sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Reflexo da crise: Ford dá folga a 3,5 mil funcionários em Camaçari

                                                                         Foto:reprodução

O Complexo Automotivo Ford em Camaçari paralisou completamente a produção ontem(13) e vai permanecer parado hoje, dando folga para cerca de 3.500 funcionários. Segundo a Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos e Mineradores da Bahia, a situação pode ficar pior se for confirmada a previsão de férias coletivas e até demissões.

A Ford negou a possibilidade apontada pelo sindicato. Em nota, a montadora informou apenas que a paralisação da montagem de carros, entre os dias 12 a 14 de agosto, e da montagem de motores, entre 10 e 14, tem o objetivo de ajustar o ritmo de produção à demanda do mercado.

De acordo com o diretor da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos e Mineradores da Bahia e funcionário da Ford, Júlio Bonfim, apesar de ter fechado um acordo com a categoria quanto ao reajuste salarial e outros benefícios, a fábrica não descarta a possibilidade de haver férias coletivas em setembro e a demissão de 600 funcionários.

“Em julho de 2014 eles quiseram demitir 600 trabalhadores e a gente reagiu. A fábrica voltou atrás e a questão ficou para ser discutida no futuro. Este ano, nas mesas de negociação, houve novamente essa ameaça, mas deixamos bem claro que se houver demissão em massa vamos fazer greve por tempo indeterminado”, garante Bonfim, declarando ainda que o momento é de alerta geral.

Um funcionário da Ford que preferiu não se identificar disse com exclusividade ao CORREIO que o clima na fábrica é de preocupação diante do mercado, já que o acordo firmado entre empresa e funcionários não garante empregos. “São nove turnos de paralisação de produção para adequar os estoques à demanda porque os pátios estão lotados”, diz.

O empregado da linha de montagem final da Ford Cristiano Freitas lembrou que esta não foi a primeira vez que os trabalhadores tiveram folga generalizada no Complexo da empresa em Camaçari. “Em 2008 também houve paralisação de todos os turnos. Na minha opinião, foi uma medida que a fábrica adotou para não haver demissões na época. Mas claro que existe uma preocupação atualmente. As pessoas que sabem que a situação do país está difícil se preocupam se vão conseguir manter seu emprego”, declarou o metalúrgico.

Sistemistas Ainda segundo o representante dos metalúrgicos Júlio Bonfim, são produzidos, em média, mil carros por dia na Ford de Camaçari. Isso significa que em dois dias totalmente parada a fábrica deixou de produzir pelo menos dois mil carros. De acordo com o gerente de Estudos Técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia – Fieb, Ricardo Kawabe, uma paralisação como essa pode atingir outras fábricas fornecedoras de componentes automotivos para a Ford.
“Todo mundo tem que se ajustar ao movimento da empresa-mãe. Então a  tendência é que os sistemistas também precisem reduzir sua produção. Isso não é algo bom, não é o desejável até mesmo pela própria empresa”, analisa.

Arrecadação
 
A crise do setor que vem se aproximando recentemente da Ford em terras baianas tem consequências ainda para a administração pública. Foi o que confirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico de Camaçari, Djalma Machado. 

Segundo ele, a prefeitura deixou de arrecadar quase R$ 700 mil em Imposto Sobre Serviços (ISS) da última vez que a fábrica realizou uma paralisação semelhante a que está acontecendo esta semana. “Todo mundo perde com essa situação. Para o município, há uma perda de receita razoável, já que do ponto de vista de arrecadação é uma relação muito forte que temos com as indústrias do polo. Este ano já houve uma perda de quase 20% na receita em relação a 2014”, informou o secretário.

Cenário
 
Para Ricardo Kawabe, a situação da montadora é consequência do cenário econômico instável. “Em uma crise de confiança, os setores que dependem de financiamentos sofrem bastante. Daí a queda tão forte das vendas este ano no setor de veículos”, pontua. Sobre a solução para os problemas do setor, Kawabe aponta que o socorro não deve ser imediato: “Por enquanto não estamos enxergando uma retomada expressiva da economia. Acredito que a situação vai permanecer fria pelo menos até o primeiro semestre do ano que vem”. 

Montadora definiu reajuste salarial para trabalhadores esta semana
 
Apesar da possibilidade de demissões e férias coletivas, a situação dos funcionários da Ford em Camaçari não é das piores. É o que analisa o secretário de Desenvolvimento Econômico de Camaçari, Djalma Machado. “O cenário de Camaçari ainda está em equilíbrio em relação ao restante do país. Enquanto outros polos estão sentindo muito mais a crise, o polo de Camaçari está produzindo e exportando”, afirma.

Na contramão da crise, esta semana, a Ford de Camaçari fechou acordo com os funcionários para reajustes de salário, Participação nos Lucros e Resultados - PLR, abono, vale-refeição e jornada de trabalho de 40 horas semanais, sem redução prevista para 2015 e 2016.

“Garantimos um aumento real e fechamos a maior data-base do Brasil, 10% de aumento em 2015 e mais meio por cento para 2016. Além disso, teremos o pagamento do abono que nas outras montadoras do país já está cancelado há mais de cinco anos”, comemora o diretor da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos e Mineradores da Bahia, Júlio Bonfim. 

Em todo o Brasil, o setor contribui para o aumento do número de desempregados com demissões que já somam 8,8 mil de janeiro a julho, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea. Em São José dos Campos-SP, a fábrica da General Motors já demitiu mais de 500 trabalhadores, o que representa quase 10% do quadro. Em Taubaté, também em São Paulo, funcionários da Volkswagen recusaram a proposta de congelamento de salários e antecipação de aposentadorias e anunciaram estado de greve.

Ontem e hoje, os cerca de 5 mil trabalhadores da unidade que produz os modelos Up, Voyage e Gol estão de folga, também para adequar a produção à demanda. Na fábrica de São Bernardo do Campo-SP, a Volks estuda aproveitar o feriado de aniversário da cidade, no dia 20, e parar a produção dos modelos Gol e Parati. Na Fiat, em Betim-MG, três mil funcionários vão entrar em férias coletivas pela quarta vez no ano, por 20 dias, a partir do dia 24.

Fonte:CorreiodaBahia

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