foto:Arquivo pessoal e acorda cidade/reprodução
Quando o industriário Edilberto Lopes Batista, 51 anos, saiu de casa, nesta quarta-feira (13), ele não imaginava o que aconteceria horas depois. Ele tinha um exame de endoscopia agendado no Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo (Idad), em Feira de Santana, mas não saiu de lá com vida.
O plano de Edilberto era sair do procedimento e ir direto para o trabalho, mas sofreu complicações durante o exame e morreu na clínica. Depois disso, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ainda pegou o corpo do industriário, levou para a casa onde ele morava e o deixou em cima do sofá da sala.
A família ficou revoltada com a situação. Filha mais velha do paciente, a estudante de enfermagem Naila Lopes, 28, acompanhava o pai durante o exame, quando notou uma movimentação estranha, com "muitos médicos entrando e saindo na sala do exame”.
Por conta da experiência com enfermagem, ela desconfiou que alguma coisa poderia ter acontecido com o pai e perguntou o que estava acontecendo, mas os profissionais da clínica disseram que "socorriam uma funcionária que havia se sentido mal".
Dez minutos depois, segundo conta Naila, médicos do Samu chegaram à clínica e foram para dentro da sala com um desfibrilador. Assustada, a menina temeu que algo tivesse acontecido com seu pai e tentou invadir a sala do exame, mas foi contida por funcionários da clínica.
Na tentativa de acalmar a filha do paciente, os médicos informaram que Edilberto sofreu um edema de glote, mas que tinha sido reanimado e a situação estava sob controle. Eles pediram, ainda, que ela chamasse algum outro familiar para fazer companhia a ela na unidade. Nervosa, Naila ligou para uma prima e relatou o ocorrido. Pouco depois, a parente chegou à clínica e as duas foram informadas sobre a morte.
“Falaram que tentaram reanimar por mais de uma hora e que ele morreu. Depois me deram as costas”, desabafou a estudante.
Com a morte confirmada, Naila tentou invadir o consultório mais uma vez e se deparou com o corpo do pai, morto e ainda com o tubo da endoscopia na garganta.
“Eu vi meu pai com o corpo todo inchado e uma vermelhidão enorme no tórax. Eu que tirei todos os acessos de meu pai e vi”, contou ela, ao CORREIO, por telefone.
Corpo largado no sofá
Depois de passar por esse trauma, Naila ainda foi informada de que o corpo do pai não poderia ficar no consultório e que ela teria de levá-lo, sem vida, para casa, com auxílio de uma ambulância do Samu.
O corpo de Edilberto foi colocado em uma cadeira de rodas e foi levado para casa onde morava. No local, estava, a viúva da vítima e as outras filhas do casal, de 12 e 13 anos. Sem maiores informações, a equipe médica pegou o corpo do paciente, deixou no sofá.
“O corpo sem vida de meu pai ficou quase 6h no sofá de casa”, contou a filha mais velha.
O irmão de Edilberto, Miguel Arcanjo Batista, também estava bastante abatido com toda a situação. “Deixaram lá como se fosse um qualquer, um indigente”, lamentou.
O corpo do industriário só foi removido do local quando familiares acionaram a polícia.
Surpresos com o atestado de óbito, cujo laudo apontava "morte por causa indeterminada", eles procuraram a Polícia Civil e pediram ajuda. Uma equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Feira de Santana foi até o apartamento e fez a remoção do cadáver para o Instituto Médico Legal (IML).
Prevendo que o corpo ficaria endurecido após a morte, Naila imobilizou o pai com lençóis para que ele pudesse ser colocado em um caixão - caso ela não fizesse isso, seria necessário quebrar ossos da vítima para que ele coubesse na estrutura.
Edilberto foi enterrado na última quinta-feira (14), no Cemitério São João Batista, em Feira de Santana.
Testemunhas, familiares, funcionários da clínica e do Samu serão ouvidos na próxima segunda-feira (18). Investigação
Em nota, a Polícia Civil afirmou que a delegada Bianca Torres, titular da 2ª Delegacia Territorial de Feira de Santana, é a responsável por investigar o caso. Um laudo de necropsia foi solicitado para apurar as causas da morte de Edilberto.
O CORREIO entrou em contato com a clínica onde tudo aconteceu. Através de nota, a Idad afirmou que a endoscopia à qual Edilberto foi submetido "foi concluída sem intercorrências e após a realização do exame a vítima teve um quadro súbito e atípico de parada cardiorrespiratória, sem causa aparente”.
A versão é contestada pela família e a filha mais velha, que encontrou o pai morto, no local, ainda com o tubo da endoscopia, o que indica que as complicações aconteceram durante o procedimento.
Confira a íntegra da nota divulgada pelo Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo:
“O IDAD - Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo, informa que o paciente Edilberto Lopes Batista, compareceu voluntariamente, no dia 13 de fevereiro de 2019, para realização de Endoscopia Digestiva Alta, a qual foi realizada e concluída sem intercorrências, vindo a apresentar após a realização da mesma, quadro súbito e atípico de parada cardiorrespiratória, sem causa aparente.
Foram implementadas medidas de ressuscitação cardiopulmonar de imediato e paralelamente comunicado ao SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Emergência, que ao chegar deu continuidade ao atendimento, sem êxito.
O IDAD, vem através desta, externar solidariedade aos familiares e se coloca à disposição para maiores esclarecimentos que se façam necessários.
Atenciosamente,
A direção".
Prefeitura de feira afasta equipe do SAMU
Secretaria Municipal de Saúde instaurou uma sindicância para apurar o procedimento de uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) em relação a condução do corpo do industriário Edilberto Lopes Batista, de 51 anos. Ele morreu ao ser submetido a um exame de endoscopia, em uma clínica particular da cidade, e o corpo foi levado pelo Samu para a residência da família.
Segundo a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom), enquanto acontece a apuração do ocorrido, a Secretaria de Saúde decidiu afastar a equipe que esteve na clínica e adotou o procedimento que vem sendo questionado. “Não estamos penalizando ninguém. Por enquanto, há um fato a ser apurado e não se pode afirmar que a conduta tenha sido certa ou errada”, informou a secretária Denise Mascarenhas.
Ainda segundo a Secom, comissão de sindicância é formada por cinco pessoas integrantes da Secretaria de Saúde e tem prazo de 30 dias para apresentar relatório com as conclusões sobre o caso. Familiares do industriário reclamam da atitude da equipe médica, entendendo que o corpo não deveria ter sido levado para a residência – eles acreditam que a morte não foi por “causas naturais”.
Ainda segundo a Secom, comissão de sindicância é formada por cinco pessoas integrantes da Secretaria de Saúde e tem prazo de 30 dias para apresentar relatório com as conclusões sobre o caso. Familiares do industriário reclamam da atitude da equipe médica, entendendo que o corpo não deveria ter sido levado para a residência – eles acreditam que a morte não foi por “causas naturais”.
Fonte:Acorda cidade e site Correio da Bahia/Vinicus Nascimento Com supervisão da subeditora Fernanda Varela
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