quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Emprego: Falar errado elimina 90% dos que aspiram vaga em call centers em Salvador

Não precisa acompanhar muito as notícias sobre mercado de trabalho para perceber que a oferta de vagas no setor de telemarketing nunca foi tão grande. Em uma busca rápida em dois órgãos de intermediação de mão de obra em Salvador, Simm e Sinebahia, foi possível encontrar mais de 2,2 mil oportunidades apenas na capital baiana. 
Os motivos? Além da expansão das centrais de atendimento de algumas empresas e da rotatividade da função, falta qualificação profissional. Dados revelam que cerca de 90% dos candidatos são reprovados no processo seletivo para o posto de operador de call center.
A informação é da coordenadora de Recursos Humanos da Contax, Renata Costa. A empresa está contratando para uma nova unidade em Salvador, a ser inaugurada no próximo dia 10, no bairro da Boa Viagem. Renata conta que, em geral, apenas 10% dos entrevistados são aproveitados para o cargo. 
Para ilustrar esse dado, ela faz uma conta: “De 3 mil convocados, apenas dois mil comparecem. Desses, 1,4 mil (70%) perdem na primeira parte da seleção, na triagem. Dos 600 aprovados para a segunda etapa, 120 são reprovados na prova objetiva. Por fim, dos 480 finalistas, 280 são aprovados na dinâmica. Mas 80 não conseguem ser contratados por outros motivos, como falta de documentação. Ou seja: sobram apenas 200”.  

Segmento de telemarketing está em alta na capital baiana. Somente o Simm e o Sinebahia estão comoferta de mais de 2,2 mil vagas.
Gírias  
No Sinebahia,onde 63% dos atendimentos de pré-seleção de novembro foram voltados para vagas de operador de telemarketing, essa taxa de aproveitamento é um pouco maior. Segundo a psicóloga do órgão, Tacianne Rios, das 763 pessoas que fizeram a pré-seleção  este mês, até dia 27, apenas 40% foram aprovados. 
“A maioria dos reprovados tem problema com o Português, fala errado palavras simples, como problema, cliente, bairro”, informa. Além disso, linguagem informal e a utilização de gírias também contribuem para esse baixo índice de aproveitamento. “Os baianos ainda têm um particular, adoram falar no diminutivo, como filhinho, bonitinho”.
Como se pode perceber no exemplo citado pela coordenadora da Contax, a triagem é a etapa mais temida pelos candidatos ou, pelo menos, a que mais reprova os aspirantes do cargo de operador de telemarketing. Mas, o que será que é exigido nessa fase? Renata Costa explica: “Em geral, observamos a dicção, o tom de voz e conhecemos um pouco do candidato”. 

Ela revela que, na triagem, é muito comum pedir ao candidato para ele ler uma frase a fim de avaliar a sua fluência e dicção. “É aí que muitos são reprovados, pois não conseguem falar corretamente palavras simples como problema, cliente e satisfação”, diz, reforçando a experiência da psicóloga do Sinebahia, Tacianne Rios. Ou seja, a maioria não sabe Português.
Além da triagem, o processo seletivo para operadores de telemarketing costuma contar com mais duas etapas: prova objetiva, com questões de Português, Matemática e Raciocínio Verbal, e dinâmica de grupo. “Na última fase, queremos conhecer melhor o candidato. Questionamos, por exemplo,  por que ele quer trabalhar naquela função e na empresa”, adianta Renata Costa. Segundo a coordenadora, a seleção inclui ainda uma dinâmica de vendas. “É aí que identificamos o perfil do candidato”.
Diferentemente de outros cargos, a forma de se vestir não pesa muito. “Como boa parte dos candidatos está em busca do primeiro emprego, não reprovamos por esse quesito. No entanto, caso aprovado, damos um feedback, mostrando a importância de uma boa apresentação pessoal”, diz a psicóloga do Sinebahia.
Perfil 
Em geral, o cargo de teleoperador não exige muitos pré-requisitos. De acordo com o diretor de Recursos Humanos na Atento - que conta com mais de 10 mil funcionários somente na Bahia, Flávio Henrique Ribeiro, em geral, é exigido segundo grau completo, bom vocabulário, boa dicção, fluência verbal, desenvoltura no relacionamento interpessoal, dinamismo, conhecimentos de informática e habilidade em digitação.

“Isso porque esses profissionais atuam em serviços como atendimento ao cliente (SAC), vendas, cobrança, suporte técnico, serviço desk e back office, a partir de múltiplos canais de relacionamento: telefone, email, chat, mídias sociais, entre outros”.
Segundo Ribeiro, por não exigir experiência profissional, as vagas de operador de call costumam atrair jovens que buscam o primeiro emprego. No entanto, o cargo vem ganhando espaço também entre pessoas da Melhor Idade. “São profissionais com mais de 45 anos, que buscam retornar ao mercado”.
Ele revela que, em Salvador, o quadro profissional da Atento é composto por 79% de mulheres. “Este ano, já contratamos mais de 2 mil jovens na categoria de primeiro emprego, temos  400 profissionais na Melhor Idade e 53% de nossos funcionários estão na faixa etária dos 19 a 26 anos”.
Salário 
Os benefícios oferecidos para o cargo também divergem de uma empresa para outra. Em geral, para uma carga horária diária de seis horas e 20 minutos, é pago um salário mínimo, valor que pode ser acrescido de comissão para área de vendas.

Para Mônica Santos, 26 anos, a remuneração não é lá muito atrativa, mas outros benefícios, como planos de saúde e odontológico, vale-refeição, vale-transporte e auxílio-creche, compensam. “Além de carteira assinada e um salário fixo todo mês, o fato de ser apenas meio turno também pesou para que eu me candidatasse”, diz ela, enquanto esperava para participar de seleção para operador de call center no Sinebahia.

Renata começou pelo telemarketing 
Função serve de porta de entrada para o mercadoAlém de não oferecer um salário atrativo, a função de teleoperador é bastante conhecida por ser muito estressante. “Tem hora pra tudo, desde comer até ir ao banheiro. Sem falar de ter que ouvir lamentações o dia inteiro”, brinca a ex-atendente da central de atendimento do INSS Gabriela Costa.

Reclamações à parte, ela, que hoje atua na área de comunicação, admite que a sua passagem pelo segmento serviu, e muito, para seu crescimento profissional e, principalmente, pessoal. “Foi lá que aprendi a ouvir as pessoas e a saber a hora certa de me posicionar”, diz ela, complementando que a função lhe rendeu um casamento, que já dura dez anos, e, consequentemente, dois filhos.
A gerente de contas da Oi e funcionária da Contax, Renata Matos, de 32 anos, também não tem do que reclamar. Foi graças ao segmento de telemarketing que ela se tornou uma administradora pós-graduada na área de gestão de pessoas. “Assim como boa parte dos operadores, comecei com o intuito de ‘passar uma chuva’”. Ela conta que não tinha intenção de fazer carreira, mas as oportunidades foram aparecendo e de uma simples operadora passou a gerente, hoje chefiando uma equipe de mais de mil profissionais, entre coordenadores, supervisores e operadores na Bahia e em Sergipe.
Funcionária na Contax há 13 anos, ela acredita que a função de operador de telemarketing serve como porta de entrada para o mercado de emprego. Para Renata, as pessoas precisam encarar qualquer tipo de trabalho como uma oportunidade para a vida. “Precisamos trabalhar para o nosso próprio crescimento. Dessa forma, a gente dorme melhor, faz melhor. Quando você trabalha apenas para a empresa, você pode se frustrar em algum momento, o que não é legal”, opina ela, que quer “virar diretora”.
Fonte: Reportagem Graciela Alvarez de 05/1/2/13 do CorreiodaBahia/reprodução

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