“Existe crime em todo lugar, inclusive dentro desta Casa”. Essa frase, dita pelo influenciador Thiago Torres, conhecido como Chavoso da USP na Câmara de São Paulo, desestabilizou e levou à loucura o vereador bolsonarista Rubinho Nunes (União Brasil), e outros representantes da extrema direita durante depoimento na “CPI dos Pancadões”, nesta quinta-feira (28). Além de Chavoso, também participou da sessão o produtor Henrique Alexandre Barros Viana, o “Rato”, da produtora Love Funk.
Presidente da comissão, Rubinho Nunes fez inúmeros ataques diretos na tentativa de acuar e pressionar Thiago Torres, que, sem se intimidar, deu inúmeras respostas que provocaram visível nervosismo nos parlamentares da direita. Em dado momento, Rubinho chegou a ameaçar o jovem com voz de prisão no plenário. Os vídeos viralizaram nas redes sociais.
A chamada “CPI dos Pancadões”, proposta por Rubinho Nunes, tem tentado, desde a instalação, criminalizar o funk e a juventude periférica, associando ao crime organizado.
Rubinho Nunes (União Brasil). (Foto: André Bueno/Câmara Municipal de São Paulo)
Em outro momento da sessão, Rubinho diz que “tem um visão bastante diferente da realidade” de Chavoso da USP. “É porque você não mora na periferia”, respondeu o jovem. Logo após, Rubinho tenta dizer que não é “defensor de criminosos”. “Não? Você defende o Pablo Marçal e o Bolsonaro”, rebateu novamente Thiago Torres.
Em maio deste ano, Rubinho Nunes foi condenado pela Justiça Eleitoral a oito anos de inelegibilidade e teve seu mandato cassado por uso indevido de meios de comunicação. A decisão apontou que Nunes, junto ao candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB), divulgou informações falsas para atacar o então candidato Guilherme Boulos (PSOL), atribuindo a ele acusações sem provas de uso de drogas.
O ICL Notícias conversou com o youtuber e influenciador Chavoso da USP sobre os acontecimentos e a repercussão da sessão da CPI dos Pancadões na quinta-feira (28). “Eu não me senti intimidado, mas era o objetivo dele (Rubinho Nunes) me intimidar e me colocar contra a parede, me incriminar, tentar, inclusive, gerar provas contra mim, fazendo perguntas sem cabimento e querendo induzir respostas”, disse
“Em um determinado momento, o Rubinho chegou a dizer que eu defendia criminosos. Claramente, ele queria me assustar, me amedrontar e me intimidar. Não fiquei assim porque eu estou acostumado a lidar com lixos assim. Eu sou uma pessoa forte e corajosa, estava bem amparado por dois advogados. Mas, claramente, ele tinha esse intuito”, completou Chavoso.
Leia a entrevista com Chavoso da USP
ICL Notícias: Como você sentiu o clima na Câmara durante a sessão da ‘CPI dos Pancadões’?
Chavoso da USP: No começo, estava um pouquinho mais tranquilo, mas foi escalando até aquela confusão generalizada, na qual o Rubinho chegou até mesmo a me ameaçar de prisão. Eu já estava nervoso desde o começo porque acho que a minha própria convocação para aquela CPI não tem o menor cabimento, não tem qualquer sentido. Não sou produtor de baile funk, não sou MC, não sou DJ, não entendi exatamente porque eu fui convocado.

O Rubinho queria tentar se aproveitar da minha imagem para fazer cortes, ganhar seguidores e visibilidade. Mas, felizmente, aconteceu o efeito reverso, eu estou tendo muito mais vantagem do que ele. Desde o começo eu já fui respondendo de forma curta e grossa, principalmente porque as perguntas que ele estava fazendo eram sem cabimento, querendo associar o baile funk ao crime organizado, isso já me incomodou.
A todo momento, acho que teve um clima tenso. Foi aumentando até aquele momento em que eu digo que existe crime em todo lugar, inclusive na política, na Câmara de Vereadores, e aí ele e a Cris Monteiro tiveram um surto psicótico, e as vereadoras de esquerda interviram para me apoiar.
Você se sentiu ameaçado?
Eu não me senti intimidado, mas era o objetivo dele me intimidar e me colocar contra a parede, me incriminar, tentar, inclusive, gerar provas contra mim, fazendo perguntas sem cabimento e querendo induzir respostas. Em um determinado momento, o Rubinho chegou a dizer que eu defendia criminosos. Claramente, ele queria me assustar, me amedrontar e me intimidar. Não fiquei assim porque eu estou acostumado a lidar com lixos assim. Eu sou uma pessoa forte e corajosa, estava bem amparado por dois advogados. Mas, claramente, ele tinha esse intuito, sim.
Considera que você desestabilizou os vereadores da extrema direita?
Sim, com certeza. Eu fiquei muito feliz. Se você ver até o vídeo que eu postei, eu estou dando risada no momento enquanto eles estão histéricos, surtando, eu estava dando risada. Foi impressionante o que causou aquela minha simples frase. Eles realmente ficaram muito desestabilizados e não foi só naquele momento.
Eu cheguei a falar que o crime estava dentro da Prefeitura de São Paulo porque já tiveram empresas investigadas por ligação com o PCC que estavam prestando serviços para a prefeitura. Quando eu falei isso, eles também ficaram furiosos, mas não do mesmo jeito, foi bem menos. Chegaram a me ameaçar, também. Quando fiz essas duas afirmações, impressionantemente eles surtaram.
O engraçado é que eles estavam, a todo momento, associando o baile funk ao crime e aí, quando eu faço o movimento reverso, de jogar para eles, eles se desequilibraram completamente.
Curtiu o resultado?
Eu achei ótimo, o resultado foi ótimo, já ganhei dezenas de milhares de seguidores, todos os cortes que postei estão passando os milhões de visualizações. Está tendo muita repercussão no meio do funk em São Paulo, muitas páginas repostando, funkeiros, DJs me seguindo e parabenizando.
Qual é o balanço que você faz sobre a sessão?
Antes do meu depoimento, de um empresário conhecido como ‘Rato’, que é dono de uma produtora de funk. Teve um contraste muito grande entre o depoimento dele e o meu. Primeiro, ele, na eleição do ano passado, gravou um vídeo com o Pablo Marçal. Quando eu cheguei e vi ele lá para depor, eu falei: ‘Caramba, tá vendo. O cara tava colado com a direita na eleição e agora, a direita está ferrando com ele’. As perguntas que o Rubinho fez para ele foram absurdas, tentando associar o crime com o funk. O ‘Rato’ caiu nas armadilhas do Rubinho, não tava bem preparado e acabou dando corda.
Na sequência, eu virei um pouco desse jogo. Eu consegui colocar eles contra a parede, desestabilizar e pautar o debate. Eles tentavam pautar o debate e eu não deixava, respondia de outra forma, aproveitava o espaço para colocar outras pautas e demandas. Isso também deixou o Rubinho com raiva.
Eu achei ótimo ter conseguido pautar o debate, me aproveitar daquele espaço, que era um circo, um grande teatro da extrema direita, para pautar o que realmente interessa.
Fonte: ICL NOTÍCIAS - 30/08/2025