quinta-feira, 26 de maio de 2011

Bahia: Comunidade Unebiana lamenta morte de Abdias Nascimento

Dr. Abdias(sentado) quando recebeu o título de doutor honoris em 2008 pela UNEB.Foto:Ascom/Uneb

A notícia da morte de Abdias Nascimento, aos 97 anos, no dia 24 no Rio de Janeiro, consternou profundamente a comunidade acadêmica da universidade.

Pioneiro da luta contra o racismo no Brasil, Abdias foi condecorado em 2008 com o título de doutor honoris causa da UNEB, instituição também pioneira em ações afirmativas no país.

“Abdias e o seu ideário de justiça social e igualdade racial jamais serão esquecidos por nossa universidade. Ele será, para sempre, um exemplo a inspirar nossos estudantes, professores e funcionários, na realização de projetos que promovam a dignidade do ser humano”, afirmou o reitor Lourisvaldo Valentim, que enviou mensagem de pesar à família do líder negro.

Na solenidade de outorga do título, no Teatro Castro Alves, com a presença do governador Jaques Wagner, o novo doutor da UNEB emocionou a todos os presentes: “Desde que comecei minha luta, já sonhava em fazer parte desta universidade. Ela ainda nem existia, mas eu já sonhava com ela. E ela era isso que vi aqui: uma universidade do povo, sem elitismo. Que pode viver com o povo, que pode chorar com o povo. Salve o povo brasileiro!”.

A ialorixá Mãe Stella de Oxóssi – outra liderança afro-brasileira reconhecida pela UNEB com o título de doutor honoris causa, em 2009 – foi também surpreendida pela notícia da morte de Abdias Nascimento.

“Ele mobilizou a mocidade negra, é um exemplo de esforço e de resistência. É a figura essencial do movimento”, afirmou a ialorixá.

Segundo informações veiculadas na imprensa, Abdias estava internado em um hospital no Rio desde o mês passado e teria falecido por complicações causadas pelo diabetes.

Seu corpo será velado amanhã (26), a partir das 18h, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Após o velório, o corpo será levado para o crematório da Santa Casa da Misericórdia (RJ). Era desejo de Abdias ser cremado e que as cinzas fossem levadas para a Serra da Barriga, em Alagoas, local do maior centro da resistência negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares.

Luta da vida inteira
Abdias Nascimento nasceu em Franca, interior de São Paulo, em 14 de março de 1914. Foi, além de ator, poeta, artista plástico, diretor e dramaturgo, militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. Foi deputado federal, senador e secretário de estado.

Ele era integrante da Frente Negra Brasileira e criou o Teatro Experimental do Negro (TEN), primeira companhia a promover a inclusão do artista afrodescendente no teatro brasileiro, nos anos de 1940.

Em 2001, ganhou o prêmio Direitos Humanos e Cultura de Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Foi dele a sugestão de instituir o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro desde 2006. Sua defesa dos direitos humanos dos afrodescendentes lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2010.

Também no ano passado, recebeu das mãos do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva a Ordem do Rio Branco, no grau de comendador, a honraria mais alta outorgada pelo governo brasileiro.

Em março deste ano, Abdias esteve entre as lideranças negras convidadas para o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no Rio de Janeiro.

A última homenagem em vida ao ativista negro foi a criação do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, lançado há cerca de 15 dias pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Texto de Toni Vasconcelos da Ascom da UNEB.

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