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Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
O vestibular para Medicina sempre foi o mais concorrido nas universidades públicas. Ao mesmo tempo, o curso costuma ter as mensalidades mais caras nas instituições privadas. Sendo assim, aqueles que não garantem uma colocação boa o suficiente para cursar a graduação gratuita, precisam desembolsar de R$ R$ 4.822,00 a R$ 12 mil por mês, se quiserem estudar em Salvador, para persistirem no sonho de ser bacharel em Medicina.
Esse é o caso dos alunos da Universidade Salvador (Unifacs), que atualmente cobra R$ 8.801,03 mil mensais.
Diante do custo alto, um grupo de pais e mães decidiu se unir no final do ano passado para buscar formas de minimizar essa conta. Formada por iniciativa do engenheiro químico Francisco Bacelar, a Associação de Pais e Estudantes da Unifacs saltou de quatro pais em dezembro de 2018 para 112 filiados em abril de 2019.
O grupo, então, tem procurado a universidade para propor novas formas de financiamento, seja com descontos ou aumento das parcelas, por exemplo, mas ainda não obteve retorno. "Nós não queremos ser inadimplentes, mas queremos encontrar uma forma pra viabilizar financeiramente essa situação. Então, nós levamos várias propostas: abrir uma linha de financiamento, por exemplo. O que nós não podemos é pagar nesse prazo de seis anos com o valor que está sendo posto e com os reajustes que vão sendo aplicados ao longo do curso", critica Bacelar, que afirma ter financiado um imóvel para garantir o pagamento da mensalidade do filho, que está no terceiro semestre da graduação.
De acordo com ele, a Unifacs utiliza o curso de Medicina para financiar todas as outras graduações, sob o argumento de que a instituição foi equipada com materiais e laboratórios específicos para receber as turmas de Medicina.
Campus Professor Barros, onde ocorrem as aulas de Medicina, no bairro do Imbuí
Procurada pelo Bahia Notícias, a universidade não prestou esclarecimentos sobre isso, mas disse que tem mantido uma "comunicação estreita com esse grupo de pais e se sensibiliza com as questões apresentadas".
No entanto, a impressão do outro lado é diferente. Bacelar reconhece que a associação é bem recebida pela universidade, mas afirma que os diálogos não avançam.
Diante disso, antes mesmo de ter a associação formalizada, eles já buscavam outras alternativas. Em dezembro, Bacelar escreveu uma carta ao então presidente Michel Temer (MDB), esclarecendo sua situação financeira e pedindo uma reavaliação sobre a abrangência do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) – atualmente, o programa é voltado para estudantes cuja renda familiar bruta seja de até três salários mínimos por pessoa.
"O que foi feito nos últimos 14, 15 anos foi leilão de dinheiro público. Ou seja, abriu-se universidade daqui até o extremo norte, daqui até o extremo sul e todo mundo que tivesse uma universidade era só botar gente pra dentro e o próprio dono ia fazendo o cadastro no Fies.
Isso inviabilizou praticamente toda a boa intenção de financiamento público da Educação. Com a ascensão de Michel Temer, ele cortou de vez todo tipo de financiamento público e deixou uma parcela. Ou seja, você fazer promoção social com inclusão é bom, só que você não pode virar as costas pra todo mundo", critica o engenheiro. Segundo ele, a Presidência República o encaminhou para um setor específico no Ministério da Educação, mas nenhuma solução foi apontada.
Em situação semelhante à de Bacelar, a auditora Claudine Badaró ocupa o posto de secretária na associação.
Para ela, com o sistema de cotas no ensino público e as altas mensalidades no ensino privado, se criou um grupo de excluídos na classe média. "Hoje nós somos os excluídos porque tem cota – não sou contra, acho que realmente tem que ter –, mas assim, nós temos um salário que não é ruim, mas não temos condições porque pra você tirar R$ 9 milhões, R$ 10 milhões pra pagar uma faculdade, você tem que ter um salário muito bom", ressalta.
Ela também é mãe de um aluno no terceiro semestre.
Todavia, os esforços não foram suficientes para sensibilizar o Poder Público e o grupo agora tem saído em busca de instituições privadas, como o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e o Banco do Nordeste. “Porém, nada disso vai frutificar se a própria universidade não abrir as portas pra sentar e conversar”, cobra Bacelar.
Em nota enviada ao site, a universidade afirma que tem, sim, buscado alternativas de financiamento com instituições financeiras privadas. “A Unifacs reforça que mantém abertos os canais de comunicação com seus estudantes e reafirma seu compromisso com o alunado, sempre primando pela qualidade do curso de Medicina, pautada na legalidade, na transparência e no respeito a toda comunidade”, diz o texto. Na mensagem, a instituição diz ainda que trabalha para preservar a qualidade das suas atividades e cursos, visando os melhores benefícios para os alunos e a sociedade.
fonte:BN/reprodução
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