terça-feira, 18 de outubro de 2022

Na Bahia: Formar em Medicina pode custar quase R$ 1 milhão

 

                                             Imagem:reprodução


Nesta terça-feira (18) é Dia do Médico. Mas os futuros profissionais de medicina da Bahia que não estudam em universidades públicas têm pouco para comemorar e muito boleto para dar conta. Em instituições privadas do estado, se formar no curso pode custar quase R$ 1 milhão para o estudante no seu período de graduação. 

Na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Salvador, instituição com os pagamentos mais altos entre as apuradas pela reportagem, a mensalidade custa, atualmente, R$ 12.835,46. Em um semestre, o aluno desembolsa R$ 77.012,76. Considerando que o curso tem 12 semestres para formação, sair médico custaria R$ 924.153,12 caso a mensalidade não apresente qualquer aumento durante os seis anos de estudo.

Outras instituições na Bahia também apresentam cifras altas para o curso de Medicina. A Unifacs vem na segunda colocação do ranking, com R$ 10.975 de mensalidade. Em terceiro lugar, está a Unime, também na capital, cobrando R$ 9.899,00 com desconto de pontualidade no pagamento. A UniFTC não comentou o motivo do valor quando procurada. Já a Unime respondeu destacando que “utiliza metodologias ativas e insere o acadêmico na rede de saúde desde o início do curso”.

Ainda de acordo com a nota da Unime, a instituição apresenta diferenciais em relação a outras. “A unidade dispõe de um Complexo de Saúde localizado no Centro Universitário, convênio com instituições públicas e privadas, além de tecnologia de simuladores de alta fidelidade e professores qualificados, com alto grau de formação acadêmica e atuantes no mercado de trabalho”, completa.

Mariana Carolina Vilas-Boas, 27, se formou em 2020. Ela fez Unifacs através do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e afirma que os preços prejudicam a saúde financeira de quem está no curso e restringem o acesso a poucas pessoas. De acordo com ela, o preço da mensalidade no primeiro semestre não se compara ao pago no décimo segundo.

“Quando você entra na faculdade, existe um valor inicial. Porém, até você se formar, pelo menos R$ 3 mil vai aumentar na sua mensalidade. Entrei com a mensalidade em R$ 6 mil e, quando saí em 2020, estava em mais de R$ 9 mil. [...] Se não fosse pelo FIES, não teria condição de arcar com um valor tão exorbitante na minha formação”, conta ela, atualmente em período de residência médica. 

Uma estudante, que prefere não se identificar e faz o mesmo curso na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), concorda que os preços machucam o bolso. Ela acrescenta ainda o fato de não poder trabalhar para arcar com parte do valor, dificultando mais o processo de formação. “Estudo na Bahiana, que cobra R$ 5.900,00, e é a mais barata entre as privadas, mas mesmo assim é muito pesada por custos extras com materiais e cursos externos”.

No interior do estado, os preços também são altos. A Faculdade Ages de Medicina (FAM), de Jacobina, cobra mensalidade de R$ R$ 9.687. A mesma instituição, em Irecê, tem custo mensal de R$ 8.919. Na Faculdade de Saúde Santo Agostinho (FASA), em Vitória da Conquista, o valor é de R$ 9.400,55. Na Pitágoras, em Eunápolis, R$ 8.998,00.

Quando o dinheiro volta?


Para o estudante João Aragão, 24, no sétimo semestre da FTC, as cifras elevadas causam o trancamento por parte de alguns alunos. Mesmo quem fica, tem a preocupação de quando pode recuperar o investimento. 

“Como tenho FIES, pago apenas o que o financiamento não cobre relativo ao valor da minha faculdade. Ou seja, hoje fazer Medicina me custa R$ 2.350 por mês. O valor que sobra, de R$ 8.800, preciso pagar depois. Já é uma preocupação que vai ser dividida em vários anos de parcelas”, lamenta.

Essa etapa já chegou na vida de Mariana, que ganha cerca de R$ 3.500 na residência médica em que atua no momento. As parcelas do FIES, divididas em 18 anos, já precisam ser pagas e são de R$ 3.000. “Mesmo enquanto médica, arcar com o valor que o FIES cobra mensalmente é um desafio. É um valor que fica ajustado diante dessa responsabilidade com o financiamento. O peso nesse período ainda fica no colo dos pais. Entendo que é um curso caro, que os materiais têm custo para faculdade, mas não consigo conceber valores tão altos”. 

O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb-BA) foi procurado para falar sobre os preços, mas afirmou que não tem gestão sobre as faculdades e que atua só na fiscalização contra abertura de instituições de ensino de Medicina.

O Cremeb informou ainda que não tem dados sobre endividamento de médicos com o FIES no estado. A Associação Médica Brasileira da Bahia (AMB-BA) também foi acionada para comentar os valores. No entanto, não respondeu sobre assunto até o fechamento desta reportagem.

Para quem não consegue arcar com as mensalidades das instituições privadas e não tem acesso ao FIES, a opção é ir atrás das universidades públicas. Na Bahia, com curso de Medicina, existem sete opções espalhadas pela capital e interior. Confira: 

  • UFBA - Salvador - 128 vagas
  • UESC - Itabuna/Ilhéus - 42 vagas
  • UFOB - Barreiras - 40 vagas
  • UFBA - Vitória da Conquista - 36 vagas
  • UEFS - Feira de Santana - 35 vagas
  • UESB - Vitória da Conquista - 33 vagas
  • UNEB - Salvador - 30 vagas

Rankings das faculdades com mensalidades mais altas:

  • Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) - Salvador - R$ 12.835,46
  • Universidade Salvador (Unifacs) - Salvador - R$ 10.975,00
  • Unime - Salvador - R$ 9.899,00
  • Faculdade Ages de Medicina (FAM) - Jacobina - R$ 9.687,00
  • Faculdade de Saúde Santo Agostinho (FASA) - Vitória da Conquista - R$ 9.400,55
  • Pitágoras - Eunápolis - R$ 8.998,00
  • Faculdade Ages de Medicina (FAM) - Irecê - R$ 8.919,00
  • Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - Salvador - R$ 5.900,00
Fonte: CORREIO DA BAHIA/REPRODUÇÃO - 18/10/2022

 

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