma ex-freira voltou ao convento no dia de seu casamento para rezar ao lado das antigas amigas, com quem conviveu dividiu a vida religiosa. O vídeo, que emocionou internautas, foi gravado no Mosteiro Santa Clara, emCampina Grande,na Paraíba.
As imagens mostram o momento em que a mulher, vestida de noiva e segurando um buquê, se coloca em frente as irmãs. As freiras cantam, oram e abençoam a amiga, que vai construir sua família dali para frente.
Após a oração, uma das religiosas entregou uma estátua de Virgem Maria para a noiva, que não conseguiu segurar as lágrimas. O registro, compartilhado nas redes sociais, viralizou nas redes sociais. Informações do Bocão News em 06/06/2025.
Em uma sessão marcada por debates intensos, aCâmara Municipal de São João del-Rei, em Minas Gerais, rejeitou dois projetos que concederiam homenagens ao deputado federalNikolas Ferreira(PL-MG). As propostas, ambas de autoria do vereador Rafael Lima (PL), previam a entrega da Medalha Presidente Tancredo de Almeida Neves e do título de cidadão honorário da cidade ao parlamentar.
Embora as homenagens tenham sido aprovadas em primeiro turno no dia 27 de maio, com apenas dois votos contrários, os vereadores mudaram de posição na segunda votação, realizada nesta terça-feira (3). O recuo foi atribuído à pressão popular e à percepção de que o deputado federal destinou poucos recursos ao município, apesar de ter sido um dos mais votados na cidade nas eleições de 2022.
Durante a discussão, o vereador Edmar da Farmácia (PSDB) foi o primeiro a declarar sua mudança de voto, argumentando que outros parlamentares enviaram mais emendas para São João del-Rei. Segundo ele, Nikolas “não honrou” os votos que recebeu na cidade.
Com a negativa, Nikolas Ferreira (PL), não receberá a Medalha Presidente Tancredo de Almeida Neves e do título de cidadão honorário da cidade ao parlamentar (Foto: Reprodução)
Outros vereadores que mudaram de posição
Também mudaram de posição os vereadores Luis Felipe (PRD), Gustavo Acácio (Podemos), Claudinho da Farmácia (PMN) e Fernando Inspetor (PMN). Na segunda votação, a proposta da medalha foi rejeitada por sete votos e teve duas abstenções. O projeto de título de cidadão honorário recebeu oito votos contrários e uma abstenção. O presidente da Câmara, Dondom (PSDB), só votaria em caso de empate.
O debate ainda foi marcado por menções à prisão de um primo de Nikolas Ferreira, flagrado com 30 quilos de maconha durante uma operação da Polícia Federal em Uberlândia, no interior de Minas Gerais.
Em nota, o deputado afirmou não ter relação com o parente. Nikolas Ferreira foi procurado para comentar o caso das homenagens, mas ainda não respondeu.
Rafael Horta matou a esposa e o filho de dois meses, nesta sexta-feira (6/6), na casa da família em um condomínio de luxo em Limeira, no interior de São Paulo. O criminoso tinha 40 anos e atuava como procurador jurídico na prefeitura da cidade.
Ele tinha 17 anos de experiência jurídica, 13 dedicados à procuradoria municipal. Nas redes sociais, Horta postava fotos do cotidiano, como o nascimento do filho, jogos do Brasil e a paixão pelo Palmeiras – time do coração.
O advogado era casada com Cristiane Laurito, morta nesta sexta. Cristiane trabalhava na Câmara Municipal de Campinas.
O casal tinha acabado de ter um filho, que também foi morto nesta manhã. O bebê passou alguns dias a mais sob monitoramento médico após o nascimento e tinha uma consulta médica no dia em que a família foi morta.
Em nota, a Prefeitura de Limeira lamentou o que definiu como “tragédia”.
A administração municipal manifestou solidariedade aos familiares e amigos da vítima e expressou respeito aos envolvidos na ocorrência.
A polícia agora investiga a dinâmica da ocorrência e as razões que podem ter levado ao crime.
Com auxílio de escada e furadeira, quatro homens afixam um painel de quase dois metros de comprimento na parede lateral do prédio nº 2200 da movimentada Avenida Nilo Peçanha, emPorto Alegre.
Na placa, lê-se: “Território Quilombola Kédi. Associação do Quilombo Kédi. Em processo de regularização fundiária pelo Incra nº 54000.104791/2021-16”.
A instalação do marco, em 20 de abril, foi testemunhada por dezenas de moradores e pela reportagem da BBC News Brasil.
Para a comunidade, a placa é duplamente significativa: o edifício, que hoje abriga a sede da associação de moradores, está situado no local exato de um antigo terreiro.
“O terreiro da mãe Eva era um dos pontos de convivência da comunidade”, explica Tânia Rosangela de Jesus Dutra, primeira-secretária da associação.
Descendente dos primeiros ocupantes, a líder comunitária não conheceu a matriarca.
A existência do terreiro, porém, foi atestada em laudo antropológico emitido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O prédio hoje ocupado pela associação fica ao lado de uma imponente figueira, árvore associada a poderes cósmicos em inúmeros ritos, incluindo os de matriz africana.
A relação entre movimento quilombola e as religiões de matriz africana não é uma exclusividade da Vila Kédi.
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Luiz Antônio Araujo
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Moradores instalam placa do Quilombo Kédi na fachada da associação. Prédio fica no local de antigo terreiro e chegou a abrigar templo católico
O advogado Onir Araújo, que presta assessoria à associação, afirma que, na capital gaúcha, praticamente todas as comunidades quilombolas organizaram-se em torno de terreiros ou abrigam alguma espécie de local de culto afrorreligioso em seu interior.
Segundo Araújo, Porto Alegre tem 11 quilombos urbanos, incluindo o primeiro desse tipo a ser reconhecido no Brasil, o da família Silva, vizinho ao Kédi.
“Nenhuma outra cidade brasileira tem esse número de comunidades”, afirma o advogado.
De acordo com o Censo de 2022, existem 203 localidades quilombolas no Rio Grande do Sul, 16 delas em Porto Alegre.
Em termos quantitativos, porém, os terreiros são muito mais numerosos do que os quilombos na capital.
Um levantamento da Prefeitura feito entre 2006 e 2008 indicou a existência de 1.290 terreiros na primeira década do século em Porto Alegre — número praticamente idêntico ao encontrado em Salvador na mesma época, segundo Ari Pedro Oro, professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em artigo intitulado "O atual campo afro-religioso gaúcho", publicado em 2012.
No Estado, haveria cerca de 30 mil terreiros, conforme cálculo de Norton Correa, professor de Antropologia da Universidade Federal do Maranhão.
As marcas das religiões afrobrasileiras no RS
Para muita gente, quando o assunto são as religiões de matriz africana, o Rio Grande do Sul pode não ser o primeiro Estado brasileiro a vir à mente.
Afinal, trata-se da segunda unidade da federação com menor população autodeclarada preta ou parda, com 20%, segundo o Censo de 2022, atrás apenas de Santa Catarina.
Mas uma consulta aos dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, pode desfazer essa impressão.
No levantamento de 2022, assim com no de 2010, o Rio Grande do Sul figurou como o Estado com maior percentual de adeptos da umbanda e do candomblé, as duas principais religiões afrobrasileiras, embora não sejam as únicas.
O Estado também é campeão em números absolutos, de acordo com o Censo.
Os adeptos destas religiões representavam 3,19% dos gaúchos em 2022.
Isso representava um percentual bem acima do nacional, de 1%.
Mas pesquisadores acreditam que, em ambos os casos, os números podem ser ainda mais elevados, porque muitos adeptos tenderiam a se definir como católicos por razões familiares e culturais.
Pesquisadores também sustentam que a chegada no Rio Grande do Sul de colonos de fé luterana, sobretudo alemães, contribuiu para estender a liberdade de culto no Estado — inclusive das religiões de matriz africana — ao enfraquecer o controle da Igreja católica no âmbito espiritual.
Evidências da afrorreligiosidade (ou, na expressão de Ari Oro, religiosidade afrorriograndense) estão por toda parte.
A maior festa em louvor a um orixá nas Américas não ocorre no Nordeste brasileiro ou no Caribe, mas ao longo dos mais de 200 quilômetros da praia gaúcha do Cassino, a mais extensa do mundo, no município de Rio Grande.
É a celebração de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, que atrai um público calculado em 300 mil pessoas, segundo os organizadores.
O peso das religiões de matriz africana transparece na própria linguagem.
Para boa parte dos gaúchos, a expressão “ser de religião” indica adesão a cultos afro.
“Quem é de axé diz que é”, resume um refrão corrente na comunidade afrorreligiosa local.
A compreensão do fenômeno, diz Vitor Queiroz, professor de Antropologia da UFRGS, exige em primeiro lugar um ajuste de contas com a ideia corrente de que o Rio Grande do Sul é um Estado branco.
“Acho curioso quando as pessoas falam que não veem negros em Porto Alegre. Digo: ‘Refaça sua operação ocular. Vá ao centro da cidade e simplesmente olhe”, afirma Queiroz.
Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em maio, em visita a atingidos pela enchente que assolou o Estado: “Não sabia que tinha tanta gente negra aqui”.
Lula acrescentou que teria ouvido da primeira-dama, Janja Lula da Silva, que os negros “são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados”.
Segundo Queiroz, o mito do Rio Grande branco está relacionado à reprodução do preconceito e ódio racial e religioso, segundo Queiroz.
Em 5 de maio, no auge da enchente, a influenciadora Michele Dias Abreu atribuiu o desastre climático ao fato de o Estado estar entre os que abrigam “maior número de terreiros de macumba (sic)”.
“Deus está descendo com sua ira total”, apregoou a influenciadora no vídeo.
A repercussão negativa da injúria, que teve milhões de visualizações, levou o Ministério Público de Minas Gerais a denunciar Michele por prática e incitação à intolerância religiosa nas redes sociais.
Depois das medidas cautelares, a influenciadora desculpou-se, afirmando que o comentário havia sido “infeliz e desnecessário”.
A desinformação, segundo Queiroz, é produto de estratégias sociais e políticas de branqueamento da população gaúcha adotadas pelas elites gaúchas desde o século 19.
“Os símbolos do Estado são todos afroindígenas. O próprio gaúcho do século 19 é um peão (trabalhador de estância) de pele escura”, ressalta o professor da UFRGS.
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Luiz Antônio Araujo
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Tania Dutra prepara refeição na Cozinha Solidária da Associação de Moradores do Quilombo Kédi. Prédio fica no local de antigo terreiro
O papel dos africanos na história do RS
A pesquisa historiográfica revela que a participação de africanos no povoamento do Rio Grande do Sul até o início do século 19 não se distinguiu do resto do país.
Em trabalho do início dos anos 2000, a historiadora Helen Osório sustentou que, entre 1780 e 1807, o percentual de escravizados de origem africana entre a população local oscilava entre 28% e 36%, patamar similar ao da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro.
A economia do charque (carne de sol), que impulsionou o crescimento da metade sul do Estado até o final do século 19, foi movida a braços e sangue africano, afirma Queiroz.
No Uruguai e na Argentina, onde o charque teve peso igualmente significativo, a presença massiva de escravizados nos saladeros (equivalentes platinos das charqueadas) e estâncias, tão ou mais relevante que a do Rio Grande do Sul, somente nas últimas décadas mereceu maior atenção dos pesquisadores.
Com importância econômica secundária em relação aos centros charqueadores de Pelotas e Rio Grande, os núcleos urbanos mais ao norte também concentraram desde o início grandes contingentes de africanos e descendentes.
“Porto Alegre foi fundada no final do século 18 por colonos açorianos e seus escravos. A gente esquece que pelo menos um terço da população da cidade nos primeiros anos era de africanos ou afrodescendentes”, diz Queiroz.
Se o peso demográfico dos negros no Rio Grande do Sul equivale até o início do século 19 ao de outros Estados, o que explica a adesão mais pronunciada de religiões de matriz africana em solo gaúcho?
Por razões de colonização e defesa do território, a Coroa portuguesa e, em seguida, o Império brasileiro promoveram a instalação de colonos — inicialmente alemães, mas também franceses, suíços e italianos — no Rio Grande do Sul.
A procedência dos migrantes obedecia à intenção de, nas palavras da pesquisadora Vania Herédia, “branquear a raça”, ou seja, fortalecer o elemento branco na população brasileira.
Mas teria sido a força do protestantismo luterano entre os imigrantes alemães que pode de alguma forma ter facilitado a expansão das religiões de matriz africana, ao enfraquecer o controle da Igreja católica sobre a região, segundo pesquisadores.
Para Queiroz, mais do que uma relação estanque entre as confissões, existe no Estado um “mercado mágico subterrâneo”, comum também em outros lugares do país.
“Às vezes, a pessoa não é afrorreligiosa e está, por exemplo, com a mãe doente. Tenta isso, tenta aquilo, e alguém diz: ‘Olha, a mãe tal no terreiro tal pode ajudar’. E a pessoa vai lá e encomenda um ebó (oferenda). Essa pessoa é o quê? Ela vai ao terreiro, às vezes escondida”, exemplifica.
Nem sempre as transações ocorrem nas sombras. O exemplo mais notório é o da relação entre o presidente (cargo equivalente a governador na República Velha) Antonio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) e o príncipe beninense Custódio Joaquim de Almeida, que chegou ao Rio Grande do Sul no final do século 19.
A tradição oral atribui a Custódio o assentamento de ocutás (objetos sagrados associados a orixás) em distintos pontos de Porto Alegre.
O mais famoso é o chamado Bará do Mercado Público, simbolizado por um círculo de pedras no piso do prédio — o local exato do assentamento nunca foi revelado.
Outros estariam sob o próprio Palácio Piratini, sede do governo estadual, a pedido de Borges, na Igreja das Dores, no antigo pelourinho da Rua dos Andradas e até mesmo, segundo Queiroz, em um ponto do leito do Lago Guaíba.
A religião de Custódio, como a dos primeiros africanos em solo gaúcho, conforme Queiroz, era chamada de “nação” e hoje adota a denominação de batuque.
Originária do Golfo da Guiné, tem possível influência de mitos centro-africanos.
Como o candomblé — em relação ao qual é, nas palavras do professor da UFRGS, “um culto diferente de mesma raiz” —, o batuque venera orixás e utiliza o iorubá como língua litúrgica.
Embora seja visto pelos próprios adeptos como tradicional e ancestral, o batuque implantou-se há pouco mais de um século, no final do século 19.
Nos anos 1930, de acordo com Queiroz, surgiram no Rio Grande do Sul os primeiros terreiros de umbanda, poucas décadas depois de seu aparecimento no Rio de Janeiro.
Com elementos mitológicos centro-africanos, a umbanda é comumente definida como a mais brasileira das afrorreligiões.
Finalmente, mais recentemente figura a quimbanda ou linha cruzada, que acrescenta as divindades de Exu e Pombagira ao universo sagrado do batuque e da umbanda.
Na prática cotidiana, os três ramos (chamados localmente de “lados”) são entrelaçados.
“Batuque, umbanda e quimbanda podem coexistir no mesmo espaço. Trocam-se a decoração, o dia da semana, os frequentadores, mas existe convivência”, garante o professor.
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Rio Grande do Sul tem o maior percentual de adeptos de religiões afrobrasileiras
Conflitos religiosos
Se as relações entre os “lados” são pacíficas, o convívio com outras confissões registra momentos de aberta hostilidade.
Por duas vezes, em 2003 e 2015, deputados ligados a igrejas evangélicas neopentecostais tentaram sem sucesso aprovar na Assembleia Legislativa projetos que proibiam o sacrifício de animais, prática corrente no batuque e na quimbanda.
No primeiro episódio, o Ministério Público do Estado ingressou com ação direta de inconstitucionalidade contra a decisão dos deputados no Tribunal de Justiça do Estado.
Diante de decisão desfavorável, interpôs recurso extraordinário junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Finalmente, em 2019, por unanimidade, a corte suprema decidiu pela constitucionalidade do sacrifício de animais em cerimônias religiosas.
A polêmica estimulou a criação, em 2014, do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos.
A finalidade do órgão, segundo o decreto assinado pelo então governador Tarso Genro (PT), é “desenvolver ações, estudos, propor medidas e políticas públicas voltadas para o conjunto das comunidades do povo de terreiro do Estado, caracterizando-se como um instrumento de reparação civilizatória, na busca da equidade econômica, política e cultural e da eliminação das discriminações”.
Em um episódio mais recente de tensão, o padre Sérgio Belmonte, da paróquia de São Jorge, no bairro Partenon, provocou reação nas redes sociais ao anunciar, em 23 de abril, uma celebração interreligiosa no templo.
A data, consagrada ao santo guerreiro no calendário católico, é festejada também nos cultos afro em louvor a Ogum, orixá da guerra.
Diante da controvérsia provocada pelo anúncio, a paróquia anunciou que o ato interreligioso não se realizaria no interior da igreja.
Ainda assim, depois da missa, quatro homens tentaram impedir a lavagem das escadarias do templo por adeptos de religiões de matriz africana e tiveram de ser contidos pela polícia.
O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, lamentou o episódio em entrevista à BBC News Brasil.
“Faz parte da missão própria da Igreja Católica promover, com outros fiéis, de maneira fraterna, respeitosa e convivial, o caminho da busca de Deus ou do divino, como quisermos”, disse o arcebispo.
O caso fornece, na opinião de dom Jaime, “sinais de um radicalismo, de um fundamentalismo que não caracteriza, que não faz parte da sã tradição católica nem faz parte daquilo que a Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano 2º, tem defendido”.
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Câmara Municipal de Porto Alegre/Divulgação
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Bará do Mercado Público é mais famoso marco da presença afrorreligiosa na capital gaúcha
O arcebispo tinha prometido ao padre Belmonte que estaria presente à missa de 23 de abril, mas foi impedido por uma forte gripe, sendo representado pelo bispo auxiliar, dom Juarez Destro.
Se tivesse comparecido, porém, disse que perguntaria, em primeiro lugar, se as pessoas que se manifestaram participam da vida ordinária da comunidade.
“Se sim, certamente merecem sim nossa orientação, nossa proximidade e, por que não dizer, o respeito. Até porque a Igreja não é feita de pessoas que pensam da mesma forma. Existem diferenças.”
Em polêmicas como a da paróquia São Jorge, observou, encontram-se “não raramente influenciadores digitais que promovem situações delicadas, que não estão participando da vida concreta de uma igreja particular e disseminam suas opiniões através das redes sociais, sem um compromisso de vida comunitária”.
No Quilombo Kédi, a busca dos moradores do reconhecimento de seu direito a ocupar o território se chocou com as pretensões da Igreja.
Erguido no ponto ocupado pelo terreiro de mãe Eva, o prédio da associação ainda ostentava, em abril, acima da placa do quilombo, um letreiro onde se lia “Igreja Santa Edvige, filiada à Paróquia Nossa Senhora Mont’Serrat”. Ao lado, um aviso: “Missas aos sábados às 15:30”.
O espaço foi utilizado por dez anos por catequistas católicos em missão de conversão junto aos moradores — sem sucesso, informa o advogado Onir Araújo.
Fluminense de Niterói e ativista social há 40 anos, o assessor do Quilombo Kédi radicou-se na capital gaúcha há mais de duas décadas, mas não consegue evitar a emoção ao falar da terra adotiva.
“Porto Alegre dorme todas as noites ao som de tambores de matriz africana”, comenta Araújo. “Em todos os bairros, se você apurar bem o ouvido.”
Fonte: Luiz Antonio Araújo - De Porto Alegre para a BBC News Brasil/REPRODUÇÃO PELO BLOG em 06/06/2025 às 21h:56
Esta reportagem foi originalmente publicada no dia 9 de agosto de 2024 e atualizada e republicada em 6 de junho de 2025