sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Caso Lucas Terra: 'Ele foi vencido pela impunidade', diz viúva de Carlos Terra


foto:reprodução
Desde que soube da morte do filho, em março de 2001, Carlos Terra, 65 anos, não fez outra coisa: passou quase 18 anos correndo atrás de justiça. Não queria que a morte de Lucas, encontrado carbonizado aos 14 anos, em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama, em março de 2001, virasse só mais uma estatística. Queria os três acusados - um pastor e dois bispos, da Igreja Universal do Reino de Deus -, presos. Enquanto não conseguisse isso, não sossegaria. Mas, segundo a mulher, Marion Terra, Carlos acabou "vencido pela impunidade".
Ele morreu, após uma parada respiratória, provocada com o agravamento de um quadro de cirrose hepática, no Hospital Geral Ernesto Simões, no bairro Pau Miúdo, em Salvador, quinta-feira (21). O corpo será enterrado nesta sexta (22), 14h30, na sala 3 do Cemitério Bosque da Paz.
"Ele já estava doente, mas o que fez ele ficar pior foi a última decisão da justiça. A impunidade matou ele. Carlos foi vencido pela impunidade", diz, entre lágrimas, a viúva Marion Terra. A família estava na Itália quando o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou a decisão que indicou o envolvimento dos ex-bispos Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo de Souza na morte do jovem Lucas Terra.
"Ele já tinha passado dez dias internado na Itália e depois dessa decisão decidimos voltar. Ele voltou abatido, tomado por um desânimo, com um desespero por não ver a justiça sendo feita. Em 19 dias, ele perdeu 16 quilos, ficou em estado de subnutrição. Passou mais dez dias internado aqui, mas desde dezembro ele tinha conseguido uma melhora e piorou na última terça-feira", conta a viúva.
Ainda segundo Marion, durante o período que esteve bem de saúde, Carlos não desistiu do seu propósito de garantir que os responsáveis pela morte do filho fossem todos presos. "Ele enviou cartas para todos os minitros do STF, incluindo Lewandowski. Também mandou carta para a procuradora-geral Raquel Dodge", conta.
Além da dor da perda, o que mais pesa para Marion nesse momento é ver o marido partir sem ter vencido a batalha que ele travou diariamente nos últimos 18 anos. Na ocasião do crime, os exames comprovaram que o jovem foi abusado sexualmente e queimado vivo. "Minha dor é saber que ele morreu sem ver a justiça ser feita. Mas eu vou estar aqui e não vou permitir que a luta dele tenha sido em vão. Eu vou lutar até o meu último dia por justiça", diz Marion, ressaltando que, na busca por justiça Carlos abriu mão de cuidar dele e da saúde.
 Apenas o ex-pastor Silvio Roberto Galiza foi condenado a 18 anos em regime fechado por ter estuprado e assassinado o garoto. O motivo do crime, segundo contou em depoimento, foi porque Lucas flagrou os ex-bispos Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo de Souza fazendo sexo dentro da igreja. A versão é contestada por Joel e Fernando.
Lucas foi abusado sexualmente e queimado vivo, em 2001 (Foto: Reprodução/TV Bahia)
Silvio teve a pena reduzida para 15 anos e, passou a cumprir a pena em regime aberto em 2012. Em novembro de 2013, a juíza Gelzi Almeida havia inocentado os ex-bispos. A família de Lucas recorreu e, em setembro de 2015, o Recurso de Apelação foi julgado pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Os desembargadores decidiram, por unanimidade, que os dois religiosos fossem à juri popular. Foi então a vez da defesa dos ex-bispos recorrerem.
Luta por justiça

Lucas Vargas Terra tinha 14 anos quando foi abusado sexualmente e queimado ainda vivo por ex-bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio Vermelho, na noite de 21 de março de 2001. O garoto havia saído de casa para um culto religioso realizado pelo bispo Silvio Roberto Galiza quando desapareceu.

Os restos de Lucas foram encontrados dentro de um caixote na Avenida Vasco da Gama e ficaram 43 dias no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues enquanto aguardavam a realização de exames de DNA. Para a família, porém, não restava dúvidas. O corpo havia sido reconhecido por um pedaço da calça usado pelo jovem ao sair de casa e por uma pequena mecha de cabelo que resistiu intacta à brutalidade.
O dia do sepultamento, quase dois meses após o crime, foi a primeira vez que a imagem do adolescente foi publicada no CORREIO. Os inúmeros cartazes e faixas espalhadas por Salvador com a foto de Lucas seriam a marca da luta de Carlos Terra, pai do garoto, pela condenação dos ex-bispos.
fonte:Correio da Bahia/ 22/02/19 - 13:16min.

0 comentários:

Postar um comentário