A fabricante de veículos elétricos BYD divulgou um plano de expansão para suas operações na Bahia, com a inclusão da produção de componentes.
O anúncio foi feito pelo presidente da BYD Brasil, Tyler Lie, neste sábado (20), durante um encontro na Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).
De acordo com os planos da empresa chinesa, a intenção não é apenas aumentar a produção de automóveis, mas também fabricar peças, com a instalação de uma unidade para a produção de baterias para carros elétricos.
Segundo a assessoria de comunicação da SDE, a iniciativa é uma resposta à boa aceitação dos produtos da montadora chinesa no mercado brasileiro. "A Bahia é um grande player nacional nas Américas. A BYD é hoje a maior companhia global na fabricação de carros elétricos. Ela tinha inúmeros lugares para escolher e nosso estado foi o eleito", afirmou o secretário da pasta, Angelo Almeida.
Tyler Lie, da BYD, explicou a abordagem gradual para a produção de peças no país. "A produção das peças no Brasil tem que ser feita passo a passo, porque é uma tecnologia nova, que depende do desenvolvimento dos fornecedores locais, com capacitação", disse. O executivo confirmou que a montagem da fábrica de baterias já foi iniciada.
Quatro homens morreram após um confronto com a Polícia Militar na tarde deste sábado (20), no bairro de Narandiba, em Salvador. De acordo com o registro policial, a ocorrência foi registrada como mortes por intervenção de agente de segurança pública.
Segundo o boletim, militares que estavam em ronda foram surpreendidos por um grupo de oito homens, que teriam atirado contra a equipe. Houve um revide por parte dos policiais, resultando em quatro feridos.
Os homens baleados foram socorridos, mas não resistiram aos ferimentos e morreram. Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Salvador e ainda não foram identificados.
O restante do grupo conseguiu fugir do local. A polícia apreendeu com os homens mortos duas pistolas calibre .40, dois revólveres calibre .38 e munições. Além das armas, foram encontradas porções de crack e maconha, R$ 121 em dinheiro e seis aparelhos celulares.
Todo o material apreendido foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios Múltiplos, onde o caso foi registrado.
Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o pai empresário é rendido e forçado a entrar em um carro quando ia almoçar - foto:reprodução
Um homem foi preso após planejar o sequestro do próprio pai, um empresário de 74 anos, para roubar R$ 700 mil. O crime ocorreu em 10 de setembro, em Manaus (AM). A vítima foi mantida em cárcere por mais de 12 horas com a ajuda de um funcionário da família e outros cinco comparsas.
Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o empresário é rendido e forçado a entrar em um carro quando seguia para almoçar.
Vídeo do sequestro:
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Segundo a Polícia Civil do Amazonas, ao menos sete pessoas participaram do crime. Quatro já foram presas:
David Francisco Alves Sá – filho da vítima e apontado como mandante;
Douglas Oliveira de Lima – funcionário da empresa, responsável por monitorar a rotina do empresário;
Arleson da Silva Pinheiro – alugou e conduziu o veículo usado no sequestro;
João Kayb Damascena Martins – atuou como elo entre os detidos e os foragidos.
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De acordo com o delegado Cícero Túlio, titular do 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), os envolvidos vão responder por extorsão mediante sequestro, porte de munição, associação criminosa, tráfico de drogas e adulteração de veículo.
A polícia agora investiga se a quadrilha tem ligação com outros sequestros-relâmpago na Região Metropolitana de Manaus e tenta localizar o restante do valor roubado, estimado em R$ 600 mil.
O Alzheimer é um tipo de demência que, diferente do propagado, nem todo idoso tem, porém, a partir dos 60 anos, um a cada 10 pessoas são portadoras da condição. O neurologista Italo Almeida, em entrevista ao Metropole Saúde desta sexta-feira (19), afirmou que grande parte das demências são causados pelo álcool. Cerca de 10% dos casos demenciais em pessoas mais jovens são advindos do consumo alcoólico.
“Álcool, além de ser causa de grande mortalidade no mundo, é uma das causas de demência… Álcool, na vida que levamos, nos relaxa, mas de maneira geral, é uma substância muito mais estudada como adoecedora do que uma substância que estimula saúde”, disse o neurologista.
Apesar disso, o especialista constatou que há doses seguras e saudáveis para consumir álcool e não arcar com mazelas à saúde. Segundo ele, duas taças de vinho é uma quantidade segura para o homem tomar em cada dia do fim de semana, já a mulher seria metade, duas taças em todo o fim de semana.
“A substância que mais causa danos na sociedade é álcool, assim como incesto, acidentes de trânsito e feminicídio, mais do que qualquer outra. Isso não é puritanismo, eu tomo uma taça de vinho eventual de forma recreativo, mas do jeito que ela é incentivada e as outras discriminadas, é um absurdo para o mal que ele faz, e é uma das causas de demência”, completou.
Dr. Italo Almeida é fundador e Diretor Médico da Neuro Integrada em Salvador.
Fonte.grupo.metropoles c/acréscimo do Blog - 20/09/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste sábado (20) a demissão do procurador federal Erik Siebert, do Distrito Leste da Virgínia. A decisão ocorre em meio a relatos da imprensa americana de que o procurador vinha sendo pressionado a investigar dois adversários políticos do republicano.
Segundo o jornal The New York Times, Siebert havia renunciado ao cargo na sexta-feira (19). Em publicação na rede Truth Social, Trump afirmou que retirou a nomeação do procurador ao ser informado de que ele contava com o apoio “incomumente forte” de dois senadores democratas, a quem chamou de “canalhas”.
Ainda de acordo com o jornal, o procurador teria sofrido pressões para apresentar acusações contra o ex-diretor do FBI James Comey, demitido por Trump em 2017, e contra a procuradora-geral de Nova York, Letitia James.
A Itália vive uma crise histórica de mão de obra na saúde. Faltam mais de 65 mil profissionais entre médicos, enfermeiros e técnicos, e para cobrir essa lacuna o país abriu recrutamento internacional — com os brasileiros no centro das atenções.
Os contratos oferecem até 7 mil euros mensais (cerca de R$ 44,6 mil), além de moradia, passagem aérea e cursos de idioma.
A medida ganhou força depois do Decreto Milleproroghe, que facilitou o reconhecimento temporário de diplomas estrangeiros. Na prática, isso significa que os profissionais podem começar a trabalhar logo após a aprovação, sem precisar esperar todo o processo de equivalência.
Quem deseja tentar uma vaga deve acessar plataformas como ClicLavoro e EURES, além de sites de hospitais e do Indeed Itália.
O processo exige diploma e histórico traduzidos e apostilados, documentos que são enviados à Prefeitura italiana pela instituição contratante.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) será o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da chamada “PEC da Blindagem”. O texto foi aprovado nesta semana pela Câmara dos Deputados e agora encontra-se para apreciação da CCJ.
O senador anunciou a designação nas redes sociais, na noite desta sexta-feira (19/9), e afirmou que não aprovará a PEC. "Recebi do presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), a missão de relatar a chamada PEC da Blindagem no Senado. Minha posição sobre o tema é pública, e o relatório será pela rejeição, demonstrando tecnicamente os enormes prejuízos que essa proposta pode causar aos brasileiros", declarou Alessandro Vieira.
A PEC da Blindagem determina que qualquer abertura de ação penal contra parlamentar depende de autorização prévia, em votação secreta, da maioria absoluta do Senado ou da Câmara. Além disso, a proposta concede foro no Supremo para presidentes de partidos.
Anteriormente, Otto Alencar já havia sinalizado que seria contrário à aprovação. "Eu sou contra", disse a um grupo de jornalistas. O parlamentar, que tem poder para definir como a proposta tramitará dentro da comissão, também disse que não pulará etapas.
Desgaste
Políticos apontam para um desgaste causado pela proposta junto à opinião pública e ao STF (Supremo Tribunal Federal), com a eleição de 2026 cada vez mais próxima. Dois terços das vagas do Senado estarão em disputa no ano que vem.
Mesmo se, hipoteticamente, passar pela CCJ, a PEC da Blindagem não entrará em vigor com facilidade. Propostas de emenda à Constituição, como a PEC da Blindagem, são os projetos de aprovação mais difíceis. Precisam de ao menos 308 votos na Câmara e ao menos 49 no Senado, com votações em dois turnos nas duas Casas. (Com Folhapress e Agência Brasil)
Sessão de 'mesas girantes' em Paris, em gravura de 1853; esse tipo de evento foi ponto de partida para Kardec 'codificar' o espiritismo.
Há mais de 200 anos, na cidade francesa de Lyon, nascia Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869).
Décadas depois, ele ficaria mais conhecido por seu pseudônimo, Allan Kardec, e fundaria o espiritismo.
Provavelmente nem Kardec nem seus contemporâneos poderiam imaginar que, no século 20, a religião floresceria fortemente não na França, mas do outro lado do Oceano Atlântico — no Brasil.
"Embora a França seja o berço do Allan Kardec, o francês médio não sabe que o que é espiritismo", resume o palestrante e escritor espírita Ricardo Ribeiro Alves, em entrevista à BBC News Brasil.
Especialistas dizem que é difícil precisar quantos espíritas existem no mundo, mas parece consenso a constatação de que o Brasil se tornou o país onde o espiritismo mais "deu certo".
Segundo o filósofo e antropólogo Bernardo Lewgoy, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), poucos países registram essa corrente religiosa em seus censos e algumas estimativas incluem simpatizantes e frequentadores ocasionais.
O Conselho Espírita Internacional opta por consolidar estimativas fornecidas pelas federações de cada país. O dado mais recente afirma que há 13 milhões de adeptos do espiritismo no mundo.
Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra o número de espiritas no Brasil desde 1940.
Dados do Censo mais recente, de 2022, constataram que 3,18 milhões de brasileiros seguem o espiritismo — 1,8% da população. A contagem considera pessoas com mais de 10 anos.
Apesar dos números relevantes, a fatia ocupada pelos espíritas no Censo diminuiu em relação ao levantamento de 2010, quando eles representavam 2,2% da população brasileira — e um total absoluto de 3,56 milhões de adeptos.
Entretanto, segundo a Federação Espírita Brasileira, há 30 milhões de brasileiros que simpatizam com a doutrina espírita, mas declaram ter outras religiões.
Embora o cenário recente seja de queda no número de espíritas contabilizados no Brasil, por que o espiritismo deu tão certo aqui e nem tanto em outros países, inclusive na França? E o que explica a considerável queda na última década no Brasil?
Da hostilidade católica à popularização no Brasil
Crédito,Felix Lima/BBC
Legenda da foto,O Livro dos Espíritos lançou as bases de religião criada por Kardec
O pedagogo, professor e tradutor Hippolyte Léon Denizard Rivail inicialmente reagiu com ceticismo às "mesas girantes", encontros mediúnicos que eram moda na França daquele tempo.
Mas, curioso, ele passou a frequentar tais reuniões — e começou a se convencer de os espíritos realmente estavam se comunicando ali.
Em 1857, ele lançou O Livro dos Espíritos, obra que fundamentou as bases do espiritismo. Kardec, no entanto, não acreditava ter criado uma religião, e sim "codificado" a obra dos espíritos através de um método científico.
Ele colocava perguntas sistemáticas aos espíritos e a compilava o que seria essa comunicação. Portanto, colocou no papel observações sobre acontecimentos que já aconteciam antes, como sessões com médiuns e relatos de manifestações de espíritos.
Em sua obra, o francês aglutinou os valores da religiosidade cristã, da ciência e da filosofia daquela Europa do século 19.
No Brasil, o espiritismo teve como marco de chegada 17 de setembro de 1865, há 160 anos.
Naquele dia, ocorreu a primeira sessão espírita no Brasil, em Salvador, liderada pelo jornalista Luís Olimpio Teles de Menezes (1828-1893).
Crédito,DOMÍNIO PÚBLICO
Legenda da foto,Kardec não acreditava ter criado uma religião mas 'codificado' a obra dos espíritos através de um método científico
De acordo com Lewgoy, o frisson inicial ocorreu entre integrantes da elite urbana letrada, principalmente "católicos não dogmáticos".
"Nesse período, o espiritismo era visto pela Igreja [Católica] mais como uma filosofia ameaçadora do que como um concorrente religioso", afirma Lewgoy, autor do livro O Grande Mediador: Chico Xavier e a Cultura Brasileira.
Mas havia hostilidades por parte da dominante Igreja Católica: mesmo de base cristã, os espíritas acreditam em reencarnação e em comunicação com os mortos — crenças que vão de encontro ao catolicismo.
Em um primeiro momento, os dogmáticos católicos aproximaram os kardecistas dos praticantes de religiões africanas — que eram profundamente estigmatizados no século 19.
No entanto, algumas características da prática espírita no Brasil facilitaram sua aceitação, como seu contorno supostamente científico e os privilégios educacionais e sociais da elite branca que predominou entre seus primeiros seguidores.
Nas cinco décadas seguintes à sua chegada, o espiritismo passou a ser reconhecido pela população mais ampla — mais uma vantagem em um ambiente jurídico hostil, ainda dominado pelo catolicismo, de acordo com Lewgoy.
O espiritismo consolidou suas raízes no Brasil com a criação de instituições, a prática de oferecer assistência social e a popularização de livros escritos por médiuns (termo criado por Kardec para designar os "intermediários" entre os vivos e os mortos).
E aí, veio o boom, o crescimento acelerado. Para Lewgoy, isso ocorreu entre 1970 e 2010.
A primeira amostragem do Censo a identificar espíritas registrou 460 mil adeptos em 1940 — saltando para 3,8 milhões em 2010. Foi um avanço de mais de 720%. A população brasileira aumentou nesse período também, mas em menor escala, de 360%.
"Houve uma penetração nas classes médias urbanas, uma sincretização com religiosidades populares e uma concorrência direta com o catolicismo em declínio. A estratégia foi ocupar o vácuo deixado pelos católicos, oferecendo uma forma de modernidade religiosa para as classes médias em ascensão", avalia o antropólogo.
De acordo com ele, com o avanço da urbanização no país, funcionários públicos, professores, militares e profissionais liberais das classes nas cidades encontraram no espiritismo uma "religiosidade ao mesmo tempo 'moderna' e 'respeitável', distinta do catolicismo oficial mas não revolucionária socialmente".
Além disso, o espiritismo foi visto como uma alternativa "racional" e "científica" aos dogmas católicos tradicionais, acrescenta ele.
"O espiritismo brasileiro conseguiu conciliar elementos aparentemente contraditórios: ciência e religião, tradição e modernidade, nacionalismo e universalismo, erudição e popularização. Essa plasticidade foi decisiva para seu enraizamento", aponta Lewgoy.
Autora do livro Afinal, Espiritismo é Religião?, a historiadora e socióloga Célia da Graça Arribas, professora na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), lembra que há até termos que brincam com a adaptação bem-sucedida do espiritismo a um país predominantemente católico, como a existência de pessoas "espiritólicas" ou "catoespíritas".
Ela destaca ainda a mistura do espiritismo com crenças afrobrasileiras, sobretudo a umbanda, e o surgimento de líderes espíritas que contribuíram para "popularizar e tornar nacional a doutrina".
Médiuns famosos como Chico Xavier (1910-2002), Bezerra de Menezes (1831-1900) e Divaldo Franco (1927-2025) conseguiram de certa forma "abrasileirar" o espiritismo.
O palestrante e escritor espírita Ricardo Ribeiro Alves também destaca o sincretismo religioso presente no país e como o espiritismo prosperou nesse terreno.
"Um país como o nosso tem antepassados europeus que trouxeram a Igreja Católica, antepassados negros que da África trouxeram as religiões e os rituais de origem africana, e também a presença do indígena com seus rituais próprios", contextualiza.
Por conta da diferença entre a religião criada por Kardec e suas transformações e interseções com outras religiões no Brasil, é comum que pesquisadores usem o termo "kardecismo", em vez de "espiritismo", para se referir ao espiritismo nascido na França.
Legenda da foto,'Mesa girante' em Leipzig; em países como a Alemanha, sucesso do espiritismo esbarrou no domínio protestante
A doutrina religiosa, contudo, não floresceu com a mesma força em outros países.
Na França, tanto o "laicismo republicano" quanto a "força da Igreja Católica" acabaram por inibir "o desenvolvimento de um espiritismo de massas como o brasileiro", aponta Lewgoy.
Lá, os adeptos continuaram sendo um grupo restrito de intelectuais e membros da elite.
Já em países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, o espiritismo se deparou com o domínio protestante.
"Não havia o mesmo contraste com um catolicismo dominante que, no Brasil, serviu de impulso para o seu crescimento", diz o professor da UFRGS.
Outros países católicos, contudo, são lugares de Igreja mais controladora. É o caso de Itália, Espanha e Portugal.
Nesses lugares, não houve o florescimento — mesmo que sob repressão — de diferentes práticas religiosas como no Brasil, nem o sincretismo que acabou abrindo espaço para a convivência entre crenças e culturas diversas.
Aqui, apesar do controle religioso católico ter sido uma marca desde o início da colonização portuguesa, mesmo no meio dito católico outras práticas conviveram e ainda convivem.
Se já havia espaço e tolerância para benzedeiras, toda a sorte de simpatias e um catolicismo popular não ortodoxo, o espiritismo também conseguiu grassar.
Mesmo em países latino-americanos de história colonial similar à do Brasil, o espiritismo não pegou da mesma forma.
Para Lewgoy, isso ocorreu porque esses lugares não tiveram as condições específicas que favoreceram o espiritismo no Brasil, como o diálogo com o catolicismo popular aberto ao sincretismo e a rapidez em sua institucionalização.
E também o fato de que, em outros locais na região, o espiritismo acabou sendo fortemente rotulado como "bruxaria" ou "ocultismo".
Declínio no Brasil?
De 2010 para cá, os espíritas no Brasil caíram 0,4 pontos percentuais em sua participação no total da população, o que representa cerca de 400 mil praticantes.
Para Lewgoy, o espiritismo está atualmente enfrentando uma "concorrência tripla": a expansão dos evangélicos; a legitimação das religiões afro-brasileiras (ou seja, o seu reconhecimento, aceitação e valorização em certas camadas da sociedade); e a secularização individualista (processo em que a religião se torna menos central na sociedade, que também passa a valorizar cada vez mais o indivíduo em detrimento de vivências coletivas).
"Por muito tempo, essas pessoas se declaravam espíritas porque havia a ideia de se dizer 'espiritismo de umbanda'. Com todo esse debate mais recente de ampliação do letramento racial [maior conhecimento e consciência sobre questões raciais e sobre racismo] e do orgulho que isso gera, essas pessoas têm se identificado mais claramente como umbandistas ou candomblecistas", afirma a professora.
De acordo com o Censo, pessoas que se afirmam praticantes da umbanda e do candomblé saltaram de 0,3% para 1,1% entre 2010 para 2022.
Arribas também avalia que faltam figuras para ocupar o espaço de lideranças carismáticas como Chico Xavier. Essa lacuna acaba se espelhando na indústria cultural, com menor presença do espiritismo em filmes e novelas, aponta.
"A gente tem assistido a uma influência evangélica nesse sentido."
Por fim, Arribas ainda lembra do cenário político atual de polarização no Brasil.
"O avanço do bolsonarismo e da ultradireita expulsou muita gente do espiritismo. Muita gente ficou insatisfeita com posições retrógradas e conservadoras do espiritismo", comenta ela, destacando que pautas vistas como "de direita", como aquelas relativas ao gênero e ao aborto, acabam sendo bandeiras de políticos espíritas.
Como essas pautas vão ao encontro da doutrina espírita mais tradicional, muitos espíritas se identificam com esse espectro político.
Crédito,
VALTER DE PAULA/EM/D.A PRESS
Legenda da foto,
Médiuns famosos como Chico Xavier (1910-2002) ajudaram a popularizar o espiritismo no Brasil; entretanto, especialista aponta para a falta de 'sucessores'
Para Lewgoy, o espiritismo brasileiro vive um momento de invenção de "um novo modelo de religiosidade para o século 21", com "menos fiéis e mais influência, menos instituições de massa e mais impacto cultural".
"O Censo 2022 mostra que o espiritismo brasileiro está vivendo não uma crise, mas uma metamorfose civilizacional", argumenta ele.
Para o professor, o que está mudando é que a religião está deixando de ser nacional e popular, e voltando a ser mais restrita às elites intelectuais, artísticas e profissionais.
"Os espíritas apresentam a maior taxa de ensino superior completo [48%, versus 16% da média nacional, segundo o IBGE], a menor taxa de analfabetismo [1%, versus 6% da média] e o maior percentual de acesso à internet [96%]", cita.
"Controlam um mercado editorial de centenas de editoras e milhares de títulos. Lideram hospitais, instituições assistenciais e redes midiáticas. Influenciam o vocabulário nacional", diz, mencionando termos como "carma", "mediunidade" e "evolução espiritual".
Ainda de acordo com o antropólogo, o espiritismo pode estar "antecipando tendências pós-seculares da religiosidade contemporânea", com maior ênfase nas experiências individuais e na convergência com a ciência.
"Isso não significa que se torne a religião dominante numericamente, mas que influencie as demais com seus valores e práticas. É possível que no futuro as religiões convencionais adotem mais elementos como caridade prática, ecumenismo, diálogo com a academia e interpretação espiritualista da Bíblia, aproximando-se do ethos espírita", diz.
fonte: Edison Veiga -Role, De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil/reprodução 20/09/2025 às 12h:42